sexta-feira, 4 de abril de 2025

Conto - briga de bêbados

 

A noite já cambaleava pelas esquinas da cidade, e com ela, dois ilustres representantes da boemia local, carinhosamente apelidados de Zé da Cana e Tonho Garrafa, iniciavam seu habitual “debate” etílico. Zé, com seu bigode farfalhante e camisa florida meio aberta, acusava Tonho, um sujeito magricelo de óculos tortos, de ter “olhado feio” para sua garrafa de cachaça.

Tonho, com a dicção já embaralhada como um novelo de lã, gesticulava amplamente, quase derrubando um poste, e então grita: 

- “Eu? Olhar feio pra essa… essa… água de bateria turbinada? Jamais, seu… seu bigodudo invejoso!”

A discussão escalonou rapidamente para acusações de roubo de paçoca em botecos passados e disputas sobre quem cantava “Evidências” mais desafinado. A plateia, composta por um cachorro vira-lata sarnento e a sombra de um orelhão, observava com desinteresse.

Zé da Cana, num rompante de indignação, tentou dar um passo à frente, mas seus pés pareciam ter entrado em greve. Cambaleou, agarrou-se ao braço de Tonho, e ambos quase foram ao chão num abraço desajeitado.

 - “Tá vendo só? ”, exclamou Tonho, triunfante, “Você não consegue nem andar direito! Quer brigar comigo?”

 - “Isso é porque… porque… a rua tá torta! ”, retrucou Zé, apontando para o asfalto com um dedo vacilante.

A briga atingiu seu ápice quando Zé tentou tirar o chinelo para arremessar em Tonho, mas acabou tropeçando no próprio pé e perdendo o equilíbrio. Tonho, aproveitando a “vantagem”, começou a declamar versos de um samba antigo, trocando todas as palavras e gesticulando como um maestro regendo uma orquestra de mosquitos.

No fim das contas, a “luta” se resumiu a uma série de tropeços, acusações sem nexo e risadas abafadas. Cansados e mais amigos do que inimigos (como de costume), Zé da Cana e Tonho Garrafa se apoiaram um no outro e seguiram cambaleando pela noite, em busca de mais uma dose para “acalmar os ânimos”. A rua, aliviada, voltou ao seu silêncio habitual, guardando para a próxima noite mais um capítulo da épica saga etílica da dupla.

A briga de Zé da Cana e Tonho Garrafa, por mais risível que pareça, espelha uma verdade filosófica incômoda: muitas vezes, as nossas disputas mais acirradas e as nossas convicções mais inflamadas perdem a nitidez e a importância sob a névoa da irracionalidade, seja ela induzida pelo álcool ou por qualquer outra paixão desmedida.

Assim como os tropeços e as palavras desconexas dos bêbados revelam a fragilidade do seu embate, também as nossas discussões acaloradas, quando desprovidas de lógica e empatia, se tornam meros espetáculos de despropósito. A busca por ter razão a qualquer custo, o apego a ressentimentos mesquinhos e a incapacidade de reconhecer a própria instabilidade nos levam a um ciclo vicioso de conflitos sem sentido.

A comicidade da cena nos convida a refletir sobre a futilidade de muitas das nossas guerras cotidianas. Talvez, ao reconhecermos a semelhança entre a nossa teimosia embriagada de certezas e o cambalear dos amigos Zé e Tonho, possamos encontrar um caminho para a moderação, para a escuta e, quem sabe, para um abraço desajeitado que ponha fim à disputa antes que ela nos derrube a todos. A moral da história reside, portanto, na humildade de reconhecer a nossa própria vulnerabilidade e na sabedoria de escolher a paz, mesmo que ela venha acompanhada de umas boas risadas da nossa própria tolice.

 

 

segunda-feira, 17 de março de 2025

A Inteligência Artificial, Algoritmos e o Mundo Hiper-real: Uma Análise à Luz de Baudrillard - Parte 3


