Enquanto Berardi nos aponta o caminho
do semiocapitalismo, como capitalismo da linguagem, dos signos - ou seja
- da apropriação dos elementos tecnolinguísticos transformados em
códigos e algoritmos proporcionados pela tecnologia. Nesse semiocapitalismo o
mais-valor se reproduz no uso das plataformas das redes sociais e na
comunicação, que se adentra no neoliberalismo. O que não é diferente em Antônio
Negri com seu biocapitalismo. Bem, Negri em seu livro coloca que o
biocapitalismo (assim como no semiocapitalismo de Berardi) supera o capitalismo
industrial, e então adentra os aspectos biológicos (da vida), transformando-a
em mercadoria.
Dentro dessa lógica neoliberal, o corpo
- na verdade - torna-se um corpo explorado, não mais num sentido do trabalho
físico da fábrica, como no capitalismo industrial. Mas sim, num âmbito da
financeirização, dos mercados financeiros, como diz Negri: “ a vida deixa de
ser tutelada pelo Estado, e não há mais políticas públicas e o bem-estar
social. Tudo se transformou numa relação meramente financeira, de trocas, onde
o poder estatal deixou de existir.
Tais mudanças atingiram diretamente o mundo
do trabalho, cujas relações sociais ficaram bastantes esgarçadas, frouxas,
principalmente com enfraquecimento das instituições públicas e das associações
que representam os trabalhadores. Podemos dizer, então, que o biocapitalismo
seria a exploração da própria vida (da bios) e abrange toda
sociedade. Todos nós somos participes dessa nova forma de assunção do
capitalismo – que vai além das velhas unidades fabris – dado que a fábrica não
mais comporta o homem, apenas máquinas. Com isso, passamos do trabalho material
para o trabalho imaterial - segundo Negri.
Atualmente o capital se aproveita das
inovações, das tecnologias, dos algoritmos e da inteligência, uma forma de
extrair mais-valor daqueles que estão constantemente conectados às plataformas
e redes. O capitalismo se adaptou e soube criar inteligentemente novos modos de
exploração e dar continuidade a sua jornada de acumulação. O trabalhador
anteriormente explorado apenas pela sua força física, hoje tem o corpo e a
mente aprisionados dentro do espectro do trabalho imaterial. A produção
imaterial, explica Negri: ӎ um importante elemento subjacente do novo
capitalismo, que invade por completo a vida”. Tanto Negri, quanto Berardi,
apontam que a exploração causada por este capitalismo da vida deriva da nossa
capacidade de produzir signos, linguagem e códigos bastante organizados.
Entretanto, essas formas de exploração do biocapitalismo (que nos torna meras
mercadorias) vem acompanhada de graves consequências não aceitas pacificamente.
Haverá, como diz o próprio Negri, lutas de classes no âmbito da biopolítica,
sendo que o biopoder capitalista certamente irá gerar contradições, revoltas e
violência. As resistências serão visíveis e rupturas hão de acontecer. Por
isso, as reflexões fazem-se latente nessa nova configuração do mundo
capitalista, já que estamos no sob o jugo de uma sociedade que valoriza apenas
a individualidade, em detrimento do coletivo. Para Negri, a ideia de
individualidade e coletividade é central, tanto que ele descreve em sua obra –
Biocapitalismo:
“Singularidade não é
individualidade, multidão é governo por sobre a solidão. Quando esta
singularidade não está sozinha, quando a individualidade se dissolve justo
diante de nós, acredito que a hipótese de política como ação que constitua comunidade
pode dar-se perfeitamente” (NEGRI, p.76).
Isso demonstra a relevância de
discutirmos a respeito do comum, daquilo que nasce do coletivo, da construção
das políticas públicas que agregam os ideais da democracia participativa. No
entanto, quando essas questões são colocadas na mesa de nossos representantes
políticos, imediatamente são jogadas nas gavetas, ou destinadas aos arquivos,
simplesmente esquecidas. Mas lembremos, o comum, é aquilo segundo Negri –
acessível a todos, não está na posse e sim no uso. Conceito, esse que o
capitalismo não compreende – por achar que tudo é privado, assim privam as
pessoas de terem acesso a certos bens comuns.
Portanto, temos que quebrar o
individualismo e sair dessa lógica insana do identitarismo, para então atingirmos
a cultura do coletivo, do comum, naquilo que Negri denominou multidão. Esse é
um passo importante para a criação de uma sociedade realmente democrática e
participativa, dotada de liberdade coletiva. O conceito de multidão de Negri,
em si não compactua com a identidade, pelo contrário, engloba o diferente, o
outro e por isso reconhece as minorias que lutam. Pauta-se na diversidade, e
não no individualismo criado pelas instâncias neoliberais ou
identitários.
