quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Demência

É tudo tornou-se escuridão, não há uma luz no final do túnel. Minha mente é um labirinto, da qual não consigo me libertar. Não vejo possibilidades futuras, sendo que não existe presente. Pois tudo é passado, apenas passado.

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Há imagens na tela que não consigo identificar, 
Apenas borrões de uma outrora longíqua que um dia me pertenceu,
Talvez, lá no fundo seja a imagem  de mi mesmo,
Que já  não consigo mais lembrar.

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As fotos antigas espelham rostos, corpos e almas que podem ser meu,
Em minhas memórias só há o vazio, o nada,
Tudo é um grande buraco, um enorme branco 
Não tenho mais passado,
Nem sequer almejo qualquer futuro,
Não, não há nenhum traço de desejo.

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Acordo todos os dias num corpo sem rosto, sem face, sem lembranças 
Não mais identifico aqueles que um dia foram meus,
Para mim são seres estranhos, se dizem filhos, netos, irmãos 
Parentes que num dia de inverno ou verão os amei.

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Desconheço os afetos, as emoçoes e os sentimentos;
Me resta apemas o medo,
Uma angústia profunda de não ter nem sequer mais o passado,
Que como o aço do martelo explode minha cabeça, 
Já o presente doí e corroí meu cotidiano.

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Desaprendi a viver as coisas básicas desse mundo,
Sou um ser incapaz de apontar  e denominar objetos, 
Por mais simples que sejam no dia a dia,
Vivo o pleno vazio do mundo existencial, 
Pura trevas de uma memória apodercida pelo tempo.

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Tudo é cinza, sem vida e sem cor, 
Cada dia é uma tormenta, uma tempestade constante,
Por não ter mais as lembranças que estão ali, 
dependuradas na parede da sala.

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Não, essa não é minha casa, 
Não é este meu lugar,
Quer ir embora  
Mas não sei para onde ir,
O que me resta, não sei dizer.

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Só sei que sou um corpo inerte 
Uma mente confusa e insadecida,
Sem cerébro, sem pensamentos e sem lugar,
Sou um corpo são em uma mente deteriorada pelo tempo.

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Às vezes esfuziante e radiante dotado de uma euforia,
Em outros momentos um ser passivo, 
Envolto em vôrtices depressivos, catatônico e confuso. 
 
  
  
 


Natureza

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