Em nossos tempos, cuja contemporaneidade desconstrói parte de nossa subjetividade humana e assim nos insere numa subjetividade maquinal, em que homem e máquina se fundem aos algortimos. Perdemos com isso a essência do saberes e dos fazeres próprios da cultura. De maneira mais clara, é o humano tornando se incapaz de lidar com suas dificuldades por não mais conseguir se expressar por meio de sua linguaguem natural. Claro que pode parecer um exagero e que apenas estamos fantasiando essa tal maquinização do ser humano. Enfim, a realidade tornou-se um simulacro, uma imitação que nos aprisiona em escolhas algorítmicas, talvez um mundo paralelo e binário de zeros e uns que contralam nosso modo de vida. Um mito da caverna, em que imagens sejam mais reais que o próprio real. Sim, o hiper-real. Toda essa mudança tem alterado significativamente o"modus operandi" de nossa existência, e como consequência afetado a nossa psique. Ou seja, a nossa alma não mais nos pertence, foi entregue por completo ao sabor dos algoritmos, que ditam como devemos viver, nos comportar e que caminhos seguir. Não temos mais vontade própria, somos apenas androides, talvez zumbis eletrificados. Para compreendermos melhor toda essa mudança, temos que buscar numa árdua tentativa (em Baurdrillard) algumas das respostas. Pois, os impactos da Inteligência Artificial na psique humana sob a luz do simulacro de Baudrillard e o hiper-realismo introduz logo de cara uma interseção entre a Inteligência Artificial (IA), a teoria do simulacro  e o conceito de hiper-realismo, justamente por desenhar um cenário complexo e intrigante sobre os impactos da tecnologia na psique humana. Nesse contexto, Baudrillard propôs que, em nossa sociedade pós-moderna, a realidade se tornou um simulacro, uma cópia sem original. A hiper-realidade, por sua vez, é um estado em que a distinção entre o real e o simulado se torna cada vez mais tênue. A IA, com sua capacidade de gerar conteúdos cada vez mais realistas e personalizados, intensifica o processo. Algo capaz de despersonificar o humano e criar desconfortos imperceptíveis no longo prazo. Tal despersonificação afeta não somente nossa individualidade, mas também nos retira a capacidade de enxergar o outro. Dado o outro como aquilo que nos completa e ao mesmo tempo nos diferencia. Sendo a Inteligência Artificial (IA)  corolário dessa destituição da alma, os impactos são negativamente inevitáveis e deletérios. Podemos aqui colocar alguns desses impactos da IA que custam muitos caros a nossa psique humana: 

  • Perda da Realidade: A IA, ao criar ambientes virtuais cada vez mais imersivos e personalizados, pode levar a uma perda da noção de realidade. A linha tênue entre o que é real e o que é simulado pode confundir a mente humana, levando a uma sensação de desconexão com o mundo físico;
  • Isolamento Social: A interação cada vez maior com dispositivos e plataformas digitais, mediada pela IA, pode levar ao isolamento social e à diminuição das relações interpessoais autênticas. As interações online, por mais ricas que possam ser, não substituem o contato humano face a face;
  • Manipulação da Percepção: A IA pode ser utilizada para manipular a percepção das pessoas, através da criação de notícias falsas, deepfakes e algoritmos de filtragem que reforçam vieses e crenças pré-existentes. Isso pode levar à polarização da sociedade e à dificuldade em construir um consenso;
  • Dependência Tecnológica: A crescente dependência da IA pode gerar ansiedade e medo da obsolescência. A sensação de que a IA pode tomar decisões melhores que os humanos podem levar à alienação e à passividade;
  • Questões Éticas: A IA levanta questões éticas complexas, como a privacidade, a responsabilidade e a autonomia. A manipulação de dados pessoais e a criação de algoritmos que discriminam grupos específicos são apenas alguns dos desafios que a sociedade precisa enfrentar.

Vejam que não faço distinção entre alma e psique, pois as trato como equivalentes. Alma ou psique - não importa a denominação - seria algo que vai além do humano, o inconsciente talvez que nos impõem além de nosso próprio tempo e espaço.  A recôndita subjetividade humana que agora se vê dominada  pelas forças da Inteligência Artificial que alterou completamente sua forma de linguagem. Por outro lado a IA oferece inúmeras possibilidades para o desenvolvimento humano, mas também apresenta desafios significativos. É fundamental que a sociedade desenvolva mecanismos para garantir o uso ético e responsável da IA promovendo o bem-estar humano e a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. No entanto, precisamos saber que a nossa alma não será a mesma a partir de agora, dado que a vendemos por um preço irrisório perante os custos futuros e os impactos são visíveis e irreversíveis. Enfim, nos tornamos máquinas, na direção contrária ao desejo do boneco pinóquio.  