Nesta mesma linha do operaísmo italiano
- ou seja - uma corrente de pensamento que fornece uma nova roupagem aos ideais
marxistas, Franco Berardi em seu livro Asfixia coloca o poder financeiro como
objeto causador da exploração do trabalho cognitivo e precarizado. Sendo que o
“general Intellect” de Marx, de acordo com Berardi encontra-se separado do
corpo. O autor apresenta-nos o semiocapitalismo (elemento que atua na esfera de
um totalitarismo bioeconômico dotado de autômatos tecnolinguísticos, que produz
intensas mudanças no tecido social. A respeito das questões políticas e sociais
Berardi demonstra os perigos da direita no poder, quando eleitos sucateiam
fortemente a educação pública e de maneira maldosa se utilizam das mídias para
propagar à alienação.
Há dois conceitos bastante relevantes
por Berardi em sua obra. O primeiro é a ideia de enxame, proveniente do campo
da biologia, que nos serve de forma análoga para a compreensão do mundo
conectado às redes. Dado que enxame refere-se a uma coletividade interconectada
em redes, onde o comportamento segue certas normas e regras preestabelecidas.
Portanto, as tecnologias da informação permitem que grupos sociais semelhantes
possam agir dentro dessa lógica do enxame, por meio das redes e das conexões.
Como diz o próprio Berardi – “o semiocapitalismo proporciona essa transformação
em enxame. Daí não podemos prever se tal mudança é positiva ou negativa.
O outro aspecto levantado pelo autor,
diz respeito à multidão. Um conceito que revela aglomeração de pessoas,
pluralidade - no entanto – sem compartilhar uma direção ou caminho comum. Pois,
o conceito de multidão, ao contrário do de rede e de enxame, move-se de forma
aleatória em diferentes rumos e rotas. Já as redes na concepção de Berardi
pressupõe que os humanos, ou mesmo, máquinas agem organizadamente por meio de
procedimentos conexos e interoperativos, onde passam a ser interconectados.
Talvez, poderíamos dizer que enxame tem como proposta delinear e organizar a
multidão no âmbito do semiocapitalismo.
Mas enfim, o que seria este
semiocapitalismo? Se temos o capitalismo financeiro como a produção do dinheiro
como mercadoria, em que dinheiro produz dinheiro. É tudo foi mercadorizado,
inclusive a vida. Então, a palavra, a linguagem, a comunicação também passou a
subsistir no interior dessa lógica financeira. O signo e o significado
tornaram-se parte deste ciclo de produção neocapitalista. A própria finança e
os mercados financeiros sobrevivem através de um referencial da linguagem, dos
signos em que as trocas são pontos luminosos em uma tela de computador ou
celulares.
Com a introdução da ideologia
neoliberal, faz-se uma ode ao desregramento, a desregulamentação e a exaltação
da falsa liberdade conforme Berardi. Tal fato pode ser observado nas obras de
Hayek, um difusor ferrenho do neoliberalismo, da falsa liberdade, da qual tudo
dever ser livre e com isso o indivíduo é vangloriado em detrimento do coletivo.
Esses ideários neoliberais afetam pontualmente a linguagem e ajudam a promover
aquilo que Berardi denomina de desreferencialização (a perda de referência).
Não há mais paridade – então – tudo é permitido, dado que a falta de referência
recai diretamente nas conexões e interações, tornando-as de sobremaneira fracas
e deletérias.
A perda das referências, sejam elas de
cunho linguístico, social, político, ou econômico leva a sociedade e o mundo a
uma constante crise. Ao perdemos as referências da social-democracia e do
socialismo, deixa de existir uma alternativa ao capitalismo e suas crises
constantes provocam a mais pura devastação social e econômica. Os mercados
financeiros, que agora atuam numa escala binária, simbólica (onde algoritmos
determinam a compra e venda de ativos financeiros numa tela) promovem uma
gigantesca instabilidade no corpo coletivo, dando poder a falsa liberdade do
indivíduo, que agora atua como empreendedor de si mesmo, ou talvez um pequeno
investidor no mercado de títulos e ações. A plena exacerbação do eu, aspecto
próprio do neoliberalismo.
Para Berardi, a abstração que foi
colocada por Marx, é própria do capitalismo, na qual o valor de uso e produção
de mercadorias deixam de existir no mundo financeirizado. Portanto, na
abstração financeira a circulação do dinheiro e valor são distintos na visão de
Berardi, justamente por provocar a desmaterialização do desejo. Assim,
complementa o autor – o dinheiro afasta o ser humano de sua capacidade de
criação e o coloca no âmbito do consumo.
