quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Esquerda renovada: uma mudança de paradigma

A criação da esquerda renovada vem contrapor o status quo vigente, por não mais caber a ideologia partidária, como uma proposta arcaica e ineficaz aos anseios da sociedade atual.  O partidarismo como mecanismo político tornou-se obsoleto e segredado a realidade da nova configuração ocorrida no mundo, ao passo que não consegue mais arrebanhar todas as vertentes e correntes de pensamentos.  A pretensão maior da esquerda renovada é justamente não ser de forma alguma um palanque partidário,  uma sigla ou símbolo formatado em estatutos, ideologias, regras  ou mesmo transformar-se em agremiação. O objetivo da esquerda renovada pauta-se na manifestação contrária ao atual modelo político, da qual poucos se beneficiam do poder.  
A  verdadeira insatisfação da sociedade em relação a política de um modo geral pôde ser observado nas urnas desta última eleições, frente ao enorme número de abstenções, votos nulos e brancos, tal fato mostra a descrença e desânimo com modelo político em voga. Essa demonstração um tanto nociva gerou um quadro de anomalia política, trazendo à tona  certas bizarrices como a extrema direita numa posição conservadora e com seus discursos preconceituosos. Isso representa um certo retrocesso político, que danificam os institutos democráticos conquistados ao longo história. Basta vermos os perigos que o conservadorismo ultradireitista podem fazer ao tomarem o poder, tais como: a perda de grandes projetos que visam a diminuição das desigualdades sociais, leis e direitos voltados às minorias, o fim da divisão da riqueza produzida pelo país.
No entanto o autoritarismo das antigas frentes comunistas, como o Stalinismo na antiga URSS, o comunismo chinês não pode ser aceito como a essência do socialismo colocado por Marx, por que recaem na grotesco e selvagem autoritarismo. Pois, Marx foi muito mal interpretado ou mesmo mal utilizado ao pregar-se as ideias socialistas, sua proposta em linhas gerais era a luta pela igualdade na distribuição da riqueza  e o fim da exploração dos trabalhadores pelo rolo compressor do capitalismo agressivo, da qual a direita conservadora era responsável. A esquerda renovada pretende regastar o marxismo dentro de suas ideias democráticas e não essa visão fantasiada, em que o socialismo é vista como uma ditadura do proletariado ou uma burocracia ineficaz imposta pelo estado como colocam alguns defensores do conservadorismo.
O estado deve sim existir  e ser presente, justamente para manter a ordem das coisas, intervir nos abusos do capital e de seus detentores, auxiliar nas políticas públicas e atender as necessidades dos despossuídos e oprimidos  pelo poder econômico. Na própria teoria econômica de Keynes (economista inglês) seus tratados já demonstravam que o estado tem a função de regular a emissão de moeda, estabelecer  normas para o mercado de maneira a impedir os desastres econômicos, como foi crise econômica de 1929 e tantas outras, ou seja, Keynes defendia a interferência da economia na política. Diante dessa visão a esquerda renovada tenta construir suas ponderações e incutir suas opiniões, entretanto, sem a criação de ideologias partidárias, nem mesmo estatutos, pois este é a amalgama para o antigo, ultrapassado, que deve ser aniquilado.
As manifestações são o nosso palco, sem bandeiras e apoio partidário, nascemos da comoção popular, da indignação com as ideologias opressoras. Sabemos que a atual política não dá mais conta dos nossos desejos. No seu cerne o que se vê é apenas corrupção, desgaste, interesses particulares, desmantelamento com a coisa pública. Na chamada casa do povo, lugar onde estão nossos representantes tudo está contaminado pelos vermes corruptivos, fazem o jogo  conforme seus interesses próprios. A máxima dos partidos políticos é adentrar essas casas  e no seu interior estabelecer regras que contrariam a vontade da maioria. A esquerda  renovada não pretensão de estar ou mesmo fazer o jogo sujo do poder. O objetivo da esquerda renovada é lutar e apoiar através de novas armas o fortalecimento da democracia em todas as suas esferas, manifestar de forma inteligível contra aqueles que abusam do poder em benefício próprio.  A liberdade se faz de maneira responsável, enfim somos todos responsáveis pelos nossos atos e a nossa omissão custa caro. O fato de abstermos politicamente leva ao poder nossos inimigos, isso é visível na atual conjuntura política, quando assistimos a derrocada da democracia. Precisamos ser transgressores no sentido de impedir e relutar  e jamais aceitar que o arcaico e parasitário poder renasça para escravizarmos.