terça-feira, 4 de março de 2025

Idiocracia - a democracia dos imbecis

Que a verdade seja dita.Sim somos uma sociedade animalizada pelo ódio e o desprezo destilado por uma parcela que se acha no direito de dominar e escravizar aqueles que são por eles intitulados de inferiores: negros, nordestinos, mulheres, LGBTs. Vitimas de um jogo perverso colocado pelas elites que ditam não somente o capital,mas também o monopólio da cultura e desta maneira impõem o modo deviver e pensar. O diferente é posto de lado do espectro social, político e econômico. Qualquer tentativa de romper tal espectro logo é retirado de cena, principalmente através da violência - seja ela física ou simbólica. A coerção violenta através dos próprios aparelhos estatais a serviço do capital e contra a população. Dado que o Estado seria único a ter o monopólio da violência, no sentido de minimizar a barbárie. Ações violentas são cometidas cotidianamente contra àqueles intitulados os "outros", diga-se os diferentes. No entanto, estes são milhões que estão nos pontos de ónibus, nas ruas, nos subempregos e nos trabalhos mal remunerados. Muitos sob as batutas de um chefe igual a eles (um mero trabalhador, que acreditou obter uma chance ao virar contramestre, supervisor ou gerente de baixo escalão, ainda sim é apenas mais um trabalhador assalariado).  Enquanto isso, nas ruas das cidades vivem os invisíveis, o substrato da miséria humana, que em outros tempos já fôra um trabalhador e no momento amarga o mais completo descaso da sociedade. Tidos pela maioria como a escória, o lixo descartável. Vivemos a grande mentira do liberalismo e da não necessidade do Estado intervir na economia, que prega a liberdade e a capacidade do indivíduo de criar suas próprias oportunidades. Bem, sejamos francos - a meritocracia é um grande equívoco, ou melhor um engodo criado para enganar os desavisados que creem no crescimento pessoal e na busca individual por oportunidades. A bizarra tese do ser empreendedor de si mesmo. Durante o período dos anos 70 e 80 assistimos a derrocada do Estado de bem-estar social, o empobrecimento da população, o fim da estabilidade dos empregos e a queda nos salários. As grandes corporações se maquinizaram e substitui uma grande parte de sua mão de obra, assim enfraquecendo os sindicatos e o poder de negociação. A maquinização se deu em todos os sentidos da vida, principalmente com o aparecimento dos computadores, e as redes inteligentes de comunicação - a internet - as redes das redes. Passamos então, do capitalismo de produção industrial para outro enredado em telas e plataformas, gerenciado por algoritmos que comandam todas as trocas financeiras, agora subproduto do capital. Talvez, o mais peverso disso tudo, não seja em si o aspecto do trabalho. Mas sim o mal uso das tecnologias no ambiente das plataformas midiáticas, que nos jogaram para o interior da desinformação. O mundo da idiocracia, uma espécie de mundo dos idiotas ao distorcer toda realidade. Tal fato me fez lembrar de um filme, cujo título é "Idiocacia" (uma espécie democracia dos imbecis) que retrata muito bem o mundo tomado por pessoas com QI bem abaixo da média e incapazes de lidar os sérios problemas do planeta. Tudo se transformou num enorme reality show - característica própria dos ideais neoliberais. A liberdade de ser idiota, a democracia dos imbecis. De fato, a profecia vista no filme se realizou. Sim, estamos a pleno vapor no turbilhão da Idiocracia e as redes sociais não nos deixam mentir. Basta acessarmos os aplicativos de nosso celular, e então, veremos vídeos de dancinhas rídiculas e patéticas, depoimentos de ódio, mensagens de desinformação e fake news. Conteúdos que geram uma série de consequências nocivas ao desenvolvimento da sociedade, que cada vez mais é incapaz de pensar e refletir os problemas do cotidiano. Assim como no filme citado, as pessoas se saboreiam apenas com a mediocridade das telas e de programas torpes. Nos espanta saber que grande parte da sociedade não percebe que está sendo manipulada como gado em direção ao abate. A imbecilidade nos torna refém da despolitização, enquanto a mídia faz o seu papel da falsa imparcialiadde e de informar pelo viês que lhe seja mais adequado (a mais pura desinformação). Já as redes sociais - onde a mera opinião se transforma em informação e ciência - diga-se terra de nínguém, tudo pode ser dito. Afinal estamos em uma democracia e a liberdade jamais deve ser tolhida. Mas, será que ensinar errado, desacreditar a ciência, agredir e desvalorizar professores, despolitizar a sociedade e desqualificar aqueles que buscam aprender está no âmbito da liberdade e nos ideiais democráticos. Quem garante que as redes sociais e as plataformas tecnológicas nos permitem excercer a plena liberdade para exprimir nossos verdadeiros pensamentos. De uma coisa sabemos, que influencidores digitais e até alguns profissionais de mídia que se dizem filósofos ensinam errado com a devida conivência de seus patrões, patrocinadores ou apoiadores. Enfim, já começa erradamente quando um desses pseudos-pensadores filho da midia liberal tenta nos enganar ao dizer que as revoluções liberais burguesas não foram construídas com base na violência. Isso é não saber o mínino de história do ensino médio. Qualquer um que tenha ido a escola sabe que a revolução francesa foi um "rolar de cabeças" literalmente. Agora, se não houve violência, o que houve então? Digo, houve mal caratismo, aliado a mais completa vontade de ensinar errado para defender os patrões da elite burguesa. Assim, criar a desinformação e dar a entender que somente as revoluções socialistas tiveram o emprego da força e da violência -  típico de seus detratores, que desejam o Estado apenas para lhes servirem, e assim fazer multiplicar suas rendas e riquezas. Quantos aos idiotas que povoam as classes menos abastadas servem de porta-voz e ponte nas redes e mídias para disseminar, não só ódio, mas também ensinar errado, desinformar e despolitizar parte da sociedade. São os denominados idiotas útéis, ou podemos dizer os cachorrinhos da elite.   

