Uma frente popular de
direitos neste caso pode ser definida nas palavras de Fumagalli (p.294), como
uma comunidade de indivíduos livres que atuam como pessoas em comunidade.
Portanto são pessoas que em seus espaços territoriais, sociais e econômicos
atuam conjuntamente de maneira solidaria, na tentativa de pelo menos mitigar os
problemas sociais.
A ação isolada dos
sindicatos e associações de trabalhadores é um tanto ineficaz e insuficiente
perante a grande demanda e vulnerabilidade social e econômica daqueles que
estão em situação de extrema pobreza. Faz-se mister a conjunção de uma frente
popular ampla com base numa linguagem comum e em ações comuns para enredar-se
numa teia de solidariedade. Essa, talvez seja, a genuína prática democrática
participativa vinda daquilo que é o comum, proposto por Dardot e Laval.
No capitalismo
cognitivo, a acumulação segundo Fumagalli (2010, p.323) é bioeconômica, que se
realiza no desenvolvimento dos fluxos das redes, puramente imaterial. Isso,
torna cada vez mais diminuto a participação coletiva e o comum sucumbe perante
o mercado financeiro.
Numa bioeconomia
somente as ações vindas de um corpo em movimento, em luta será capaz de
transpor as atuais formas de alienação e expropriação do trabalho imaterial que
servem as estruturas do capitalismo cognitivo. Por isso, a criação de uma
consciência que se mova em uma direção autônoma e capaz de enfrentar os duros
golpes que atingem toda sociedade.
Ainda, a respeito das ideias do
comum, o aparecimento das frentes populares, formada por setores mais
progressistas da sociedade civil unem-se em prol de demandas especificas da
população. Especificamente, nesse momento de sindemia, as frentes populares
ganham força por meio das tecnologias de informação e comunicação (TICs), onde
o uso das redes sociais aparece como um canal de abertura para discussão de
temos ligados à política e economia, além de servir para movimentos de apoio e
solidariedade.
As frentes populares agregam em seu
interior diversos matizes da ideologia do campo progressista, contam com a
participação de entidades sindicais, representantes da igreja, de partidos
políticos e movimentos sociais (negros, indígenas, LGBTs, mulheres e outros),
que juntos enredam um importante círculo de compartilhamento de conhecimentos e
trocas de experiências. Essas frentes populares beneficiam-se das redes sociais
numa comunicação mais direta, síncrona e com objetivo de alcançar o maior
número de espectadores, num trabalho coletivo e de ordem social. Cabem as elas o
papel de porta-voz da democracia participativa, ou seja, levar demandas
especificas de um coletivo para as representações políticas instituídas.
Enquanto o capitalismo cognitivo
concentra-se no indivíduo, ou seja, toda produção e reprodução imaterial está
calcada numa única célula e na identidade. As frentes populares procuram
quebrar essa lógica do individualismo e do identitarismo (o igual, o mesmo, o
idem), justamente por aceitar e celebrar o diferente (o outro). Tal atitude
permite agregarmos diferentes fazeres e saberes, conhecimentos tácitos, que de
certo modo ampliam as trocas de experiências entre seus membros.
Na verdade, as frentes populares
formam uma enorme rede de conhecimentos informais numa trama de nós e laços,
que em conjunto realizam a acumulação de novos saberes. O entrelaçamento e os
fluxos dessas redes permitem as frentes populares terem grande influência em
muitas decisões tomadas pelos entes políticos.
Em alguns aspectos os trabalhos
desenvolvidos pelas frentes populares caracterizam-se pela regionalidade e
localidade de suas ações, atuando de forma consistente em pequenas cidades,
bairros e dependendo da ação desenvolvida, atuam nos estados.
O comum descrito por Dardot e Laval é o inverso do individual e do identitarismo que o capitalismo cognitivo nos impõem goela abaixo. O comum congrega o coletivo, aquilo pertencente a todos e a ninguém aos mesmo tempo. Pois, o corte transversal do coletivo outorga sustentabilidade para a democracia participativa, onde diferentes grupos de pensamentos diversos unem-se ao redor de um bem comum.
DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. Comum: ensaio sobre a revolução no século XXI. Tradução de Mariana Echalar. São Paulo: Boitempo, 2017. 647p.
FUMAGALLI, Andrea, Bioeconomia y capitalismo cognitivo: hacia um nuevo paradigma de acumulación. Traducción del: Antônio Antôn Hernandez elt al. Madrid: Traficante de Sueños, 2010. 336p.
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