Afinal, estamos vivendo o ápice tecnológico, em que a internet e suas ferramentas: blogs, redes sociais, como um meio sincrônico substitui os meios frios de comunicação como a TV, Rádio que não permite a interação ao vivo e instantânea. Então, a internet juntamente de seus instrumentos deve ser um espaço de luta, manifestações e reunião da esquerda renovada. As redes sociais é lugar da conversação, do debate, das ideias produtivas, onde podemos discutir aquilo que desejamos em termos políticos, sociais e econômicos. Pois o Estado  é a soma da sociedade, a força produtiva, que englobam as necessidades popular e não as vontades daqueles que usurpam o bem público. Novamente, a tecnologia vem como aliada dos sem voz, dos oprimidos, dos despossuídos, através dos blogs e redes sociais podem exprimir seu grito de liberdade e clamar por mudanças, ou mesmo opor-se ao sistema e talvez transgredir, assim agir e manifestar-se democraticamente contra o atual estado das coisas.
A burocracia e a tecnocracia deveriam ser estados de exceções, que outrora dominaram o mundo, no entanto a história nos ensinou que regimes abomináveis e distópicos como estes jamais deveriam vir à tona novamente, são inaceitáveis. Esses regimes formam-se da alienação  humana, em momentos de fragilidade democrática, por exemplo: o Stalinismo se fez de uma anomalia do socialismo marxista, dá má interpretação de seus escritos e da própria aceitação cega da sociedade num momento de caos histórico. entretanto, a tecnocracia nasce do poder da direita conservadora, dos instrumentos impostos pelo capitalismo, juntamente com o estado autoritário que utiliza os meios de comunicação e propaganda para vender um sistema econômico que pode ser a solução do mundo naquele momento de fragilidade. 
Não podemos cair  nesse ideário tecnocrático, que se resume no aparelhamento do estado, justamente para manipular a sociedade como um todo. A tecnocracia nos levaram a patamares históricos deploráveis com infinitos massacres genocidas, destruição cultural, extrema desigualdades sociais, o verdadeiro caos planetário. Muito bem, qualquer fundamentalismo seja de direita ou de esquerda torna-se nocivo a sociedade, assim  como a ideia de partidarismo que gera cisão e fragmentação política, originando a descontinuidade de projetos futuros.
Nem mesmo,  o modelo anárquico com seu conceito de ausência de poder e contrariedade aos regimes políticos faz frente as propostas da esquerda renovada, por que ainda sim é dotada  de ideologias, são estas que impedem o florescimento de uma sociedade organizada para contrapor-se a tudo que está estabelecido. Talvez a anarquia possa aproximar-se da esquerda renovada no sentido não ideológico, mas da ação conjunta presente nos sindicatos, agremiações e associações de trabalhadores.  A esquerda renovada não acredita nas instituições enquanto sua forma física e sim no agir da sociedade, pois toda ação também gera reações, segundo as leis da física. As reações, um ato de proteção dos reacionários, que não querem permitir o desenvolvimento das políticas progressistas, libertárias, anárquica e de cunho esquerdistas ajam naturalmente sobre o mundo por medo de perderem o controle  e o poder sobre as massas, continuar manipulando-as. Enquanto isso, os reacionários dominam qualquer tentativa de ação libertadora, sufocando-as com  mordaça da opressão. colocam aqueles que pensam e agem em prol da cidadania, da igualdade e da liberdade numa situação de clandestinidade e subversão por exercerem sua intelectualidade a favor da democracia.