sábado, 15 de fevereiro de 2025

A Inteligência Artificial, Algoritmos e o Mundo Hiper-real: Uma Análise à Luz de Baudrillard - Parte 2

Nesta segunda parte de nosso texto os elementos norteadores em relação a inteligência artifcial (IA) serão analisados sob a ótica do capitalismo de plataforma (O domínio das grandes corporações de tecnologia da informação, tais como Facebook, Google, Amazon, Netiflix, além da Apple e Microsoft cujo desejo é tomar para si os dados e informações das pessoas e criar a partir daí mecanismos de IA cada vez mais semelhantes aos humanos) e a sua intrínseca simetria com a ideia de simulacro, amplamente difundida pelo filosófo Jean Baudrillard, que é percebido inclusive no meio cinematográfico especificamente pelo filme Matrix (Já discutido anteriormente na parte 1). Então, a relação entre inteligência artificial (IA), capitalismo de plataforma e o simulacro, conceituado por Jean Baudrillard, é um tema bastante complexo e que encontra um paralelo fascinante no universo cinematográfico de Matrix. Para compreender essa interconexão, é preciso analisar como a IA molda nossas realidades, como as plataformas digitais se apropriam de nossos dados e como essa dinâmica se assemelha à construção de uma realidade simulada, como a apresentada no filme. Então, o capitalismo de plataforma e o simulacro tem seu centro baseado na coleta e análise massiva de dados. Através de algoritmos de IA, essas plataformas constroem perfis detalhados de seus usuários, permitindo a criação de experiências personalizadas e altamente segmentadas. Essa personalização, no entanto, pode levar à formação de "bolhas de filtro", onde os indivíduos são expostos apenas a informações que confirmam suas crenças pré-existentes, limitando sua visão de mundo e fortalecendo a fragmentação social. Dessa forma, a IA funciona como um motor da simulação, justamente por desempenhar um papel crucial na construção dessa realidade simulada. Os algoritmos de recomendação, por exemplo, determinam quais produtos, notícias e conteúdos serão apresentados aos usuários, influenciando suas decisões de compra e suas opiniões. A capacidade da IA de gerar conteúdo cada vez mais realista, como as deepfakes, desafia a nossa capacidade de distinguir o real do artificial.Com isso somos cada vez mais afastados de fato do mundo real e jogados num mar de desinformações, que permitem a criação de toda e qualquer teorias conspiracionistas, falsos mitos e invencionices mirabolantes. A realidade e a ficção andam juntas, e torna-se mais difícil distinguir o original da cópia. O ambiente cinematográfico sabe muito bem como se aproveitar dessas nuances, digamos talvez tecnológicas. Um exemplo é o paralelo com Matrix. Pois, o filme apresenta uma realidade simulada na qual os humanos são conectados a um sistema que controla suas mentes e lhes apresenta uma falsa realidade. A IA, nesse caso, desempenha o papel de controlador, manipulando a percepção dos indivíduos. Essa alegoria cinematográfica encontra paralelos com o mundo real. As plataformas digitais, ao coletar e analisar nossos dados, constroem um modelo de nós mesmos e nos apresentam um mundo virtual que se adapta aos nossos desejos e expectativas. Assim como os personagens de Matrix, podemos estar vivendo em uma realidade simulada, onde nossas ações e escolhas são moldadas por forças invisíveis. Ao trazermos para dentro do texto essa reflexão, observa-se que o conceito de simulacro aliado à inteligência artificial não ocupa um espaço de neutralidade, nem sequer de imparcialidade. Sendo que existem lados muitos bem definidos que disputam esse front justamente por envolver não só a questão econômica, mas principalmente uma batalha pelo poder. Certamente, isso não inclui a grande massa - ao contrário - necessitam ser manipuladas e apenas crer no que passam nos noticiários e nas menssagens postadas nas redes. Tudo isso tem implicações diretas na atual sociedade - a sociedade da informação - uma denominação um tanto contraditória, para não dizer jocosa. Portanto, tal interconexão entre IA, capitalismo de plataforma e simulacro levanta questões importantes sobre a natureza da realidade, a privacidade, a manipulação da informação e o futuro da democracia. Algumas das principais implicações incluem:

  • Perda da autonomia: a personalização excessiva pode levar à perda da autonomia individual, à medida que as escolhas são cada vez mais influenciadas pelos algoritmos.
  • Desigualdade: o acesso desigual à informação e às tecnologias digitais pode aumentar as desigualdades sociais e econômicas.
  • Manipulação política: as plataformas digitais podem ser utilizadas para manipular eleições e disseminar desinformação.
  • Desconexão da realidade: a imersão em mundos virtuais pode levar à desconexão com o mundo físico e com as relações sociais.  

