sábado, 15 de fevereiro de 2025

A Inteligência Artificial, Algoritmos e o Mundo Hiper-real: Uma Análise à Luz de Baudrillard - Parte 2

Nesta segunda parte de nosso texto os elementos norteadores em relação a inteligência artifcial (IA) serão analisados sob a ótica do capitalismo de plataforma (O domínio das grandes corporações de tecnologia da informação, tais como Facebook, Google, Amazon, Netiflix, além da Apple e Microsoft cujo desejo é tomar para si os dados e informações das pessoas e criar a partir daí mecanismos de IA cada vez mais semelhantes aos humanos) e a sua intrínseca simetria com a ideia de simulacro, amplamente difundida pelo filosófo Jean Baudrillard, que é percebido inclusive no meio cinematográfico especificamente pelo filme Matrix (Já discutido anteriormente na parte 1). Então, a relação entre inteligência artificial (IA), capitalismo de plataforma e o simulacro, conceituado por Jean Baudrillard, é um tema bastante complexo e que encontra um paralelo fascinante no universo cinematográfico de Matrix. Para compreender essa interconexão, é preciso analisar como a IA molda nossas realidades, como as plataformas digitais se apropriam de nossos dados e como essa dinâmica se assemelha à construção de uma realidade simulada, como a apresentada no filme. Então, o capitalismo de plataforma e o simulacro tem seu centro baseado na coleta e análise massiva de dados. Através de algoritmos de IA, essas plataformas constroem perfis detalhados de seus usuários, permitindo a criação de experiências personalizadas e altamente segmentadas. Essa personalização, no entanto, pode levar à formação de "bolhas de filtro", onde os indivíduos são expostos apenas a informações que confirmam suas crenças pré-existentes, limitando sua visão de mundo e fortalecendo a fragmentação social. Dessa forma, a IA funciona como um motor da simulação, justamente por desempenhar um papel crucial na construção dessa realidade simulada. Os algoritmos de recomendação, por exemplo, determinam quais produtos, notícias e conteúdos serão apresentados aos usuários, influenciando suas decisões de compra e suas opiniões. A capacidade da IA de gerar conteúdo cada vez mais realista, como as deepfakes, desafia a nossa capacidade de distinguir o real do artificial.Com isso somos cada vez mais afastados de fato do mundo real e jogados num mar de desinformações, que permitem a criação de toda e qualquer teorias conspiracionistas, falsos mitos e invencionices mirabolantes. A realidade e a ficção andam juntas, e torna-se mais difícil distinguir o original da cópia. O ambiente cinematográfico sabe muito bem como se aproveitar dessas nuances, digamos talvez tecnológicas. Um exemplo é o paralelo com Matrix. Pois, o filme apresenta uma realidade simulada na qual os humanos são conectados a um sistema que controla suas mentes e lhes apresenta uma falsa realidade. A IA, nesse caso, desempenha o papel de controlador, manipulando a percepção dos indivíduos. Essa alegoria cinematográfica encontra paralelos com o mundo real. As plataformas digitais, ao coletar e analisar nossos dados, constroem um modelo de nós mesmos e nos apresentam um mundo virtual que se adapta aos nossos desejos e expectativas. Assim como os personagens de Matrix, podemos estar vivendo em uma realidade simulada, onde nossas ações e escolhas são moldadas por forças invisíveis. Ao trazermos para dentro do texto essa reflexão, observa-se que o conceito de simulacro aliado à inteligência artificial não ocupa um espaço de neutralidade, nem sequer de imparcialidade. Sendo que existem lados muitos bem definidos que disputam esse front justamente por envolver não só a questão econômica, mas principalmente uma batalha pelo poder. Certamente, isso não inclui a grande massa - ao contrário - necessitam ser manipuladas e apenas crer no que passam nos noticiários e nas menssagens postadas nas redes. Tudo isso tem implicações diretas na atual sociedade - a sociedade da informação - uma denominação um tanto contraditória, para não dizer jocosa. Portanto, tal interconexão entre IA, capitalismo de plataforma e simulacro levanta questões importantes sobre a natureza da realidade, a privacidade, a manipulação da informação e o futuro da democracia. Algumas das principais implicações incluem:

  • Perda da autonomia: a personalização excessiva pode levar à perda da autonomia individual, à medida que as escolhas são cada vez mais influenciadas pelos algoritmos.
  • Desigualdade: o acesso desigual à informação e às tecnologias digitais pode aumentar as desigualdades sociais e econômicas.
  • Manipulação política: as plataformas digitais podem ser utilizadas para manipular eleições e disseminar desinformação.
  • Desconexão da realidade: a imersão em mundos virtuais pode levar à desconexão com o mundo físico e com as relações sociais.  

Em suma,  IA, o capitalismo de plataforma e o simulacro estão intrinsecamente ligados. A capacidade da IA de analisar grandes volumes de dados e gerar conteúdo personalizado, combinada com o modelo de negócio das plataformas digitais, cria um ambiente propício à construção de realidades simuladas. Essa dinâmica, que encontra um paralelo na obra Matrix, levanta questões profundas sobre a natureza da realidade, a privacidade e o futuro da sociedade.

