Talvez não saibamos direito, mas chegamos ao ápice de um mundo um tanto estranho e tenebroso. A volta de um passado hóstil e violento. Para sermos bem sinceros, a verdade é que nunca tivemos em toda nossa existência humana uma trégua de paz. As guerras, as pestes, a fome, as desigualdades nos acompanham à milénios e com o passar dos séculos só se tornam mais intensas e cruéis. Posso estar e desejo estar errado na minha narrativa sobre a natureza violenta do ser humano, prefiro acreditar na benevolência e no caráter coletivo da sociedade. Não vamos fazer aqui o jogo dos dogmas da religião em traçarmos a dicotomia simplória e infantil do bem e do mal, pois, o grande filósofo e pensador oitocentista Friedrich Nietzsche já nos colocava, diante de seu famoso Ubermesch (além do homem), a ideia de que estamos acima do bem ou do mal. Com tal afirmação, nós seriamos apenas seres viventes em função de uma vontande de desejos, de nos realizamos em plenitude. Justamente, nessa vontade de desejos que "metemos os pés pelas mãos", como diz o ditado popular. Trocando em miúdos, cometemos erros bárbaros cujas consequências nos levam a uma espiral insana de imbecilidades e bizzarices. Por outro lado, estar além do bem ou do mal pode nos torna mais humanos, e assim não sermos tão ensandecidos, ou melhor, tão "porras loucas" quanto parece. Enfim, temos ao nosso favor a racionalidade como capacidade intrínseca de criar elementos lógicos dedituivos e indutivos, de refletir atos e ações enquantos indivíduos. O que de fato nos singualriza perpassa pelo âmbito da linguagem, somos humanos proprensos à comunicação e por meio da fala, da escrita e dos gestos mostramos todo nosso cabedal de significados. Ou seja, produzimos sentido por meio da linguagem criando discursos. Então, o discurso faz de nos seres dialógicos e ideológicos. dialógicos, por sermos capazes de criar dialógos, falas e assim nos fazermos entender. A dialógica é o elemento básico da comunicação, por ela a dicotomia guerra e paz talvez ocorra sob a vontade de algum líder político a depender de sua estratégia comunicacional. No sentido ideológico da linguagem prevalece os aspectos subjetivos e interpetativos do discurso. O quanto pode-se fazer do discurso uma arma para inflar um ideal, um desejo, uma vontade. Sendo portanto, a ideologia um elemento de poder, dominação que recai principalmente sobre o domínio da política. Observa-se que os termos "dialógicos" e "ideológicos" perpetuam-se em si sentidos complementares, estão interligados. A construção ideológica depende do sentido dialógico do discurso para permear se nas entranhas da sociedade e dessa forma se incutir na mente dos indivíduos. Essa relação íntima dialógica-ideológica serviu muito bem a algumas nações para criar sentimentos ultranacionalistas em um aparelho propangandístico poderoso, que culminou no ódio contra os judeus e na segunda guerra mundial. Como já foi dito anteriomente, o espectro do tempo é dinâmico e ciclíco, em poucas palavras e com maior clareza, o mundo da voltas e chega num mesmo ponto. Pois é justamente isso que está a ocorrer novamente, a máquina dialógica-ideológica funciona em pleno vapor na contemporaneidade ao fornecer uma narrativa muitas vezes contraditória e inverossímil. Na maioria das vezes tentamos encontrar racionalidade num discurso ideológico que para nós não possui qualquer sentido lógico, mas para o outro é plausível e verdadeiro. Assim, constroem-se os antagonismos e força-se uma imposição seja de um povo sobre outro, de parte de elementos de uma sociedade sobre os outros elementos. É desses construtos dialógicos-ideológicos discursivos que nascem todo tipo de preconceito, discriminação e ódio gerador de desigualdade racial, gênero, sexual, social e econômico.