É muito comum nós seres
humanos julgarmos os outros sem conhecermos seu passado. Não procuramos ir a
fundo para saber a história das pessoas
e com isso deixamos de aprender com elas a mais sublime essência da
vida. Pois, as melhores histórias são aquelas dotadas de simplicidade e
sabedoria que provém de nossos antepassados, que nos fazem refletir a vida. Muitas
desses casos escondem em si medos, incertezas, angústias, amarguras, tristezas,
decepções, dores e traumas que nunca se fecham, são apenas amenizados pelo
tempo e talvez juntam-se aos raríssimos momentos de alegria e paz. Para que
possamos ter a clara compreensão do universo que nos cerca é necessário
sabedoria, mas não essa colocada pelos bancos da escola e sim aquela vinda
daqueles que nos antecede. O aprender com estes verdadeiros sábios estão em
suas palavras simples, cheias de ensinamento de quem nasceu numa vida sofrida,
privados do amor, do carinho.
Encontramos em grandes
escritores como Guimarães Rosa, Fernando Sabino e entre outros mineiros a prosa
que destaca muito bem essa simplória sabedoria. Nos mais recônditos cantos destas
Minas Gerais estórias se tornaram famosas para o resto do mundo, apresentando a
magia deste povo guerreiro. As tradições, costumes, a religiosidade e segredos
das pequenas cidades mineiras guardam enormes relíquias sobre sua gente. Suas
histórias, muitas delas trancadas a sete chaves, escondem magoas e desencontros
internalizados pela vergonha e medo. Talvez a melhor forma de amenizar os traumas vividos seja jogar pata
fora tudo aquilo que nos corroí por dentro. Então, escrever, falar e contar
causos pode ser uma saída para os males, um modo de evitar que o passado não
esteja mais presente na roda do futuro, ou seja volte a acontecer. Por que
aquele que não admite seu passado está condenado repeti-lo no futuro.
A pequena introdução
feita anteriormente é justamente para refletirmos sobre como as dificuldades
impostas pela vida podem nos tornar sábios e ao mesmo tempo "externizar"
essa sabedoria pode ensinar aos outros a lidar com suas angústias de maneira serena,
amenizando os traumas. Quanto a ideia descrita sobre as pacatas cidades de Minas
Gerais (hoje nem tão pacata assim, pelo fato da violência ter tomado conta
delas), é por que as melhores histórias as tratam como um povo acolhedor,
hospitaleiro, que sabe receber visitas com mesa farta de broa de fubá, pão de
queijo, café de qualidade e leite. Mas nesta resenha a narrativa não vai
alcançar estes saberes ou mesmo o modo de vida nas "Gerais". O livro
a ser resenhado emite um parecer sobre os desencontros familiares, ficando
assim no âmbito do primeiro parágrafo que trata da sabedoria pelo revés da
vida. Agora adentraremos de fato ao livro intitulado "Aplausos para Cecília" de Sônia Mara que com uma
escrita objetiva e sem rodeios, permitindo uma leitura agradável e reflexiva,
aquilatando-se aos grandes escritores mineiros já citados acima anteriormente. A obra da autora expõem
como os sonhos e desejos de criança podem ser simplesmente destruídos pela
degeneração do seio familiar, que faz perdurar por gerações e gerações uma
cicatriz inapagável, um verdadeiro trauma que nem mesmo a psicanálise Freudiana
daria conta de apaga-la. Entretanto a exteriorização do fato através da palavra
escrita foi a melhor forma da autora externalizar e exorcizar os sentimentos
mais profundo de angústias, amarguras, tristeza e ressentimentos deixados pelos
seus antepassados. Sendo que o abandono dos filhos por uma mãe para viver com
seu amante é uma temática muito forte principalmente num tempo em que tal
assunto era um tabu, talvez um "sacrilégio, um ato de loucura em uma
sociedade conservadora, machista e patriarcal neste vasto interior das Minas Gerais.
Digamos enfim, que o livro "Aplausos para Cecília"
de Sônia Mara traz a tona um drama familiar, o abandono dos filhos pela mãe adúltera,
cuja protagonista a menina Cecília se vê órfã de mãe e pai vivos tem de
aprender a sobreviver não só com a miséria humana, mas a falta de amor e
carinho. Observa-se na obra não uma superação, e sim a aceitação e sublimação
dos fatos ocorridos. Portanto, o livro
da autora nos faz pensar sobre como a ausência dos pais pode gerar enormes
danos nos filhos, contada numa história simples, mas sobre um assunto tão
complexo.
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