No mundo psicodélico dos 60 e 70 do
século passado, em que amor, paz, drogas e rock in roll apareciam como o lema
principal do movimento hippie - um mundo anárquico, em que era proibido
envelhecer. Esses jovens dotados de uma ampla liberdade se colocavam num
movimento em prol da paz e do amor, sendo eles totalmente contra as guerras deflagradas
pelos Estados Unidos. Vivia-se os ideais da contracultura, que fugia dos
preceitos impostos por uma sociedade tecnocrática e pela ilusão de uma
democracia representativa. A busca era por uma sociedade totalmente livre, algo
próximo da anarquia.
A tecnocracia é um elemento próprio
da sociedade industrial, que domina o desenho político, social e econômico por
meio das técnicas e tecnologias, além de influenciar o comportamento humano. Na
sociedade tecnocrata somos moldados inconscientemente por uma educação
racionalista planejada, através de aparelhos ideológicos do Estado. No livro: a
contracultura, o autor – Theodore Roszak (1972, p.22) – nos descreve que os
sistemas políticos são altamente prejudiciais, por que devoram a cultura, e com
isso conseguem controlar nossas vidas, numa ação totalitária. Ainda, afirma
Roszak, que tecnocracia é o regime perfeito para o totalitarismo - que invés de
armas – aplica técnicas subliminares. O filme, Laranja Mecânica de Stanley
Kubrick é o exemplo perfeito de como o Estado tecnocrático apodera-se dessas
técnicas subliminares para enquadrar a sociedade.
Ainda conectados à obra de Roszak
(1972, p.26), nos é fornecido uma pequena definição de tecnocracia e assim diz
ele: a tecnocracia é um novo modelo de autoritarismo, com base na satisfação
para provocar a submissão e ao mesmo tempo enfraquecer as lutas e a capacidade
crítica das pessoas. Portanto, cabe aos movimentos contra culturais por abaixo
todo e qualquer tipo de elemento vindo do Estado tecnocrático, que limita os
ideários de liberdade.
Enxerga-se na obra de Roszak (1972,
p.29) que na verdade vivemos dentro uma imensa ilusão democrática, ao passo que
ele chama a democracia de pesquisa de opinião, onde se diz “sim” ou “não” para
um conjunto de perguntas predeterminadas, ainda acrescenta que o debate não
passa de um espetáculo ensaiado. Na tecnocracia capitalista de Roszak, o lucro
é peça principal do jogo, ele quem dará o xeque-mate. O lucro é o fator
principal, como diz o autor, para ações corruptas.
Nessa sociedade tecnocrata tudo é
projetado, maquiado e ornamentado, às vezes sutilmente, para termos a sensação
de uma democracia, da qual todos tem o direito de participar e opinar, são
livres - mas automatizados – por que há por trás um rigoroso controle social,
que na maioria das vezes faz-se visível, porém ignorado pela sociedade.
Esse sentimento que adentra o livro
de Roszak, a respeito da tecnocracia, traz em si a mesma sensação em Foucault,
quando descreve o biopoder, na qual as instituições do Estado, tais como:
escolas, prisões, hospitais psiquiátricos e quarteis servem, por meio da
tecnobrurocracia, como instrumento de manipulação e controle social.
Enquanto isso, a iniciativa privada
com subvenção do Estado detém a manipulação do mercado para colocar seus
produtos (tangíveis ou intangíveis) ao alcance de uma massa de consumidores de
classe média, muitas vezes inconscientes e impulsivos. Então, vamos
sobrevivendo neste mundo cada vez mais globalizado, cuja direção foi o
neoliberalismo e os avanços tecnológicos junto ao conhecimento foram tomados
pelo capital.
Agora, torna-se quase impossível de
se criar narrativas concretas e factíveis a respeito do comum, da coletividade
e da democracia participativa. Sendo, então, impraticável a proposição de novas
políticas públicas voltadas para as necessidades sociais. Quiçá um dia, se com
a retomada de um novo ideal progressista no âmbito da política e da
participação coletiva seremos capazes de reconstruir as antigas estruturas do
Estado de bem-estar social, ou caminhar para um socialismo pleno, e com isso
aniquilar a lógica perversa da dominação capitalista, geradora de opressão e
repressão contra a sociedade.
Sobre essa questão da repressão,
Roszak (1972, p.112) tece relevantes comentários, de como ela influência
negativamente a distribuição desigual da escassez na sociedade, onde as classes
dominantes privam e exploram aqueles mais carentes, diante de tal fato
inicia-se à “lógica da dominação”. Lógica essa, intrínseca do neoliberalismo e
fruto da tecnobrurocracia.
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