Em suma,  IA, o capitalismo de plataforma e o simulacro estão intrinsecamente ligados. A capacidade da IA de analisar grandes volumes de dados e gerar conteúdo personalizado, combinada com o modelo de negócio das plataformas digitais, cria um ambiente propício à construção de realidades simuladas. Essa dinâmica, que encontra um paralelo na obra Matrix, levanta questões profundas sobre a natureza da realidade, a privacidade e o futuro da sociedade.

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Um pequeno recado ao amigo desconhecido

A implacável crueldade do tempo distancia os amigos, e também abala as ideias e os propósitos de uma vida. Os caminhos se abrem em fendas e abismos incuráveis, deixando profundas cicatrizaes. Absolutamente tudo fica para trás, em passado longínquo daquilo que um dia foi à esperança das conversas sobre pensamentos e memórias. As fronteiras da liberdade e de um mundo melhor se fecham por inteiro, talvez não resta mais nada a se fazer. Nisso, os sonhos são completamente destruídos e a utopia se esvai por entre os dedos. É meu caro amigo, o tempo age contra todos nós, não resta mais nada a fazer. É como uma ponte em ruínas,com trincas e rachaduras, uma estrutura preste a desabar. Assim, os rumos se invertem, bem naquilo que um dia se convergia em ideais e crenças. Então, de repente tomamos o caminho inverso e o que nos resta, talvez, seja a vaga lembrança de um passado que não mais existe. Apenas, rostos estranhos ofuscados pela sombras. Mas como somos teimosos, insistimos em colocar em palavras os nossos sentimentos mais pantanosos. Então caro amigo desconhecido o que pensa você disso tudo? sabemos que a pergunta é dura, se não capciosa  - não há uma resposta. Assim, indagamos, como pode suportar a dor de viver em uma sociedade doente e ser incapaz de sentir a dor outro. Ver milhões de miseráveis almas atormentadas a sobreviver na mais completa marginalidade desse mundo hóstil. É aí está você - com sua pança gorda - sentado em uma bela cadeira da mais fina madeira de lei que custou a vida centenas e cetenas de árvores e homens. Em sua bela sala de jantar no mais nobre estilo vitoriano, enquanto desguta, sem qualquer remorsos, culpa ou compaixão, vorazmente, seu caviar e as nobres lagostas preparadas por um jovem "chef de cuisine". Um desses tantos outros, que já um dia vivera a miséria absoluta. Mas aprendera a arte da alta gastronomia - como se fosse a condição única para sua ascenção social. É tocante a mentira da meritocracia, como se num passe de mágica todos pudessem se agarrar as parcas oportunidades. Ainda sim, prezado amigo, continuas aí a beber seu caríssimo vinho do Porto, cujas uvas foram pisadas pelos pés sujos dos pobres trabalhadores das vinícolas, suados de tanto pisar e repisar sobres elas. Talvez, não sinta odor dessas pessoas, somente o gosto refinado do vinho que lhe custou mais do que anos de trabalho dessas pessoas. Certamente, você não compreenda o mais simples conceito sociológico de classes sociais, de desigualdade e de concentração de renda. Sua preocupação está apenas dirigida para o seu estômago e nada mais. Daí termina toda sua capacidade de ver o outro, de reconhecer que a miséria humana é fruto de sua vaidade, de seu egoísmo e do seu narcismo exacerbado. No pódio, há só você em primeiro, segundo e no terceiro lugar e não existe mais espaço, você os ocupa por completo. Quanto aos outros, o nada - o resto. Tudo bem, ou não, é você fruto da nobiliarquia, das antigas gerações de homens que jamais plantaram, ou colheram algum fruto. Possivelmente, não saiba que a madeira da enorme e pesada mesa de sua sala de estar foi obra de algum lenhador, carpinteiro ou artesão vindo da plebe. Desavisado amigo isso é algo que você desconhece, ou se tem uma vaga noção prefere fechar os olhos. Por mais que não queira olhar para baixo, ainda sim irá enxergar, nesses tempos atuais, lá fora pelas ruas - de dentro do seu potente carro blindado - nos sinais um menino maltrapilho sujo pedindo esmola. Do outro lado da rua, verá seres humanos debilitados pela fome e pelas drogas como forma de sobreviver. Estranhamente, você não se comove, pois está tomado pelo fruto do mais ardiloso capital, que o cega. O que mais irrita, é o seu riso, um riso alto de escárnio, maldizendo a tudo que não seja ouro, prata. A sua risada insuportável aos ouvidos, se volta contra os humildes, os trabalhodores, aos sem-tetos, aos miséraveis, cujo define como ratos de esgoto. Ao menos um dia, apenas um desejaria que vivesse a desgraça dos infortúnios. Como passarias sua vida, sem o conforto e o requinte de seu castelo, se caísse junto a sarjeta da rua. E então, comesse o pão amassado pelo cão. É isso que vivem diaramente aqueles visto da janela de seu carro. Mas você não se importa, é indiferente. E essa sua indiferença se vê no semblante de alguém que não compadece à desgraça alheia. Para eles - isso você jamais compreenderá - cada migalha de pão, cada cobertor e um lugar mais quente protegido da chuva e do frio já seria o suficiente - mesmo que tudo isso seja tão pouco, quase nada. Neles moram a amargura, muitas vezes ou não visível, de se sentirem um fracassado, um derrotado em um sistema perverso e desigual. Neles não existem ilusões. Porém, o que mais chama atenção, é justamente você, você sim - e não tente se esquivar - ter tudo e ainda ser como eles, simplesmente por não ter mais o brilho nos olhos e a capacidade de sentir. A sua mais completa fala de tenacidade e de se iludir com a vida o torna tão miserável quanto eles. A única coisa que lhe sobra é a pobreza de um espírito, portanto, só lhe resta o dinheiro. 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

