domingo, 5 de maio de 2024

A guerra de narrativas

 A linguagem foi o fator primordial para evolução humana, o desenvolvimento do homem se deu através das palavras. O balbuciar primitivo e grunhindos dos neandertais, as primeiras formas rudimentares de comunicação do homem sapiens, além de suas representações pictóricas demonstram a necessidade de sobrevivência em um planeta hostil. Isso faz de nós seres dependentes de uma convivência coletiva, baseada na troca de conhecimentos e informações, mas antes de tudo humanos dotados de uma capacidade inventiva, criativa pautados principalmente na conversação. O falar trata-se de uma caracteristica própria dos homens, e é desse falar, dessa conversação que se descortina toda linguagem com suas palavras, sons, gestos, signos e símbolos.  Por isso, a linguagem assume esse caráter dinâmico e mutável, que no tempo rompe barreiras e então se espraia  no tecido social. Observa-se nela uma certa liquidez, talvez uma necessidade incontrolável de expansão, como ocorre com a fluidez da água. Assim, dizemos: palavras são líquidas e mudam conforme o tempo e o espaço. 

As palavras formam textos,constrõem linguagens e servem de armas para dominação cultural. Permitem assim, as palavras desenvolvam narrativas - ou seja - fatos, histórias e discursos (muitas vezes vazios) na tentativa de apropriação da palavra do outro. Tal apropriação trata-se da dominação via um discurso a qual prevalece o excesso de símbolos, sendo uma exacerbação semiótica em detrimento da semântica - em suma -  do sentido (significado).  Pois é dessa maneira que atua a dominação cultural, ao corroer lentamente por fora e depois ao avançar de forma sorrateira o interior das culturas dominadas. Nem sempre essa dominação foi pacífica - ao contrário - culminou em  guerras com batalhas sangrentas.  

A exemplo, a dominação cultural do outro que se fez por meio da apropriação de símbolos foi visível no período da 2ª guerra mundial, quando a Alemanha toma de assalto as representações pictóricas orientais e subverte seu significado. A suástica - um símbolo religioso dos hinduistas e budistas, cujo siginificado representa a felicidade e sorte -  sob o dominio da Alemanha nazista tornou um sinal de horror, medo, destruição. Construi-se aí uma nova narrativa para o mesmo símbolo, o que era antes um sinal de paz e amor;  na mão outro virou um sinal de guerra e dominação. Trata-se da mais pura subversão do discurso, mote para aniquilar o outro. Esse modelo de narrativas, se assim podemos chamar pelo fato de não encontrar um termo melhor, ao longo do tempo se sofisticou enormente com o avanço das tecnologias midiáticas, principalmente com a TV e depois a internet. 

Pois, a aniquilação do discurso proveniente da proliferação das narrativas abrem precendentes para aquilo que denominaremos aqui de pós-verdade. Em primeiro lugar, a pós-verdade não trata-se de uma mentira, que contada mil vezes torna-se uma verdade, como afirmam os meios políticos. A pós-verdade é um termo genuinamente originado dessa era contemporânea criado para subverter a realidade, que utiliza-se dos meios midiaticos e tecnológicos da redes sociais para disseminação de algo que chamamos de fake news, ou melhor, notícias falsas. A intenção dessas fakes news vai muito além de gerar simples audiência, seu objetivo maior está na cultura do cancelamento ou seja, uma forma de destruir a narrativa do outro. Declarar uma guerra de narrativas com vista para acabar com a reputação do inimigo. 

Muito estranho é ver que o dito inimigo, o outro na verdade não existe é apenas um fantasma. Caso exista, deve ser aniquilado atravès de uma contra-narrativa. Bem, tudo não passa de uma batalha de egos feridos, vaidades e busca pelo poder. O que se deseja é um pensamento unificado, unilateral, sem qualquer polaridade. Já que a polaridade na visão da narrativas quebram o discurso do dominador e impede sua hegemonia de poder. Impelir um discurso sem contraponto, cuja opinião do outro é desconsiderada e não reconhecida fecha-se numa narrativa única e portanto desastrosa. O não ouvir o diferente, em que prevalece o falar e escutar apenas para si mesmo e o seus iguais desqualifica o lugar de fala, sendo que não enxerga o outro. Quando, coloca-se no direito de lugar de fala apenas aquele que detêm o cartão de oprimido recaí-se no identitarismo, na identidade idem - ou seja -  na identidade dos iguais. Fator este que em nada agrega na convivência real entre os diferentes, ficando assim no âmbito da individualidade. Em nada ajuda na cosntrução coletiva. 

