Dostoiévski como nenhum outro autor de seu tempo conseguiu descrever tão bem o que viria a ser o homem moderno. Tanto que suas obras serviram para referendar e fundar o que seria mais tarde a psicanálise. Base pare os pensamentos freudianos, lacanianos e para filosofia existencialista do século XX. Dostoiévski abriu precedentes em sua literatura para as ditas doenças da alma, em seu texto a psique humana (a alma e a aura do homem está de certa forma exposta) torna-se por completo desnudada. Esse homem descrito pelo autor transita pelo subterranêno, pelo submundo e individualiza-se ao extremo, locupleta-se com toda mesquinhez que lhe for possível. Particularmente, na obra memórias do subsolo, o personagem não tem se quer nome (é inominavel) no sentido de representar todo e qualquer homem (mortal) em sua singularidade. Ao mesmo tempo, um ser sem nome, sem rosto dotado apenas de memórias não tão agradáveis - pelo contrário - em sua maioria terríveis, solitárias. Um ser invisibilizado, tal como um fantasma que assombra apenas a si prórprio.. Personagem este que vive nu estado de quase mséria, e não só a miséria econômica e social, mas sim principalmente uma miserabilidade humana - talvez da alma. Há nele a mais completa falta de controle de sua própia vida, segue apenas o derradeiro fluxo do existir. Esse pobre homem dostoiévskiano acometido por uma febre renitente e contínua, cuja causa não perpassa pelo seu corpo e sim atravessa sua alma. Consequência direta de um ressentimento e ódio pretérito e indomável que o atormenta e o leva a arroubos de histéria e melancolia. Fator que o incapacita de conviver harmoniosamente e na plenitude de uma vida comum. De outro lado, tal personagem demonstra em sua narrativa uma incapacidade de compreender a si mesmo. A sua própria presença lhe é insustentável. Ele não suporta a si mesmo. Dessa forma, esconde-se em uma máscara e isso o aflige. Já não é mais capaz de amar, sendo o amor uma grande farsa. Assim acredita. Os amigos, não são amigos de ninguém e servem apenas para compar a trama. Então, prefere ele ser humilhado, espizinhado e jogado a lata de lixo para ver se lhe resta algum traço de humano. Nesse homem não há virtudes ou qualidade que o qualifique de ser honrado. Julga-se o mais abjeto e repugnante entre os homens normais. Jamais deixará qualquer descendência, para que o mal não possa proliferar. Sequer busca a rendenção ou qualquer outra providência divina para se redimir. Pois, sabe que sua alma não o pertence e seu corpo está entregue às desventuras, às angústias e os desvarios do mundo. O homem de Dostoiévski é um ser urbano, cujo cenário desenha-se na cidade fria e sombria e dos odores fétidos das ruas. Nela (a cidade) a solidão é elemento característico do indivíduo e propício para o adoecimento da alma, que se espalha como vírus e o transforma de maneira irreconhecível. O cénário da narrativa do homem dostoiévskiano não permite cores, apenas o acinzentado, e o branco e preto de um filme noir. Ambiente ideal para que o personagem sem nome mostre suas pervesões. Porém, não uma pervesão autêntica e digna de vilões sanguinários e cruéis existentes nos filmes de terror. E sim, uma pervesão pueril, infantilizada de crianças que brincam no playground, que beira ao jocoso e ao ridículo. Talvez, o típico comportamento do sujeito centrado no "eu" egóico: que a todo momento persiste em torno si e é incapaz de se revelar ao outro por puro medo. Pobre homem de Dostoiévski, jamais saberá a respeito da simplicidade da vida, do amor e do convivío coletivo. Nunca conhecerá a verdade, por estar preso em sua desilusão Justamente essa maldita desilusão que consome o seu espírito e o torna um ser repleto de ressentimento e ódio. Com isso, a sua psiquê (sua alma) vai sendo cada vez mais consumida pelo atmosfera nociva dessa cidade subaterrânea. Então, esse homem torna-se apenas mais uma peça invisível sufocado pelos os próprios delírios. Quase a beira da loucura e a eterna solidão. Não há salvação para o homem moderno, pois ele mesmo se julga o mais patético, abjeto e mesquinho dos seres. De resto, um completo doente, mas rejeita qualquer tratamento. Ah!!! esse maldito medo de perder a sua essência.
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