A rede como espaço de dados não é
perene, ao contrário, suas conexões são efêmeras. Porém, estes espaços estão em
constante expansão devido as suas características coletivas de produção. Mas,
segundo Berardi, os lucros por ela produzidos são de ordem privados. Daí
vivemos um novo “modus operandi” do capitalismo moderno – a produção em rede –
a qual todos nós trabalhamos em plataformas, seja criando conteúdos, ou
aperfeiçoando sistemas de redes, nem ao menos damos conta de que tais
plataformas retiram de nós uma mais-valia, ou seja, seus lucros simplesmente
provêm do fato de utilizarmos o que elas oferecem. As grandes corporações não
estão mais delimitadas num território físico e nem num espaço geográfico,
migraram para o mundo virtual e dele abarcam todo o planeta. Conforme Berardi,
suas propriedades são imateriais. Pois, os signos, as ideias, a informação, o
conhecimento e a linguística basta para sua sobrevivência. Diante disso,
passamos a ter uma vida totalmente conectada em redes, para ser mais claro:
controlada, onde geramos e disseminamos fluxos de informação. A conexão massiva
nos tornou seres binários, cuja interação se perpetua em algoritmos. Esse é o grande
mote do semiocapitalismo de Berardi. Somos agora seres máquinicos, que funciona
sob a égide de uma estrutura digitalizada, plugados e desplugados conforme os
interesses, que na maioria das vezes são contra nossas vontades. Bem é verdade,
quando a todo momento somos cancelados nas redes sociais por que discordamos
dos outros e não deixamos de omitir nossas opiniões, assim sofremos a punição
num mundo pseudodemocrático. Com isso, deixamos de lado os afetos e a
materialidade palpável para ingressarmos num capitalismo financeirizado
virtual, que segundo Berardi é continuamente recombinado por fragmentos
abstratos de propriedade.
Talvez possamos quebrar essa ideia do
semiocapitalismo Berardiano, se impusermos o ritmo das ruas e fazer ressurgir a
força da inteligência coletiva. No entanto, as ruas encontram-se fechadas em
função da sindemia, mesmo assim o clamor criativo do “general intellect”
marxista tem que se sobrepor aos dogmas do capital neoliberal. Para isso, as
redes se transformariam numa enorme praça, que pavimentaria os anseios dessa
coletividade manifestante.
Esse grito da coletividade nas ruas das
redes faz-se contra a opressão do capital financeiro, que tem suas bases de
apoio nas técnicas e políticas governamentais. No entanto, a linguagem proveniente
do coletivo tem sua potência, diz Berardi, para além das esferas de
significado, que só o cínico entende. Quando dizemos cínico, não no sentido
moderno e atual da palavra, mas numa concepção filosófica, que remete ao
pensamento dos filósofos gregos. Aqui, o cinismo de Berardi, vai de encontro à
prática de falar a verdade. Já, o cinismo atual, da mentira tem fortes ligações
com o mundo capitalista, onde a economia liberal destrói as relações de
trabalho e cria um certo darwinismo social. O cínico dos filósofos gregos
pressupõe a verdade e a descrença na fé, (Berardi, p.131).
A linguagem é o som, que para Berardi
liga-se ao tempo e espaço, dessa forma permite que os seres humanos possam
apreende-los conscientemente. A linguagem depende da respiração e do ritmo.
Dois elementos fundamentais e preciosos para estabelecer contato com o mundo. A
partir da respiração criamos sons e ritmos e assim intensificamos nossa
capacidade sonora no cosmos. Enfim, simplesmente podemos fazer barulho e criar
ruídos. Assim, a multidão emite sua sonoridade por meio da linguagem e,
portanto, expressa suas vontades e desejos. Os ritmos coletivos irão determinar
se caminharemos para um enxame; seja nas ruas, ou nas redes, com intuito de
criarmos uma nova forma de vida fora dos ditames do capital.
Linguagem, signos, significados são
códigos essenciais, atualmente utilizados pelas tecnologias de informação e
também construção de algoritmos que determinam às inteligências artificiais, os
sistemas em redes, o blockchain e as inovações em computação quântica. Os
códigos financeiros, conforme Berardi em seu livro, são colocados à mesa como
autômatos da linguagem que modificam muitas das atividades sociais, os padrões
de consumo e o estilo de vida. Da mesma forma ocorre com o dinheiro. Então,
linguagem e dinheiro tem funções semelhantes dentro do mundo capitalista,
utilizando a frase de Berardi – eles são proféticos.
O semiocapitalismo - o
capitalismo da apropriação da linguagem – proferida por Berardi endossa o poder
do individual e respinga nas bases do identitarismo. A crítica de Berardi
faz-se uníssona a ideologia identitária, por falar do desparecimento da razão
universal em substituição à cultura do pertencimento, e como o identitarismo
ressentido ocupa o lugar da solidariedade social, então declara-se guerra ao
outro, àqueles que não pertencem. O grande mote do mundo atual é pertencer,
fazer parte, do contrário, torna-se o outro, o inimigo –muitas vezes invisível.