As narrativas para que sejam de fato elementos agregadores e de construção de um pensamento coletivo precisam, antes de tudo, estar abertas aos dialógo e transistar por disntintas arenas sociais, políticas, econômicas e culturais. Mais uma vez sobre a guerra de narrativas, não temos com fugir, é uma batalha própia de nossa era contemporânea que tutiliza-se de armas poderosas, talvez mais destrutivas que bombas atômicas por destruírem reputações, devastrarem governos e pessoas. Enfim, nessa guerra nefasta prevalecem as melhores narrativas e vencem aqueles que controlam as massas, dominam os meios de comunicação. Portanto, a necessidade de se jogar o jogo da lingugem, diga-se uma linguagem suja, enviesada e pronta para desarmar qualquer um que ousar tentar tomar-lhe o poder. 

Diante de tudo isso, a tecnologia através de seus mecanismos de Inteligência Artificial (IA) já estão reproduzindo narrativas devidamente empacotadas e embaladas ao gosto do cliente. Grandes plataformas e redes sociais servem um amplo cardápio num discurso pronto e acabado para aqueles que anseiam pelo desejo de um falso poder.  A informação há um bom tempodeixou de ser sinónimo de poder. Agora a grande vedete do poder é a maquinaria e seu uso pelo capitalismo - focado em narrativas, que tem por dentro um discurso ensaiado e dominante - para alienar a sociedade e transformando-a em seres zumbificados, presos numa realidade paralela. Com isso, mídia, governoe grandes corporações travam uma guerra de "doces" narrativas para prender a atenção contínua de seus espctadores, simplórios consumidores da sociedade do espetáculo "debordiano", ou mesmo seres gadificados prontos para o abate. 