O mote da mentira

Diante das milhares ou melhor milhões de notícias em rádios, tvs, internet. Essa semana dois fatos chamaram grande atenção nos noticiários da mídia tradicional e também nas plataformas de mídias digitais. Apesar de serem fatos distintos, ambos demostram certa preocupação de como parte das classes políticas ligada aos setores da direita conservadora costumam aparesentar atitudes um tanto reacionárias, para não dizer propriamente dita nefestas, ressentidas e raivosas contra a sociedade, De um lado, tem-se uma enxurrada de falas mentirosas contra a medida de fiscalização pela Receita Federal sobre o pix. Quando este grupo de uma direita desonesta insinuam a respeito de sua taxação. Do outro lado, e não menos danoso, porém em menor grau nas mídias os paulistanos foram pegos de surpresa com a açao desastrosa da prefeitura de São Paulo em criar um muro que isola as ruas onde está a cracolândia. Discorrer sobre estes dois assuntos torna-se vital para compreendermos uma série de equívocos políticos provenientes do campo conservador, cujas atitudes beiram o totalitarismo, ao fascismo no país. Por isso, temos a obrigação de esclarecer a realidade dos fatos e desmascarar aqueles que agem no âmbito do banditismo para enganar a população. Então, vamos fundo à verdade. No que toca ao pix, não haverá qualquer taxação e sim a fiscalização como já ocorre nas transações via transferência eletrônica (os TEDs). O banco já emite essas informações ao fisco, seria então uma ampliação para as fintechs e bancos digitais. Os valores dessas transaçoes seriam ampliadas, de 2000,00 para 5000,00 no caso das pessoas físicas e as júridicas a partir de 15.000,00, anteriormente o valor era de 6000,00. Uma benefício maior para toda população. Mas não, nesse país em que parte da classe política joga sempre contra o povo e só sabe utilizar as redes para surfar nas ondas das fake news gera desinformação e cria a desestabilização da democracia. É inadimissivel essa onda de notícias falsas vinda principalmente dos meios políticos, trata-se de um crime e não de mera opinião. Pois, devem ser punidos com o rigor da lei. Dado que a fala de pessoas públicas induz diretamente o povo ao desconhcimento e provoca alarme falso. Infelizmente, faltou por parte do governo ser mais firme em sua cominucação para desmentir essa onda de desinformação (fake news). O erro maior foi justamente voltar atrás e demonstrar insegurança na decisão. Conduta que pode refletir incisivamente nas proxímas eleições e colocar tudo a perder. De forma alguma o governo deveria se vitimizar perante tais ações criminosas implementadas por esses energúmenos da oposição. O lema deles é cria o caos e desestabilizar o governo. Sendo que não tem projetos e programas factíveis para sociedade. Quando tem algum e em benefício das elites ou para si próprios. Elementos representantes dessa ala da extrema-direita buscam mídia - nem se quer preocupam com a democracia e muito menos a república. Mais uma vez estão atrelados às camadas endinheiradas da sociedade. Quanto aos projetos  que trazem benefícios á população mais carente são totalmente contra. Esses e mesmos, que ficam aí na mídia e redes sociais desconhecem a realidade do povo brasileiro. Não qurerem saber que há fome, favelas, ausência de creches, saneamento básico e tantas outras mazelas. Eles representam apenas o conservadorismo imbecil da pautas morais, jocosamente são imorais, indecentes e desumanos. Meus caros leitores - sabem - essa extrema direita custa caro ao país, que junto ao centrão fisiológico, só querem obter verbas cada vez mais gordas através de emendas fantasmas para fazer suas eternas políticas eleitoreiras. Assim criar novos gados com as falsas promessas e dinheiro público vindo de nossos impostos. É chocante ver a falta de caráter, a insensibilidade, o despreparo, além da maldade de alguns desses calhordas que ocupam cargos políticos - eleitos por nós. A insanidade chegou a um ponto que passou de todos os limites. Vejam só o caso da cidade de Sâo Paulo, cujo prefeito (representante da direita) colocou muros na região da cracolândia. Pense bem - Muros!!! numa atitude que demonstra a mais total incapacidade de governar, de resolver os problemas da cidade. Pode isso!!! e revoltante. Pois, colocar muros é coisa de fascista e da pior espécie. Muro representa o isolar, o tapar o problema. É não ter qualquer solução digna para com o caso em questão. Trata-se de plena carência de empatia, compaixão e zelo com aqueles que mais precisam de cuidados do poder público. Somente seres abjetos pensam na sandice de ilhar o outro por meio de muros, Carrascos como Trump, Netanyahu e agora tem esse tal de Nunes em São paulo. Medidas cruéis como essas só pode ser coisa de políticos que não tem qualquer projeto social e políticas públicas. Não desejam integrar pessoas na sociedade, preferem esconder, ilhar e humilhar aqueles já tão humilhados pela vida. Meus caros, ações típicas de uma extrema direita xenofobica, misógina, racista, sexista e homofóbica. Estranhamente, muitos deles se orgulham, dizendo pertencer a bancada dos bons costumes , da família cristã, e patriotas num conservadorismo hipócrita. Típico da elite tupiniquim que se arrasta por séculos e séculos neste país. Um patriarcado vindo de uma herança maldita dos tempos coloniaís. Querem a todo custo a segregação, o aparthaid, o regime de castas para continuarem no poder e manter suas vidas deluxo, ostentação e riqueza. Quanto ao smuros lhe servem de instrumento para isolar tudo aquilo que lhe dão mais ódio: a pobreza, o vício, a miséria humana do outro. No entanto saibam, nós que lutamos pelo bem estar social, pela igualdade de oportunidades, pelo coletivismo e inclusão - vamos rebelar e com todas as forças gritar aos quatros ventos,que onde houver muros, serão derrubados - tijolo por tijolo. Basta de fascistas no poder. Desejamos a democracia e aqueles que foram isolados pelos muros possam ser reintergrados ao convívio social, e usfruir dos mesmos direitos que cabem a todos. A informação verdadeira, clara e concisa dos meios de comunicação e das redes digitais coletivizados pertencem a sociedade e é ela a ferramenta da democracia, que vai banir todas os muros físicos e mentais. A cidade não pode ser escarivizada por seus detratores. Por isso, devemser extirpados da política. Para cheragmos a tal intento necessiatmos de um coletivismo forte e aguerridoem suas ações. Aquele que cria muros não está preparado para a liberdade do outro e muito menos para governar. Pois, flertam com o autoritarismo, faltam-lhes a habilidade para se solidarizar com as mazelas do mundo e encontrar saídas reais, que só se econtra num grande estadista. Os políticos dessa estirpe rastejam pelo lado escuro do subhumano, vendem-se facilmente e apelam para as negociatas e bravatas com o puro medo de um dia voltar aos  esgotos do poder. Por isso seu mote aponta-se para os muros e não querem de forma alguma inaugurar pontes. 