O vírus, também, é o novo inimigo que propaga-se pelo corpo, e o transforma. No
tecido social o vírus modifica a comunicação. Por outro lado, vemos o avanço da
inteligência artificial como parte das novas tecnologias e são as inovações e a
pesquisa que nos levam a uma dimensão cada vez mais estratosférica no campo do
conhecimento. Porém, os seres humanos definham mentalmente por causa da
ansiedade e depressão. Isso é a controvérsia desse capitalismo cognitivo,
financeirizado e linguístico. A digitalização planetária semiótica carregadas
de significados tem nos afastado da semântica – do sentido real. Como diz o
próprio Berardi, vivemos um mundo liso, plano e sem ranhuras, cuja estética não
permite pelos e nem rugosidades que possam atrapalhar o deslizar das conexões,
os encaixes devem ser perfeitos e puros.
No cérebro digitalizado não há qualquer
traço de prazer, e muitos menos lugar para o sexo, bem – todos são assexuados –
bonecas e bonecos de plástico, nos locais das genitálias existe apenas uma
superfície lisa. O sensual, o erótico se perdeu num deserto qualquer e neste
mesmo caminho atravessou as relações de amizade e o compartilhamento da
felicidade. Vivemos hoje uma era de puritanismo barato, de moralismo cínico no
sentido atual do termo e de conexões rasas. Numa linguagem truncada com excesso
de vocabulário e verborragia infundada, que nos digam os discursos políticos.
Esquecemo-nos da comunicação polida, racional e persuasiva. Assim, o discurso
neoliberal aproveita dessa fraqueza e vai de encontro à Hayek, quando fala da
falsa servidão imposta pelo socialismo. Essa liberdade de Hayek trata-se de uma
falácia, um engodo, a partir do momento que o neoliberalismo fragmenta o ser, o
individualiza e precariza o tempo. Nisso, Berardi tem toda razão, ao falar que
o indivíduo, dentro do neoliberalismo tem sua liberdade destruída, por não
passar de um fragmento de tempo precarizado. Mesmo que o indivíduo possa vencer
no neoliberalismo “Hayekiano”, isso não engloba o coletivo, a totalidade, resta
apenas o sucesso individual junto à competitividade, como esclarece Berardi e,
portanto, faltou empatia, compaixão e solidariedade. Sem esses três sentimentos
restam apenas amostras de ignorância e cinismo (em sua concepção atual). A
ignorância aqui refere-se ao fato de não reconhecermos o outro e de não querer
saber sua história de vida. Termos típicos de uma cultura branca, formada pelas
camadas mais ricas da sociedade, que colocam os diferentes numa posição de
desprezo e de não reconhecimento de sua cultura: a exemplo inclui-se parte da
Europa racista e xenofóbica da extrema direita neoliberal.
Essa ignorância por parte desses grupos
hegemônicos, nos faz repensar o conceito de identidade. Para Berardi, a
identidade está baseada na noção de pertencimento de um passado comum, sendo
uma construção do viés psicopolítico que não possui mais o sentido de
solidariedade. Portanto, nas palavras do autor a identidade não existe e sim o
identitarismo de caráter excludente e agressivo, talvez um elo entre o fascismo
do passado de holocausto e algumas ideologias presente neste século XXI,
principalmente aqueles ligados ao capitalismo, que em seu processo de
acumulação diminui a diversidade cultural e destrói a soberania política dos
Estados.
Desse modo, as reformas neoliberais têm
de fato conseguido devastar a sociedade, basta olharmos ao nosso redor, como as
relações sociais estão totalmente esgarçadas, os índices de desigualdades vêm
crescendo ao longo do tempo, onde quase toda riqueza produzida concentra-se nas
mãos de apenas uma parcela ínfima da população e bilhões passam fome;
sucateamento do patrimônio público; destruição do meio ambiente;
desregulamentação das leis que controlam o poder das grandes empresas
privadas.
No livro “Valor de tudo” de Mariana
Mazzucato, a relação entre valor e preço são divergentes, pois – cai por terra
a máxima econômica de que o valor define-se pelo preço – fator este que
modifica por completo as forças de oferta e demanda. Para a autora, o valor
está atrelado à produção de bens e serviço; portanto, o valor é um fluxo, um
processo que gera riqueza e sendo riqueza um estoque de valor. Dessa forma,
podemos atribuir o preço como resultante da oferta e demanda. Já o valor
estaria na subjetividade do trabalho.
Essas relações entre valor, preço e
trabalho são essenciais para compreendermos a dinâmica do capitalismo,
principalmente na época em que vivemos. Sabe-se que o desejo mais íntimo e
profundo do capitalismo é crescer, acumular. Enfim, este ser enorme e obeso
alimenta-se de tudo que produzimos, sua fome é insaciável e por isso depende de
um mercado, seja material ou imaterial. Desse modo, a liberdade deste mercado
promove as relações de produção e de trabalho. Na concepção marxista, o
trabalho produz mais-valor e consequentemente permite o acumulo de capital.
Essa esfera de produção é quem vai determinar o crescimento econômico.