sábado, 13 de abril de 2024

A cidade e seus caprichos

Algum tempo atrás eu havia feito um pequeno texto sobre a cidade que encontra-se no meu livro: "Desconexão do mundo contemporâneo: narrativas em economia-política. Então, faço agora um retorno ao assunto com maiores destaques para algumas minúcias que não foram abordadas anteriores. Dessa  maneira, eu introduzo com uma importante parte da letra da música "A cidade" do saudoso Chico Science da banda Nação Zumbi. Assim diz ele que: "A cidade não para, a cidade só cresce, o de cia sobe e o debaixo desce... A cidade até está mais ou menos, uns com mais e outros com menos... A cidade encontra-se cada vez mais prostituída..." Essa é a realidade de nossas cidades neste Brasil gigante, crescimento desordenado, falta de planejamento público, aumento vetiginoso da violência e da insegurança na ruas, espaços púlicos tomados por usuarios de drogas e pessoas sem tetos que sobrevivem nas ruas e debaixos das marquises e viadutos. A cidade divide-se naqueles que se abrigam nos morros das favelas, cortiços e construções precárias de uma zona leste qualquer, enquanto nos condominios de luxos e mansões da zona sul imperam a riqueza e a opulência dos donos da cidade, dos imperadores e reis do capital. O avanço da especulação imobiliária que a gera a gentrificação, em que os imóveis antigos e os aluguéis baratos deixam de existir e assim expulsam os menos afortunados, numa migração forçada para as periferias e bairros distantes. No entanto, outros problemas aparecem com o crescimento desordenado das cidades. Aqui podemos exemplificar a mobilidade urbana, como conceito intimamente ligado ao caminhar, ao transitar pelas vias da cidade, isso nos dá ideia de uma rede, um sistema que envolve fluxos e contrafluxos numa distribuição dinâmica de toda infrastrutura viária. A mobilidade urbana teoricamente seria o caminho lógico de uma infraestrutura viária para que as pessoas pudessem se locomover nos arredores centrais da pólis. Porém, as vias disputam máquinas e homens numa batalha ferrenha, cujos homens sempre perdem. Vencem as máquinas. Do outro lado, há aqueles alijados do espaço público urbano, quando não vivem nas ruas, se amonatoam nos assentamentos precários marcados pela insegurança, pobreza, desemprego e todo tipo mazela social, A mais completa falta de dignidade humana. Fator esse que denominamos vulnerabilidade social, justamente pela dificuldade de acesso aos recursos básicos de higiene e renda. Essa divisão dos lugares citadinos provêm de uma certa segregação espacial histórica dotada de preconceitos, exploração e a manutenção de privilégios de algumas poucas famílias herdeiras do antigo patriarcado, que não deseja a mudança do  status quo. Por isso, cabe-nos reinvindicar o espaço da cidade, primeiro por pertenecer ao povo, ao coletivo. É aí que entra a noção  de comum, sendo aquilo que é de todos. O espaço urbano pertence ao seu Zé, a dona Maria e ao povo que nele habita, dado que se trata de uma construção social, histórica, justamente por estabelecer aspectos de conexão entre os individuos e grupos. E ao mesmo tempo a cidade, em seu aspecto físico, torna-se uma geradora de conflitos devido ás enormes diferenças culturais, sociais e econômicas. A partir deste ponto, vai carecer de planejamento e gestão para pelo menos atenuar tais conflitos, produto de uma segregação espacial subsidiada pelo avanço do capital. Digo então, a segregação espacial  jamais deveria ser enxergada com as lentes da normalidade, se o espaço da cidade pertence ao âmbito do coletivo. Qualquer cisão passa a ser uma afronta aos direitos e a liberdade das pessoas. Andar pelas calçadas e vias do espaço urbano e não ser agredido, apedrejado ou atropelado por máquinas, animais ou seres humanos consta como uma liberdade, um direito mínimo. Mas também, abolir as desigualdades entre áreas nobres e periferia - que talvez para muitos pareça um sonho utópico marxista, ou talvez coisa de comunista - na verdade poderia ser feito com vontade política, enfim o direito a dignidade humana contempla toda sociedade e inclui o indivíduo. As políticas públicas pertencem a todos, assim como a cidade e devem mitigar o caos e prever a locomoção e o bem-estar. A exemplo, ciar corredores que permitam o fluxo do trânsito caótico, investir em novos modais de transporte público mais eficazes, principalmente aqueles que atendam as necessidades dos residentes dos bairros periféricos por despenderem de maiores gastos em condução. O que de fato irá produzir efeto nas políticas públicas do espaço urbano será a participação democrática nas arenas públicas - como área de ação e decisão de embate público e social  -  visando a construção de uma governança dotada de uma rede de organizações, instituições e atores para agirem num processo interativo de tomada de decisões. A construção do espaço urbano se faz por meio de uma trama enredada por diversos atores sociais que tem comum um plano diretor, cuja finalidade está na setorização da cidade e nas melhores práticas da políticas públicas que possam vencer os velhos problemas decorrentes do tempo. Agora, querer entregar concessões e privatizar serviços básicos ou mesmo essenciais à iniciativa privada - por achar que o problema será solucionado - é a completa destruição das instituições republicanas e democráticas. Pois, é não compreender que o bem público pertence a população, nesse mesmo sentido a cidade e seus espaços são do povo e jamais devem ser mercadorizadas. Não se coloca preço nos recursos naturais; àgua, o ar, o fogo,a terra é livre e coletiva. O mesmo ocorre com o saber e o conhecimento, frutos do compartilhamento e do uso que são impagáveis.      