De qualquer forma, sabemos que o modelo de democracia representativa não é o ideal, apresenta grandes falhas, sujeitas a desigualdades sociais, políticas e econômicas. A representatividade nem sempre é a escolha da maioria, muitas vezes manipulável pela corrupção e fortemente dotada pela ideologia partidária, exigindo estatutos e regra incompreensíveis aos olhos da grande parcela da sociedade. A complexidade desestimula a participação, em consequência temos a insatisfação com o modelo democrático aí posto. Faz-se mister que as fronteiras da revolução sejam quebradas  como condição sine qua non para a libertação do homem. Rebelemo-nos para destituir o paradigma político vigente, que encontra-se decadente e prejudicial aos interesses da população trabalhadora.       
Nossas armas serão os discursos, as manifestações, as ideias que devem ecoar do nosso espírito livre e combativo, não queremos mais um poder humilhante, com sua face repressiva e ameaçadora, pois o tempo do medo já passou e nos resta fazer a revolução com mudanças reais. Assim a esquerda renovada entrará na verdadeira roda da história para desmascarar toda iniquidade imposta pelo poder tirânico do sistema econômico que visa apenas o lucro e massacra o trabalhador.
O filosofo que de tudo ri, ao contrario daquele que ainda pode chorar, por não ter nada e saber o que apenas sobrou foi a miséria humana. Sim, somos seres miseráveis, dotados de uma profunda angustia, melancólicos, incapazes de reagir aos intensos medos. Não temos mais lágrimas de tanto pranto, que só nos resta o riso escarnoso da desgraça humana. Na verdade, não somos dotados de uma carapaça grossa, que nos protege contras as lanças e espadas do mundo, a todo momento recebemos o ataque dos inimigos e simplesmente não reagimos, então sucumbimos à primeira ferida.
Deixamos a história nos consumir, por ela passamos e nada aprendemos. Mas, se quisermos mudar a nossa condição de vítima, coadjuvantes para quiça protagonistas atuantes temos que ir ao front de batalha e desse modo lutar com as armas certas. A esquerda renovada tem o intuito de desconstruir a miséria humana, transformar o riso do escárnio e da melancolia em esperança. Parece-nos presunção ou até uma utopia vinda do mais retórico discurso, no entanto, se temos a capacidade de rir de nós mesmos, refletir sobre nossa miserabilidade e nossas ações enquanto ser no mundo, os próprios caminhos que construirmos fornecem a direção a seguir. Direção esta, que visa romper os laços traçados pelas ideias conservadoras, preconceituosas e reacionárias.
A real compreensão da miséria humana nos permite desatar os nós feitos pelas tradições das políticas antidemocráticas e autoritaristas que tanto barbarizam o homem trabalhador.  portanto a história deve ser entendida não como um fim em si mesma, mas a oportunidade de não replicarmos os erros passados. Tal experiência já vivenciada pelas mais diversas anomalias políticas, que dizimaram todas as tentativas de mudanças.
A esquerda renovada passa por uma estrada pavimentada e sólida, pois é quase uma experiência espiritual, dotada de fé, não no sentido da religião e sim no âmbito da crença de valores éticos e morais, ou seja, acreditar na capacidade de mudar o mundo política, social e economicamente.
O conhecimento talvez seja a única forma de chegarmos a plena liberdade. Por meio do conhecimento criamos toda estrutura cultural com suas crenças, valores, mitos, regras, normas e ritos.  No entanto, o conhecimento na mãos de poucos torna-se artefato de dominação e exploração. É um poder exacerbado, que cria senhores e escravos. O capitalismo é fruto desse conhecimento, em que poucos detém os meios de produção e quase escraviza o resto do mundo. A esquerda renovada vem justamente reivindicar o acesso ao conhecimento de maneira ampla, atingindo a todos aqueles que não tem voz. A ampla disseminação do conhecimento é a via natural para que todos nós possamos construir uma base sólida em relação aos nossos desejos, expectativas e anseios.     

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