Na visão de Marx, somente o trabalho
produtivo gera mais-valor, e nem sempre esse mais-valor retorno para o
trabalhador, indo para as mãos dos donos dos meios de produção. No entanto, o
capitalismo atual e suas mil e umas denominações, tais como: capitalismo
financeiro, capitalismo improdutivo, capitalismo cognitivo, biocapitalismo,
entre outras tem suas bases no rentismo (na renda por meio dos juros, em que o
lucro dá-se por meio de um sistema de empréstimos). Trata-se da financeirização
da sociedade, dado que o setor produtivo deixou, lá nos idos dos anos 70, de
ser o motor da economia. A mercadoria de desfaz no ambiente físico e assume um
papel cada vez mais intangível, talvez ilusório e imagético; com isso a equação
M-D-M (Mercadoria – Dinheiro – Mercadoria) transforma-se em D-D’, ou seja,
dinheiro que gera dinheiro. Certamente, esse novo paradigma econômico
assentaria enormemente os pensadores da economia clássica, pelo fato da
mercadoria não mais existir, sendo nós a própria mercadoria.
O caminho do rentismo modifica de
sobremaneira o comportamento econômico e a percepção da sociedade frente ao
mundo financeiro. Enfim, a busca por investimentos que ofereçam maior
rentabilidade, sem a necessidade de produção e trabalho embutido tornou-se uma
espécie de supermercado, na qual pode-se escolher uma série de ativos
financeiros que melhor proporcione um bom rendimento, dentre eles destacam-se:
derivativos, ações, títulos emitidos por bancos e governos, letras financeiras,
CDBs, incluindo até mesmo moedas virtuais (criptomoedas), além de títulos
creditícios que pagam juros futuros dos setores imobiliários e de agronegócios.
Muitos destes ativos já foram responsáveis por grandes crises mundiais - a
exemplo: a crise dos subprimes em 2008, que levou a bancarrota o sistema de
credito imobiliário nos EUA.
A configuração desse capitalismo
financeiro, da qual todos nós, ora somos investidores, credores e acionistas de
empresas, ou ora estamos do lado dos devedores (tomadores de empréstimos) afeta
diretamente o setor produtivo, onde a criação de valor abre espaço para aquilo
que Mazzucato denomina extração de valor. A extração de valor impacta
seriamente a produção de riqueza de um país, provoca consequências direta na
distribuição e concentração de renda. Pois, a extração de valor impede que a
riqueza possa circular, já que não há produção e as relações de trabalho ficam
enfraquecidas. Isso é o aprofundamento do neoliberalismo, em que até mesmo o
Estado passa a ser um devedor. Bem, o enfraquecimento estatal, perante as privatizações
e amplamente desregulamentado vê-se endividado para realizar suas ações e
oferecer serviços públicos à população, nesse ponto sua dívida pública cresce
de maneira estratosférica.
Grande parte dos Estados-nações tem
recorrido à empréstimos (com juros altíssimos) em bancos nacionais ou
internacionais no intuito de equilibrar suas contas, ou desenvolver políticas
públicas. Sendo está última bastante rara. Num mundo em crise, a
desregulamentação do setor financeiro promoveu todo tipo de aberração econômica,
colocando em cheque a estabilidade social, política e econômica de muitos
países. Como disse a própria Mazzucato, para os governos a regulamentação é
vital, sendo ela ligada ao estado de bem-estar social e talvez uma forma de se
proteger das grandes crises. Mas, o mundo neoliberal não enxerga desse modo,
pois o neoliberalismo acredita que a regulamentação impede o desenvolvimento
produtivo, por causa de um Estado interventor e não deixando o mercado agir
livremente. Todavia, sabemos que a desregulamentação da economia abriu
precedentes para neoliberalismo e a globalização que resultou em crises
homéricas; numa série fantástica de destruição dos direitos dos trabalhadores,
aumentando ainda mais o fosso da desigualdade social e da distribuição de renda.
A desregulamentação econômica e
financeira de fato serviu para a derrocada das economias industriais e
agravamento da crise capitalista. Vemos agora um enorme contingente de
desempregados, subempregados e pseudo-empreendedores vítimas dos ideais
libertários e neoliberais de Hayek, um difusor inconsequente da
desregulamentação dos mercados financeiros.
Países, como Brasil também flertou -
mesmo que timidamente - com esses ideários hayekianos. E então, implantado no
governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso e mitigado pelo Governo Lula, o
tripé macroeconômico, cuja sustentação impunha-se nas seguintes medidas: câmbio
flutuante, austeridade fiscal e metas de inflação. O tripé macroeconômico na
verdade é uma daquelas soluções “sui generis”, tipicamente nacional –
uma espécie de jabuticaba, inerentemente brasileira. Esse modelo neoliberal “franksteiniano” construído
especialmente para nossa nação já nascerá com os pés tortos, sua adoção lá no
governo FHC não seria uma boa coisa. Pois, o tripé macroeconômico só gerou mais
desigualdade social e impediu o crescimento econômico do país. Especificamente,
o pé da austeridade fiscal tornou-se uma grande paranoia política, a qualquer
custo tinha-se que atingir o superávit primário. Era o mantra do governo na
época.