sábado, 9 de março de 2024

Precisamos reencantar o mundo desencantado do capital

Uma simples compreensão do ato de pensar, enquanto unidade da consciência humana nos diferencia de todo o resto do reino animal. Neste mundo animal, não somos o mais forte, o mais ágil, nem sequer estariamos de fato preparados para sobriver às graves mudanças climáticas que ainda estão por vir.  Talvez, sejamos um mero acaso probalistísco, uma aleatoriedade do grande caldo fervente e fusão de gases que deu origem ao planeta e suas primeiras origens de vida.  O ser humano, essa massa complexa que em seu nascer não tem qualquer habilidade para sobreviver neste planeta hóstil e perigoso. No entanto, estamos aqui vivendo a milhares de anos, por uma única razão, a capacidade de criarmos laços afetivos, ou seja, pelo fato de viver em comunidade e pertencermos a uma tribo. Isso faz de nós seres sociais e culturais, devido a linguagem e comunicação. Portanto, a ideia de uma vida individual e solitária marcaria totalmente a nossa extinção. A pretensão deste artigo não é fazer uma análise histórica-evolutiva do homem no tempo, mas sim entender como a evolução humana trouxe na linha do tempo as enormes disparidades socioeconômicos que afetam o planeta. Anteriormente, dissemos que a humanidade vingaria somente se houvesse o trabalho coletivo, ou melhor, o viver em comunidade. Essa coletividade pautada no pensamento de grupo permitiu a evolução  do ser humano e suas habilidades em construir objetos e ferramentas, armas rudimentares e principalmente a manipulação do fogo. No entanto, o cuidar uns dos outros demonstra o poder de sobrevivência da raça humana. No momento, que o homem transita da vida nômade para se fixar é o divisor de águas  para as primeiras sociedades primitivas. Como já sabemos, a partir deste momento aparecerá as máquinas, ferramentas, instrumentos e todo tipo de inovação tecnológica, assim como as regras, normas, costumes, leis, conceitos e culturas que irão normatizar avida em sociedade. Após este pequeno relato pré- histórico, percebe-se que a vida em comunidade não será lá um mar de rosas, como diz o ditado. Os percalços serão enormes, verdadeiros abismos sociais, econômicos e culturais. Ao começar pelos atritos entre comunidades, e mesmo dentro das próprias comunidades, gerando descontamentos e conflitos. Daí, as guerras, morticínios, além da disputas por poder. Há um desencantamento no mundo, segundo Weber, causado pelo pensamento racional e a subtração das crenças, dos valores e da cultura dos povos nativos, seria o fim da magia. Essa descrença ou desencantamento com o mundo abre um grande precendente para as falhas humanas, e tudo gira em torno do capital. Dado que, o capital passa a regrar a vida. Assim nos tornamos apenas corpos amorfos moldados pela vontade de acumulação do capital. Um mundo desencantado é um mundo sem tonus vital, e nos faz submergir num mar profundo de alienação e submissão. Trata-se de um excesso de racionalismo permeado por um processo civilizatório caótico e extremamemnte dominador. A falta de encantamento compactua com o individualismo, faz do homem um ser mais doente física e mentalemente, propenso aos vícios e a mesquinhez. Todas as mazelas do planeta está nas causas e consequências (karma) do desencantamento. O desencanto do mundo proveniente do capitalismo rege a dominação e o poder sobre a maioria das pessoas, que por sua vez delimita a riqueza a poucos privilegiados, enquanto outros vivem na miséria. Essa regra prevalece também na discriminação de raça, etnia e gênero; a qual negros e mulheres são alijados da sociedade e sofrem com o racismo, machismo, misogênia e transfobia. A concentração de renda, a inamovibilidade social, a desguidaldade social e econômica são temas recorrentes na sociedade atual, e não poderiam deixar de ser mencionados neste artigo. Já que estamos tratando da própia existência do humano. Marx  mostrou em seus estudos sobre o  movimento de acumulação do capital, o quanto foi perverso para classe trabalhadora. Estes mesmo estudos, ainda são discutidos e válidos na contemporaneidade atravês de autores que apontam o mais diferentes vieses do capitalismo, outros tentam demonstrar possíveis saídas e estratégias contrárias ao desencantamento do mundo. Todavia, ao se tocar na verdadeira ferida  social, que é a desigualdade social (aí englobamos um conjunto de miserabilidades, tais como: pobreza extrema, racismo, violência contra mulher, transfobia e outras mais) pouquíssimas são as vozes a defender a causa, no mais alguns esudiosos, pesquisadores e políticos de  esquerda. Nesse instante, os donos do poder preferem se calar, e fingir que a causa não são deles. Ao contrário, esses milionários e  bilionários colocam-se totalmente a direita e culpam as políticas públicas que carream recursos para atender os mais pobres e acusam o governo de assistencialismo e paternalismo. Portanto, reencantar o mundo é abrir a sociedade para um coletivismo, uma visão mais próxima do socialismo moderno que não se deixa subjugar pelo autoritarismo das ditaduras de direita ou de esquerda. A base do reencantamento não está na ideologia, mas sim numa linguaguem dialógica multicultural.   