sábado, 11 de janeiro de 2025

A Inteligência Artificial, Algoritmos e o Mundo Hiper-real: Uma Análise à Luz de Baudrillard - Parte 1


Será que o mundo em que vivemos é o mundo real das coisas e dos seres concretos. A xícara de café que está a minha frente de fato existe, e essa sala a qual estou -  as suas paredes podem ser tocadas sem desaparecer  diante de meus olhos. Ou tudo não passa de mera ilusão. Quem garante que meu corpo não vai se desmaterializar e depois se teletransportar para outro espaço ou dimensão. Pois, tudo pode ser um sonho ou não. Aquelas máquinas lá fora - que pertubam  meu sono - um dia podem se revoltar contra mim e talvez até mesmo me escravizar e assim retirar de minha alma toda a energia vital para reproduzir-se continuamente. serei apenas um escravo delas. São essas máquinas fruto de minha criação, seus algoritmos foram desenvolvidos para atender apenas aos meus comandos, o código fonte por mim foi escrito. Agora, como assim aprenderam a pensar livremente; libertaram-se de sua condição maquinal e passaram a querer dominar tudo aquilo que é humano. Os algoritmos já não mais obedecem as vontades de se seus criadores, trilham seus próprios caminhos; transformaram-se em inteligências artificiais que imperam o planeta com sua linguagem semiótica e máquinica. Não há nelas qualquer semântica, por isso são incapazes de sentir a dor, a angústia, o prazer e os desejos humanos. O domínio das máquinas ultrapassa o real e dessa forma se apresenta no espaço do hiper-real de Baudrillard. O além do real composto por simulações e simulacros, portanto a Inteligência Artificial (IA) não tem nada de mágico ou sobrenatural sendo apenas uma escolha entre a pílula azul ou a pílula vermelha. E tal escolha é eminentemente humana. Então, como diz Morpheus: "Bem vindos a Matrix" - um excelente filme das irmãs Wachowski, de 1999.  A Matrix, esse mundo simulado da qual vivemos alheio a realidade e dentro dela somos manipulados por seus algoritmos e códigos fontes  num ambiente orientado a objetos que nos retira qualquer possibilidade de subjtividade, onde o "eu" passa a ser constatemente atacado até tornar-se um completo nada. Um vazio existencial. A Inteligência Artificial, agora soberana, vence todas as batalhas numa eterna revolução das máquinas. Matrix irá ser o nosso ponto de partida, mas também poderá ser o ponto de chegada para introduzirmos o microcosmos das IAs relacionadas com hiper-real baudrillardiano. Para começar, Jean Baudrillard em sua obra "Simulacro e simulação" aponta uma linha bastante tênue entre realidade e simulação. As teorias do filósofo permitirá caminharmos sob uma superfície bastante sinuosa dos entrelaçamentos da IA com os algoritmos e o mundo do hiper-realismo. Enfim, os algoritmos - conceitualizados de maneira bastante crua - apresentam-se como sequências de instruções que guiam o funcionamento dos sistemas de IA, são os engenheiros da nossa nova realidade. Eles moldam as informações que consumimos, as decisões que tomamos e as experiências que vivemos. Através de técnicas como aprendizado de máquina e deep learning, os algoritmos são capazes de identificar padrões em grandes conjuntos de dados e fazer previsões complexas. No contexto da hiper-realidade, os algoritmos atuam como mediadores entre o indivíduo e o mundo, filtrando e organizando a informação de acordo com critérios muitas vezes opacos. As redes sociais, por exemplo, utilizam algoritmos para personalizar o conteúdo apresentado aos usuários, criando bolhas de filtro que reforçam crenças pré-existentes e dificultam o contato com perspectivas divergentes. São esses aspectos dos algortimos que possibilitam os surgimento das Inteligências Artificiais e ao mesmo tempo abrem espaço na produção de simulacros. Sendo que a IA, por sua vez, é capaz de gerar conteúdos cada vez mais realistas, desafiando nossa capacidade de distinguir o real do artificial. As deepfakes, por exemplo, são vídeos manipulados digitalmente que podem ser usados para criar narrativas falsas e difamar pessoas. Por isso também, ela é utilizada para gerar textos, músicas e imagens, criando um mundo no qual a originalidade se torna cada vez mais difícil de identificar. Nesse sentido, a IA atua como uma máquina de produzir simulacros, no sentido baudrillardiano do termo. Os simulacros são cópias que não possuem original, representações que se apresentam como reais, mas que na verdade são construções artificiais. A proliferação de deepfakes e a geração de conteúdos sintéticos pela IA representam uma ameaça à nossa capacidade de distinguir o verdadeiro do falso. A combinação de algoritmos e IA nos conduz a um estado de hiper-realidade, no qual a simulação se torna mais real do que a própria realidade. As experiências virtuais, cada vez mais imersivas, tendem a se confundir com as experiências do mundo físico. A linha entre o online e o offline se torna cada vez mais tênue, e a noção de identidade se fragmenta. Baudrillard argumentou que na era da hiper-realidade, a realidade se torna uma simulação de si mesma. Os signos não mais remetem a uma realidade exterior, mas se referem a outros signos, criando um sistema de referências autoreferencial. A IA e os algoritmos amplificam esse processo, criando um mundo no qual a verdade é relativa e a objetividade é questionável. A relação entre IA, algoritmos e o mundo hiper-real é complexa e multifacetada. Por um lado, a IA e os algoritmos oferecem inúmeras possibilidades para o desenvolvimento humano, como a resolução de problemas complexos e a criação de novas formas de arte. Por outro lado, a proliferação de simulacros e a manipulação da informação representam uma ameaça à nossa capacidade de compreender o mundo e de construir uma sociedade justa e democrática. É fundamental que reflitamos sobre as implicações da IA e dos algoritmos em nossas vidas e que desenvolvamos mecanismos para garantir o uso ético e responsável dessas tecnologias. A construção de uma sociedade mais justa e equitativa exige que compreendamos os desafios e as oportunidades que a era da hiper-realidade nos apresenta.

BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio d'água, 1991, 208 p. 

WACHOWSKI, Lana; WACHOWSKI, Lilly. Matrix, EUA: Warner Bros; Silver Pictures, 1999. Filme. 2h. 16min. Color. 

 

Natureza

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