A austeridade fiscal foi, ou melhor,
ainda é um ponto vital do tripé macroeconômico, que ajusta-se ao desenho
neoliberal. No entanto, extremamente danoso para o desenvolvimento social do
país. O propósito negativo da austeridade fiscal - muitas vezes insano - está
em debelar dívida pública e daí cortar gastos. Porém, os cortes geralmente são
feitos em áreas essenciais à sociedade, no caso: educação, saúde,
infraestrutura e pesquisa. Como diz a própria Mazzucato: “Esses valores
relacionados à dívida pública saem do nada, não há um rigor cientifico para
estabelece-las e sim colocadas nos relatórios por razões quase mágicas”. A
adoção de uma política de austeridade fiscal é quase sempre ineficiente e
nociva para economia, que culmina numa profunda recessão, devido ao
enfraquecimento dos setores produtivos.
A ideia da austeridade fiscal caminha
em uma direção totalmente contrária aos ideais keynesianos, em que o governo
deveria ser o indutor da economia e assim investir em estruturas passíveis de
geração de empregos, produção de bens, criação de novas tecnologias e oferta de
serviços básicos. Seria, conforme Mazzucato, o Estado criando valor e
permitindo que as demandas pudessem ser devidamente supridas.
Os economistas libertários, como Hayek
enxergam a produtividade estatal apenas como gastos, por isso defendem a ideia
da austeridade fiscal para reduzi-las ao máximo. Uma visão um tanto equivocada
por parte deles. Sabemos o tempo todo que o governo é quem coloca dinheiro na
economia, simplesmente para fazer a roda do desenvolvimento girar mais rápido e
se o governo corta gastos essenciais teremos como consequência o desaquecimento
da produção e um grave quadro de recessão.
Todavia, impera um discurso típico dos
economistas neoliberais e libertários, como Hayek, de que as crises e as
mazelas devem-se aos interesses públicos e não privados. Nas palavras de
Mazzucato esse discurso neoliberal não tem efeito, sendo que os interesses
privados é que buscam cooptar os agentes políticos, em sua maioria por meio
antiético ou mesmo ilícitos. Enfim, esse discurso que podemos denominar
ultraliberal - no Brasil defendido pelo ministro da economia – prevê
privatizações, cortes de gastos em setores vitais (educação e saúde), concessão
de rodovias, portos e aeroportos – pois – alega-se ineficiência e incapacidade
por parte dos governos em lidar com a coisa pública. O “modus operandi” está em
privatizar e financeirizar até mesmo serviços estratégicos como a água, gás e o
setor de energia elétrica. Toda infraestrutura do país nas mãos do capital
privado. A política neoliberal faz-se latente no mundo e da mesma forma, já
está em pleno vigor no Brasil.
Enquanto isso, o capitalismo financeiro
favorece e muito o rentismo - que é a obtenção da renda - seja por isenção de
impostos, recebimentos de juros em aplicação de títulos sem a incidência de
impostos, investimento em debêntures de empresas públicas e privadas de alta
rentabilidade e isentas de impostos – a mais pura extração de valor. O
rentismo, da forma que se apresenta impede que haja uma distribuição de riqueza
mais justa. De acordo com Mazzucato, o rentismo não cria qualquer valor por não
pertencer ao comum, e ficar apenas no espectro do indivíduo. Isso explica o
porquê dos rentistas não estarem de acordo com as regras de regulamentação e
serem totalmente contrários a qualquer taxação sobre os investimentos,
dividendos, ou mesmo alterações na cobrança de impostos visando o aumento das
alíquotas. Por isso, o discurso neoliberal volta-se ferozmente contra o serviço
público.
Se por um lado, o lucro obtido pelas
empresas dentro daquilo que chamamos processo produtivo, da qual existe
coletividade e em parte existe algum apoio de políticas governamentais voltadas
para a competitividade, de certa forma dizemos que sim, há criação de valor. Agora,
se os mercados moldam-se apenas num intuito especulativo, ou seja, transacionar
a compra e venda de ativos e com isso obter ganhos, ou mesmo explorar o mercado
imobiliário e dele retirar renda, sem qualquer taxação de impostos, então
estaremos apenas extraindo valor. Para que fique bem claro, seja na criação de
valor ou na extração de valor, ambos dependem do dinheiro público para
proporcionar o desenvolvimento e a geração de riqueza.
Somente o coletivo tem a plena
capacidade de efetivar a criação de riqueza, sendo que ele (o coletivo) possui
o tão abnegado “general intellect” (o saber difuso marxista) capaz de inovar.
Todas essas questões, pontuais ou não, faz-se mister para compreendermos a
dinâmica econômica relacionadas ao mundo atual em que vivemos. Talvez isso
possa ser um primeiro passo em direção a uma economia deveras sustentável, onde
governo, setor produtivo e a sociedade sejam capazes de repensar as agruras
deste capitalismo moderno sufocante e trazer à baila soluções reais que
condizem melhor com uma democracia verdadeiramente participativa e criadora de
valor.