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

A construção dialógica-idelógica do discurso: uma visão discriminatória

Talvez não saibamos direito, mas chegamos ao ápice de um mundo um tanto estranho e tenebroso. A volta de um passado hóstil e violento. Para sermos bem sinceros, a verdade é que nunca tivemos em toda nossa existência humana uma trégua de paz. As guerras, as pestes, a fome, as desigualdades nos acompanham à milénios e com o passar dos séculos só se tornam mais intensas e cruéis. Posso estar e desejo estar errado na minha narrativa sobre a natureza violenta do ser humano, prefiro acreditar na benevolência e no caráter coletivo da sociedade. Não vamos fazer aqui o jogo dos dogmas da religião em traçarmos a dicotomia simplória e infantil do bem e do mal, pois, o grande filósofo e pensador oitocentista Friedrich Nietzsche já nos colocava, diante de seu famoso Ubermesch (além do homem), a ideia de que estamos acima do bem ou do mal. Com tal afirmação, nós seriamos apenas seres viventes em função de uma vontande de desejos, de nos realizamos em plenitude. Justamente, nessa vontade de desejos que "metemos os pés pelas mãos", como diz o ditado popular. Trocando em miúdos, cometemos erros bárbaros cujas consequências nos levam a uma espiral insana de imbecilidades e bizzarices. Por outro lado, estar além do bem ou do mal pode nos torna mais humanos, e assim não sermos tão ensandecidos, ou melhor, tão "porras loucas" quanto parece. Enfim, temos ao nosso favor a racionalidade como capacidade intrínseca de criar elementos lógicos dedituivos e indutivos,  de refletir atos e ações enquantos indivíduos. O que de fato nos singualriza perpassa pelo âmbito da linguagem, somos humanos proprensos à comunicação e por meio da fala, da escrita e dos gestos mostramos todo nosso cabedal de significados. Ou seja, produzimos sentido  por meio da linguagem criando discursos. Então, o discurso faz de nos seres dialógicos e ideológicos. dialógicos, por sermos capazes de criar dialógos, falas e assim nos fazermos entender. A dialógica é o elemento básico da comunicação, por ela a dicotomia guerra e paz talvez ocorra sob a vontade de algum líder político a depender de sua estratégia comunicacional. No sentido ideológico da linguagem prevalece os aspectos subjetivos e interpetativos do discurso. O quanto pode-se fazer do discurso uma arma para inflar um ideal, um desejo, uma vontade. Sendo portanto, a ideologia um elemento de poder, dominação que recai principalmente sobre o domínio da política. Observa-se que os termos "dialógicos" e "ideológicos" perpetuam-se em si sentidos complementares, estão interligados. A construção ideológica depende do sentido dialógico do discurso para permear se nas entranhas da sociedade e dessa forma se incutir na mente dos indivíduos. Essa relação íntima dialógica-ideológica serviu muito bem a algumas nações para criar sentimentos ultranacionalistas em um aparelho propangandístico poderoso, que culminou no ódio contra os judeus e na segunda guerra mundial. Como já foi dito anteriomente, o espectro do tempo é dinâmico e ciclíco, em poucas palavras e com maior clareza, o mundo da voltas e chega num mesmo ponto. Pois é justamente isso que está a ocorrer novamente, a máquina dialógica-ideológica funciona em pleno vapor na contemporaneidade ao fornecer uma narrativa muitas vezes contraditória e inverossímil. Na maioria das vezes tentamos encontrar racionalidade num discurso ideológico que para nós não possui qualquer sentido lógico, mas para o outro é plausível e verdadeiro. Assim, constroem-se os antagonismos e força-se uma imposição seja de um povo sobre outro, de parte de elementos de uma sociedade sobre os outros elementos. É desses construtos dialógicos-ideológicos discursivos que nascem todo tipo de preconceito, discriminação e ódio gerador de desigualdade racial, gênero, sexual, social e econômico.                

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Demência

É tudo tornou-se escuridão, não há uma luz no final do túnel. Minha mente é um labirinto, da qual não consigo me libertar. Não vejo possibilidades futuras, sendo que não existe presente. Pois tudo é passado, apenas passado.

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Há imagens na tela que não consigo identificar, 
Apenas borrões de uma outrora longíqua que um dia me pertenceu,
Talvez, lá no fundo seja a imagem  de mi mesmo,
Que já  não consigo mais lembrar.

