Já havíamos comentado
anteriormente a respeito da desatenção provocada pelo mundo
contemporâneo, especificamente pelas tecnologias criadas pelas Big techs (grandes
empresas de tecnologia como Meta, Google, Apple, Amazon, etc.). Estas grandes corporações operam numa espécie de "economia da atenção", onde o principal objetivo é maximizar o
tempo que os usuários passam em suas plataformas. Quanto mais tempo você
gasta rolando feeds, assistindo vídeos ou interagindo com conteúdo, mais dados
elas coletam sobre você e mais oportunidades elas têm de exibir anúncios, que
são a principal fonte de receita para muitas delas.
Para atingir esse objetivo, essas empresas empregam
estratégias complexas e equipes de engenheiros e psicólogos que trabalham para
criar produtos e experiências intrinsecamente viciantes e que prejudicam o
foco e a atenção.
Aqui estão as principais formas como as Big Techs
geram desatenção e falta de foco:
1.
Algoritmos de Personalização e Recomendação
Os algoritmos são o coração das plataformas
digitais. Eles analisam seu comportamento (o que você clica, assiste, curte,
compartilha, quanto tempo passa em cada postagem) e, com base nisso, personalizam
o conteúdo que você vê. Isso cria uma "bolha de filtro" onde você
é constantemente bombardeado com informações que já são do seu interesse, o que
torna difícil sair do ciclo de consumo.
- Loop Infinito: O algoritmo é projetado para te manter
engajado. Ele aprende o que te prende e te oferece mais do mesmo, ou
variações que ele acredita que você vai gostar, criando um "loop
infinito" de conteúdo.
- Recompensas Imprevisíveis: A imprevisibilidade de
quando você vai encontrar algo "interessante" no feed (uma foto
de um amigo, uma notícia chocante, um vídeo engraçado) age como um reforço
intermitente, similar ao mecanismo das máquinas caça-níqueis. Isso faz
com que você continue rolando, esperando a próxima "recompensa".
2. Design
Viciante e "Dark Patterns"
As interfaces das plataformas são cuidadosamente
projetadas para maximizar o tempo de tela.
- Rolagem Infinita (Infinite Scroll): Em
vez de ter que clicar para carregar mais conteúdo, a rolagem infinita
permite que você continue vendo novos posts sem interrupção, eliminando
qualquer "ponto de parada" natural e incentivando o consumo
ininterrupto.
- Notificações Constantes: Bips, vibrações e alertas
visuais são projetados para interromper sua concentração e te puxar de
volta para o aplicativo. Elas exploram o medo de ficar de fora (FOMO - Fear
of Missing Out) e a necessidade de validação social.
- Likes e Recompensas Sociais: O sistema de curtidas,
comentários e compartilhamentos libera dopamina em nosso cérebro, criando
um circuito de recompensa que nos incentiva a postar mais e verificar
constantemente a reação dos outros.
- "Dark Patterns": São elementos de design que
levam o usuário a fazer coisas que ele talvez não faria, como dificultar o
cancelamento de assinaturas, esconder opções de privacidade ou te induzir
a interagir mais com o conteúdo.
3.
Conteúdo Fragmentado e Rápido
A ascensão de formatos como o TikTok, Reels e
Shorts transformou a forma como consumimos conteúdo.
- Vídeos Curtos e Rápidos: A predominância de vídeos
de segundos de duração treina o cérebro para esperar por estímulos rápidos
e constantes, diminuindo a capacidade de sustentar a atenção em conteúdos
mais longos e complexos.
- Mudança Constante de Tópicos: Em um curto período, você pode ser exposto a dezenas de tópicos diferentes, o que fragmenta sua atenção e dificulta aprofundar-se em qualquer assunto.
4. Coleta
Massiva de Dados e Modelagem Comportamental
As Big Techs coletam uma quantidade colossal de
dados sobre seus usuários. Cada clique, cada pesquisa, cada interação é
registrada e analisada.
- Perfis detalhados: Com esses dados, elas criam
perfis psicológicos detalhados de cada usuário, entendendo seus
interesses, vulnerabilidades e até mesmo seus estados emocionais.
- Publicidade direcionada: Essa inteligência é usada
para exibir anúncios altamente direcionados, que são mais propensos a
capturar sua atenção e levar a uma compra, consolidando o modelo de
negócio baseado na atenção.
- Engenharia comportamental: Ao entender como os
usuários reagem a diferentes estímulos, as empresas podem manipular o
comportamento humano, criando experiências que maximizam o engajamento e,
consequentemente, o lucro.
5.
Priorização do Engajamento sobre o Bem-Estar
O modelo de negócio das Big Techs está
intrinsecamente ligado ao tempo que você passa na plataforma. Isso significa
que, muitas vezes, o que é mais "engajador" (conteúdo polarizador,
notícias chocantes, discussões intensas) é priorizado pelos algoritmos, mesmo
que isso tenha impactos negativos na saúde mental e na coesão social.
Em suma, as Big Techs lucram com a sua atenção.
Elas investem pesado para desenvolver e aprimorar sistemas que a capturam e a
mantêm, muitas vezes em detrimento da nossa capacidade inata de foco e da nossa
saúde mental. Entender esses mecanismos é o primeiro passo para retomar o
controle sobre nossa atenção e nosso tempo.
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