A especulação no capitalismo financeiro
é a maneira mais fácil de se obter renda, a mais pura extração de valor. Porém,
uma ação de risco, cuja desregulamentação econômica torna mais evidente. Com o
capitalismo financeiro, diversos tipos de ativos financeiros ficaram mais
populares, tais como os derivativos, ou seja, contratos futuros que são
produtos derivados dos ativos originais, uma espécie de seguro. Os derivativos
agora negociados livremente muitas vezes embutem altos riscos, sendo produto da
desregulamentação. Além disso, as opções de compra (calls) e opções de venda
(puts) complementam esse rol de produtos lançados pelo mercado financeiro, como
se fossem mercadorias tangíveis feito um sapato, uma roupa, um carro ou gêneros
alimentícios.
Contudo, não passam de meros papéis, ou
melhor, números em uma tela que dá aos seus detentores o direito de comprar ou
vender dinheiro num prazo futuro. Na maioria das vezes esses ativos financeiros
não demonstram alta liquidez e possuem alta probabilidade de risco. Mais uma
vez, basta lembrarmos da crise dos subprimes de 2008, que colocou abaixo todo
setor imobiliário nos EUA por causa da emissão de papéis que financiavam a venda
de imóveis para pessoas com alto risco de crédito.
O processo de desregulamentação, citado
no livro da Mazzucato, em grande parte caracteriza-se pelo processo de
financeirização, que atualmente supera a economia real, ou seja, o setor
produtivo; sendo a essência do capitalismo moderno.
A evolução do sistema financeiro, de
acordo com Mazzucato, abriu precedentes para a profissionalização da gestão em
investimentos, com o crescimento e aparecimento de variados agentes no setor;
como corretoras, gestores e casas de análises e recomendações de investimentos
imbuídos em atender os apetites daqueles que querem ganhar cada vez mais. Os
planos de previdência privados, dentro das políticas neoliberais substituem a
antiga seguridade social do regime coletivo. Agora, cada indivíduo é o
responsável por sua aposentadoria, já que o Estado não fornece mais o instituto
do bem-estar social e por esse caminho vai a saúde pública, na qual os planos
de saúde individuais privados consomem boa parte do rendimento daqueles que podem
pagar.
Enquanto isso, os grandes fundos de
investimentos e fundos de pensões obtém altos lucros para gerenciar serviços
que deveriam ser públicos e oferecidos a toda população, dado que são pagos
através dos impostos. A realidade está posta nua e crua para que todos possam
ver, o neoliberalismo nos colocam numa condição de empobrecimento, fazendo
acreditar que somos livres e capazes de vencer sem a presença de um Estado e
políticas públicas. A liberdade hayekiana mais uma vez nos joga contra o muro
da ilusão do mundo sem regras.
O tempo do mercado financeiro não se
ajusta ao tempo real, ao tempo histórico e seus movimentos antecipam o futuro.
Sendo mais claro, o mercado financeiro é atinente aos fatos momentâneos.
Talvez, nele caiba o tempo e espaço relativo de Einstein e a sua profusão de
energia cósmica. Pois, os fatos precificam o mercado no antes, no agora e no
depois. Por exemplo: tanto que a pesquisa e os rumores de sucesso das vacinas
para Covid-19, já trouxe expectativas bastante positiva para à alta nas ações
das empresas farmacêuticas e grandes laboratórios. Tal Fato, mostra o quanto o
mercado financeiro é sensível à linguagem e aos signos, sendo que seu humor, um
tanto polar, depende da comunicação e das notícias.
Assim podemos inferir que o mercado financeiro
não está conectado a um mundo físico, real e muito menos importa-se com as
relações de trabalho, de produção e circulação de mercadorias. Sua real
preocupação se dá nos fatos, nas expectativas e sobretudo numa linguagem
simbólica, que se completa em transações econômicas puramente virtuais –
beirando ao fictício. Daí sua aproximação com o mundo relativístico do espaço e
tempo de Einstein. Para complementar esse raciocínio, Mazzucato diz
que as empresas do mundo real que estão fora do mundo financeiro para conseguir
retornos que sejam satisfatórios serão obrigadas a financeirizar suas
atividades de produção e distribuição, e suma, aderir à globalização e ao
neoliberalismo. Isso seria sair do mundo da economia real para aventurar-se num
capitalismo chamado moderno, ou biocapitalismo de Antônio Negri, já discutido
anteriormente neste livro.
Podemos observar que não há saída, o
capitalismo financeiro moldou toda estrutura social e política. A força está
nas mãos das grandes corporações e seus lucros vão em grande parte vão para as
mãos dos acionistas. O Estado que antes detinha o poder de regular essas
grandes corporações e evitar os monopólios, agora estão subjugadas a elas, são
devedores. Até mesmo serviços essenciais foram privatizados e entregues para
essas corporações, que quase não pagam impostos e monopolizam o mercado sem
deixar abertura para concorrência, e impossibilitando o Estado de formular
assistência básica à população. Seria esse o fim do Estado Keynesiano.