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As fotos antigas espelham rostos, corpos e almas que podem ser meu,
Em minhas memórias só há o vazio, o nada,
Tudo é um grande buraco, um enorme branco 
Não tenho mais passado,
Nem sequer almejo qualquer futuro,
Não, não há nenhum traço de desejo.

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Acordo todos os dias num corpo sem rosto, sem face, sem lembranças 
Não mais identifico aqueles que um dia foram meus,
Para mim são seres estranhos, se dizem filhos, netos, irmãos 
Parentes que num dia de inverno ou verão os amei.

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Desconheço os afetos, as emoçoes e os sentimentos;
Me resta apemas o medo,
Uma angústia profunda de não ter nem sequer mais o passado,
Que como o aço do martelo explode minha cabeça, 
Já o presente doí e corroí meu cotidiano.

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Desaprendi a viver as coisas básicas desse mundo,
Sou um ser incapaz de apontar  e denominar objetos, 
Por mais simples que sejam no dia a dia,
Vivo o pleno vazio do mundo existencial, 
Pura trevas de uma memória apodercida pelo tempo.

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Tudo é cinza, sem vida e sem cor, 
Cada dia é uma tormenta, uma tempestade constante,
Por não ter mais as lembranças que estão ali, 
dependuradas na parede da sala.

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Não, essa não é minha casa, 
Não é este meu lugar,
Quer ir embora  
Mas não sei para onde ir,
O que me resta, não sei dizer.

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Só sei que sou um corpo inerte 
Uma mente confusa e insadecida,
Sem cerébro, sem pensamentos e sem lugar,
Sou um corpo são em uma mente deteriorada pelo tempo.

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Às vezes esfuziante e radiante dotado de uma euforia,
Em outros momentos um ser passivo, 
Envolto em vôrtices depressivos, catatônico e confuso. 
 
  
  
 


sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Um pequeno manifesto do "Open Acess"


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"Que toda sociedade possa usufruir do conhecimento e da produção acadêmica  e assim utilizá-la em suas pesquisas. Essa é a forma mais inteligentes de incluir as pessoas num mundo tão tecnológico".

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O digital nasceu para facilitar o trabalho humano em tarrfas e atividades cotidianas. As tecnologias da informação e da comunicação (TICs), os sitemas informacionais, os aplicativos, a inteligência artificial (IA) trouxeram grandes beneficios não só para competividade das empresas, mas tambem na melhoria dos serviços publicos. A tecnologia é produto da pesquisa e do trabalho do homem, assim como as máquinas, as mercadorias que geram valor e alimenta a roda da economia. Os produtos nascidos do digital tem embutido em si o valor do tempo de trabalho, a mais-valia social. 

A criação intelectual, a pesquisa cientifica, a produção acadêmica, como fruto das ideias e do estudo de cientistas, pesquisadores e professores já foi inserido nesse turbilhão devorador da acumulação capitalista. Atualmente, os produtos da pesquisa científica, tais como: papers, artigos de periódicos, estudos de casos e outros são colocados em grandes portais e editoras cientificas e somente disponibilizados para aqueles que podem pagar uma assinatura ou comprar isoladamente um dos produtos. As grandes plataformas e editoras científicas mercantilizam o conhecimento, e assim fazem o jogo do capitalismo cognitivo. A partir do momento em que se fecha o conhecimento acadêmico e a pesquisa científica em poucos players do mercado, o compartilhamento e a disseminação da informação fica completamente prejudicada. Pois, o material científico -  que a princípio deveria ser um bem coletivo e servir a sociedade - torna-se mais um produto do capitalismo. 

O próprio poder público alia-se a estes players do mercado, com advento de legislações que punem aqueles que reproduzem, copiam, utlizam e fazem download desses materiais. Estão no rol dessas legislações: leis de direitos autorais, leis de crimes de pirataria, copyright e outras. Veja que o mundo acadêmico -  produtor de conhecimento - que deveria ser o ambiente primeiro da democracia e da liberadade intelectual, na verdade, é o espaço da repressão e do conservadorsimo. Portanto, a necessidade de irmos na direção contraria dessa repressão intelectual imposta pelos ditames da academia aliada aos produtores de matérias cientifícas, nasce o movimento de luta pelo "open access" que visa a abertura de uma nova economia calçada no coletivismo cientifíco, cujo acesso não seja restrito apenas  às camadas mais ricas da sociedade. Enfim, a produção das pesquisas e estudos científicos deve ser um bem social e aberto a todos. Não cabe mais o modelo atual de produção do conhecimento, pautado na perspectiva capilista, em que a informação tornou-se propriedade de grandes empresas provadas e para obtê-las é necessário pagar. A um custo bastante elevado. 