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Um pequeno recado ao amigo desconhecido

A implacável crueldade do tempo distancia os amigos, e também abala as ideias e os propósitos de uma vida. Os caminhos se abrem em fendas e abismos incuráveis, deixando profundas cicatrizaes. Absolutamente tudo fica para trás, em passado longínquo daquilo que um dia foi à esperança das conversas sobre pensamentos e memórias. As fronteiras da liberdade e de um mundo melhor se fecham por inteiro, talvez não resta mais nada a se fazer. Nisso, os sonhos são completamente destruídos e a utopia se esvai por entre os dedos. É meu caro amigo, o tempo age contra todos nós, não resta mais nada a fazer. É como uma ponte em ruínas,com trincas e rachaduras, uma estrutura preste a desabar. Assim, os rumos se invertem, bem naquilo que um dia se convergia em ideais e crenças. Então, de repente tomamos o caminho inverso e o que nos resta, talvez, seja a vaga lembrança de um passado que não mais existe. Apenas, rostos estranhos ofuscados pela sombras. Mas como somos teimosos, insistimos em colocar em palavras os nossos sentimentos mais pantanosos. Então caro amigo desconhecido o que pensa você disso tudo? sabemos que a pergunta é dura, se não capciosa  - não há uma resposta. Assim, indagamos, como pode suportar a dor de viver em uma sociedade doente e ser incapaz de sentir a dor outro. Ver milhões de miseráveis almas atormentadas a sobreviver na mais completa marginalidade desse mundo hóstil. É aí está você - com sua pança gorda - sentado em uma bela cadeira da mais fina madeira de lei que custou a vida centenas e cetenas de árvores e homens. Em sua bela sala de jantar no mais nobre estilo vitoriano, enquanto desguta, sem qualquer remorsos, culpa ou compaixão, vorazmente, seu caviar e as nobres lagostas preparadas por um jovem "chef de cuisine". Um desses tantos outros, que já um dia vivera a miséria absoluta. Mas aprendera a arte da alta gastronomia - como se fosse a condição única para sua ascenção social. É tocante a mentira da meritocracia, como se num passe de mágica todos pudessem se agarrar as parcas oportunidades. Ainda sim, prezado amigo, continuas aí a beber seu caríssimo vinho do Porto, cujas uvas foram pisadas pelos pés sujos dos pobres trabalhadores das vinícolas, suados de tanto pisar e repisar sobres elas. Talvez, não sinta odor dessas pessoas, somente o gosto refinado do vinho que lhe custou mais do que anos de trabalho dessas pessoas. Certamente, você não compreenda o mais simples conceito sociológico de classes sociais, de desigualdade e de concentração de renda. Sua preocupação está apenas dirigida para o seu estômago e nada mais. Daí termina toda sua capacidade de ver o outro, de reconhecer que a miséria humana é fruto de sua vaidade, de seu egoísmo e do seu narcismo exacerbado. No pódio, há só você em primeiro, segundo e no terceiro lugar e não existe mais espaço, você os ocupa por completo. Quanto aos outros, o nada - o resto. Tudo bem, ou não, é você fruto da nobiliarquia, das antigas gerações de homens que jamais plantaram, ou colheram algum fruto. Possivelmente, não saiba que a madeira da enorme e pesada mesa de sua sala de estar foi obra de algum lenhador, carpinteiro ou artesão vindo da plebe. Desavisado amigo isso é algo que você desconhece, ou se tem uma vaga noção prefere fechar os olhos. Por mais que não queira olhar para baixo, ainda sim irá enxergar, nesses tempos atuais, lá fora pelas ruas - de dentro do seu potente carro blindado - nos sinais um menino maltrapilho sujo pedindo esmola. Do outro lado da rua, verá seres humanos debilitados pela fome e pelas drogas como forma de sobreviver. Estranhamente, você não se comove, pois está tomado pelo fruto do mais ardiloso capital, que o cega. O que mais irrita, é o seu riso, um riso alto de escárnio, maldizendo a tudo que não seja ouro, prata. A sua risada insuportável aos ouvidos, se volta contra os humildes, os trabalhodores, aos sem-tetos, aos miséraveis, cujo define como ratos de esgoto. Ao menos um dia, apenas um desejaria que vivesse a desgraça dos infortúnios. Como passarias sua vida, sem o conforto e o requinte de seu castelo, se caísse junto a sarjeta da rua. E então, comesse o pão amassado pelo cão. É isso que vivem diaramente aqueles visto da janela de seu carro. Mas você não se importa, é indiferente. E essa sua indiferença se vê no semblante de alguém que não compadece à desgraça alheia. Para eles - isso você jamais compreenderá - cada migalha de pão, cada cobertor e um lugar mais quente protegido da chuva e do frio já seria o suficiente - mesmo que tudo isso seja tão pouco, quase nada. Neles moram a amargura, muitas vezes ou não visível, de se sentirem um fracassado, um derrotado em um sistema perverso e desigual. Neles não existem ilusões. Porém, o que mais chama atenção, é justamente você, você sim - e não tente se esquivar - ter tudo e ainda ser como eles, simplesmente por não ter mais o brilho nos olhos e a capacidade de sentir. A sua mais completa fala de tenacidade e de se iludir com a vida o torna tão miserável quanto eles. A única coisa que lhe sobra é a pobreza de um espírito, portanto, só lhe resta o dinheiro. 

Natureza

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