A criação de riqueza deixou de ser um
processo coletivo, prevalece apenas a extração de valor típica do setor
financeiro. Para Mazzucato a criação de valor está em transferir a riqueza
produzida do acionista para aqueles que produzem – os trabalhadores. Isso é
criação de valor, por que reconhece o coletivo. Ser trabalhador é participar da
coletividade.
O cerne da desigualdade paira
justamente nos excessos que o mundo financeirizado provoca, por não criar valor
e sim apenas extrair valor dos agentes produtivos. Por fim, a financeirização
apresenta-se como um processo proveniente da falta de regulamentação do mercado
e de sua grande liberdade (com tanto queria Hayek) e o preço que pagamos por
isso, está numa sociedade completamente deteriorada, empobrecida e separada por
um enorme fosso social. Não precisamos apontar o dedo e dizer claramente que as
consequências disso tudo recai sobre os ombros largos do capitalismo moderno,
esse mesmo que devora tudo.
O capitalismo financeiro, não abraça
somente, o mercado de ativos e títulos, em seus poros tem entranhado fortemente
as novas tecnologias e sem qualquer suor extrai-se o valor das inovações. O
“general intellect” de Marx (esse saber difuso da sociedade) é o detentor
legitimo das inovações, como bem disse Mazzucato: a inovação vem do coletivo.
Grande parte dessas inovações exigem um longo prazo e contêm riscos, o
investimento estatal aparece quase exclusivamente como uma opção. O governo é
fundamental para o avanço tecnológico nas palavras da autora. Em geral, o
processo de inovação parte das instituições públicas e universidades, ou é
financiado com dinheiro público destinado às empresas privadas. Esses
financiamentos estatais, que são transferidos às empresas privadas em parte
deveriam beneficiar a população, por exemplo a indústria farmacêutica.
No entanto, a questão é um pouco mais
complicada, por que essas empresas criam patentes desta inovação (no caso de um
medicamento ou vacina, digamos para Covid-19) então ficando sob o domínio
delas, ou seja, a empresa apropria-se desse conhecimento e detêm poder sobre
ele, impedindo que outros tenham acesso; isso é – extrair valor e não criar
valor. A criação de uma inovação por parte do coletivo, em que impera o
“general intellect” equivale ao socialismo cognitivo, há um compartilhamento de
conhecimento e trocas de experiências, na qual o saber a princípio pertenceria
ao âmbito social e coletivo. Um comum. Mas não é isto que ocorre, as forças do
mercado apoderam-se deste conhecimento e o transformam em algo patenteável,
quiçá num produto vendável. Então, a medida que tal inovação é apropriada pelo
mercado e diluída num produto que gera mais-valor e passível de ser trocada, o
socialismo cognitivo deixa existir e impera a voracidade do capital, nesse
momento o homem torna-se mercadoria. O capitalismo financeiro, em sua fome
voraz e implacável deglutiu não somente o dinheiro, mas também as tecnologias
de informação e as redes, conseguiu colocar as inovações do coletivo sob seu
domínio, tanto que as redes sociais viraram verdadeiros monopólios que dominam
o mercado. A maioria dessas redes sociais já exercem um grande poder sobre os
nossos dados e informações. Nas palavras de Mazzucato, o poder dessas gigantes
digitais tem impacto direto na criação, como na extração de valor, e ainda
complementa a autora, que o sucesso dessas empresas se dá graças aos
investimentos públicos, de alto risco. A grande maioria dos trabalhadores
dessas empresas são em sua maioria precarizados e não tem qualquer salvaguarda
das leis trabalhistas, denominados de trabalhadores “uberizados” (sem vínculo
empregatício).
Colocamos aqui uma reflexão importante
sobre está relação público e privado. Os riscos da inovação recai sobre o
coletivo e o Estado, mas os lucros e a renda cabem ao setor privado. É
fundamental alterarmos essa lógica perversa, que em nada contribui para a
sociedade. Enfim, é o trabalho do coletivo que agrega valor – pois - o tempo de
estudo de uma pessoa somado ao trabalho de pesquisa do outro, que em
colaboração com uma outra vai permitir o nascimento de uma inovação, e posteriormente
beneficiará tantas outras. Isso é o “general intellect” que Marx tanto falou em
suas obras.
Numa transcrição literal da frase de
Mazzucato, percebe-se sua crença na força do coletivo ao dizer que “o trabalho
realizado pelo coletivo é que permite o desenvolvimento junto às tecnologias”.
Portanto, cabe ao Estado reconhecer que a inovação vem do comum - do coletivo -
sendo seu papel financiar novas tecnologias. O coletivo só consegue ganhar
visibilidade dentro do espectro da democracia participativa.