Sabe-se que o mercado apropria-se  do trabalho intelectual de cientistas,bibliotecários, escritores, pesquisadores e professores, naquilo que Marx denominou de mas-valia, ou seja, a apropriação e alienação do trabalho. Com isso, grandes corporações exploram o trabalho intelectual e dele extraem o lucro. A tecnologia como um todo ampliou essa expropriação e atingiu de forma certeira o espaços do fazer cientifíco, e toda produção intelectual ficou a mercê do mercado. Talvez, o "Open Access" seja o caminho de democratização do conhecimento e da informação, que é gerado pela própria sociedade. Então, è abrir o conhecimento e torná-lo um direito de todos. Dessa forma,  periódicos cientifícos, pre-prints, softwares especifícos desenvolvidos por cientistas e pesquisadores devem sim estar nas mãos de todos aqueles que deles necessitam,seja para trabalhos futuros, para informações e dados. 

Essa era a causa de Aaron Swartz, um jovem hacker ativista, cujo desejo era que a produção cientifíca, o desenvolvimento de aplicativos e softwares fossem disponiblizados a toda sociedade. Que estudantes, acadêmicos, pesquisadores e pessoas comuns pudessem ter acesso às tecnologias, às informaçoes e os conhecimentos gerados por outras pessoas. No entanto, o lobby das grandes corporações  de tecnologias, que visam apenas o lucro fez morrer literalmente suas aspirações. Mas saibamos, líderes, ativistas e ideais não sucubem, ao contrário, se fortalecem, ganham milhões de seguidores e outros ativistas que adotam a sua causa. E assim, permanecem vivos numa batalha constante contra as imposições do capital e do dominio das corporações.

O manifesto de Aaron Swartz permanece vivo e possui milhões de adeptos nos quatros cantos do planeta. A guerra contra a dominação do conhecimento pelas grandes empresas vem sendo amplamente travadas em diversos fronts. O livre acesso já está posta sobre a mesa. Trata-se de um direito fundamental de todos, que anseiam pela ampla difusão do conhecimento e informação. Bem, o "Open Access", ou seja o acesso aberto caminha sobre o futuro utópico, ou talvez distópico das redes.   

               

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Um novo Conflito: tempos estranhos

 

Tempos estranhos, talvez tenebrosos; como não bastasse esse vírus maldito que assolou o planeta no início de 2020 e levou a milhões de mortes, agora nos deparamos com a temporada de guerras. Primeiro, a Rússia abre fogo contra a Ucrânia, em uma deliberada vontade do Putin em dominar territórios e anexá-los ao Estado Russo. Tudo por interesses escusos e assim, manter-se no poder. Enquanto isso a morte e a destruição elegem-se como a vedete do momento, que tem escondido entre suas pernas armas letais.

Bem, nestes tempos sombrios de guerra -  jamais podemos nos esquecer dos muros, sim eles (os muros) – erguidos para distanciar o outro, invisibilizá-los, jogá-los a própria sorte. Tais muros, que separam nações e ao mesmo tempo afastam pessoas, famílias e destroem histórias. Pois é, as construções de muros segregam a paz e matam os ideais. Por isso coloco tal narrativa, justamente para mostrar o quanto é nocivo criar abismos, fronteiras e muros entre os povos. Não querer enxergar o outro, e o mesmo que não ver si mesmo.  Dessa forma, tudo se torna liso, sem barreiras e sem oposição. Mas, do outro lado, há os esquecidos, que estão relegados aos muros. Para eles sobra apenas os espinhos, as farpas, as cercas e os arames. Ali apenas sobrevive-se, não há plenitude na vida.

Digo isso, porque ao se erguer um muro, as rivalidades se afloram, as contestações se ampliam e as revoltas torna-se iminentes. Diante dos muros, tudo fica mais pesado, cansativo e distante, míseros 200 metros transformam-se numa jornada quilométrica; anos-luz de um simples abraço em quem amamos. E, transportar uma girafa de um lado para o outro pode ser uma viagem homérica, árdua e inimaginável.

Na história do mundo moderno, os líderes e governantes preferiram erguer muros, do que pontes, justamente por acreditarem na manutenção do seu poder. Porém, seus tronos sucumbiram miseravelmente. Muros nunca selaram a paz, apenas geraram mais conflitos e guerras.

Essa breve narrativa vem num momento bastante oportuno para nos fazer refletir a respeito do atual conflito Palestina e Israel. Trata-se de uma batalha histórica, com muitos reveses e percalços políticos. Fato que demandaria longas horas de estudos e análises para ser explicado didaticamente.

Como havia dito, esse texto objetiva-se numa narrativa. Portanto, o conflito Palestina e Israel não é um evento recente, data-se após a 2º guerra mundial, com a criação do Estado de Israel em 1948. Deixando um rastro - no tempo -  de milhares de perdas de vidas, destruição e elevação dos ódios. Ao longo do tempo, milhões palestinos jogados na faixa de Gaza, em assentamentos de refugiados, na extrema pobreza (fome, falta de água e altos índices de desemprego) são forçados a sobreviverem num contínuo corredor de miséria, isolados por um muro - sim o muro da humilhação, da vergonha – construído por Israel para apagar o outro da sua visão. O isolamento cria sérias consequências, como: ódio, rancor, ira por não poder pertencer e viver plenamente. Sentimentos esses que abrem precedentes para o surgimento de revolta e protestos, além do aparecimento de grupos radicais como o Hamas, Hezbollah, entre outros. Grande parte desses não nascem como grupos terroristas, mas tornam-se terroristas à medida que são cada vez mais alijados da sociedade ou possuem ideologias extremamente divergentes. Somados a falta de estrutura social, desemprego e a miséria destes assentamentos os jovens são cooptados para aliarem-se a estes grupos. É evidente, se não há perspectiva social e econômica, sobra apenas o terror.

Lógico, nenhum ser humano normal é conivente com mortes, assassinatos ou atos de terrorismo. Pois, nenhuma sociedade consegue se desenvolver chafurdada na barbárie, no terror e na tirania. As ações civilizatórias são construídas apenas por meio de acordos paz e uma ampla rede de direitos humanos. Todo terrorismo deve ser visto como uma ação contraria ao propósito de civilidade.  

A ênfase dessa narrativa está no nascedouro das ações terroristas, sendo que suas práticas se pautam pela negação do outro, pela construção de muros. No caso, o Estado de Israel foi o fato gerador do Hamas, ao invisibilizar o povo palestino e confina-los num campo de refugiados, cercados por grandes muros. Ato causador de descontentamento em grande parte dos Palestinos, que intensificou os grupos de ódio.

O ataque do Hamas (num ato isolado do grupo) não representa uma ofensiva Palestina, para que se abrisse precedentes a uma guerra. Porém, o líder israelense Netanyahu, cujo poder está ameaçado e sua aprovação pelo povo anda em baixa precisa mostrar sua “força” como primeiro ministro. Netanyahu ao atacar os palestinos; cuja maioria de mortes são de civis; principalmente crianças, idosos e mulheres torna-se um criminoso de guerra. O primeiro ministro foi incapaz de celebrar a paz por apenas compreender a linguagem beligerante de poder. Netanyahu errou e ainda erra por ignorar o feito de seus antecessores Yitzhak Rabin, Shimon Perez que junto ao líder palestino Yasser Arafat foram os porta-vozes da paz. 

Netanyahu é oposto deles, quer o conflito, a morte, o ódio. Os mísseis e os ataques sistemáticos na faixa de Gaza demonstram muito bem os objetivos do primeiro ministro de Israel, e é deliberadamente dizimar o povo Palestino, assim como Hitler fez durante a 2ª guerra mundial.  Nem mesmo o povo israelense em sua maioria não aprova essa guerra insana - da qual não podemos chamar de guerra - mas genocídio. O alvo não é e nunca foi o Hamas, e sim o povo Palestino. Netanyahu não terá medalhas de guerra, nem condecorações. Pois é um genocida, assim como Putin na Rússia e aquele que matou quase 700.000 no Brasil por não ter comprado a vacina durante a Covid-19.

Natureza

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