sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Psicodelia tecnocrática: a contracultura de Theodore Roszak

 

No mundo psicodélico dos 60 e 70 do século passado, em que amor, paz, drogas e rock in roll apareciam como o lema principal do movimento hippie - um mundo anárquico, em que era proibido envelhecer. Esses jovens dotados de uma ampla liberdade se colocavam num movimento em prol da paz e do amor, sendo eles totalmente contra as guerras deflagradas pelos Estados Unidos. Vivia-se os ideais da contracultura, que fugia dos preceitos impostos por uma sociedade tecnocrática e pela ilusão de uma democracia representativa. A busca era por uma sociedade totalmente livre, algo próximo da anarquia.

A tecnocracia é um elemento próprio da sociedade industrial, que domina o desenho político, social e econômico por meio das técnicas e tecnologias, além de influenciar o comportamento humano. Na sociedade tecnocrata somos moldados inconscientemente por uma educação racionalista planejada, através de aparelhos ideológicos do Estado. No livro: a contracultura, o autor – Theodore Roszak (1972, p.22) – nos descreve que os sistemas políticos são altamente prejudiciais, por que devoram a cultura, e com isso conseguem controlar nossas vidas, numa ação totalitária. Ainda, afirma Roszak, que tecnocracia é o regime perfeito para o totalitarismo - que invés de armas – aplica técnicas subliminares. O filme, Laranja Mecânica de Stanley Kubrick é o exemplo perfeito de como o Estado tecnocrático apodera-se dessas técnicas subliminares para enquadrar a sociedade.

Ainda conectados à obra de Roszak (1972, p.26), nos é fornecido uma pequena definição de tecnocracia e assim diz ele: a tecnocracia é um novo modelo de autoritarismo, com base na satisfação para provocar a submissão e ao mesmo tempo enfraquecer as lutas e a capacidade crítica das pessoas. Portanto, cabe aos movimentos contra culturais por abaixo todo e qualquer tipo de elemento vindo do Estado tecnocrático, que limita os ideários de liberdade.

Enxerga-se na obra de Roszak (1972, p.29) que na verdade vivemos dentro uma imensa ilusão democrática, ao passo que ele chama a democracia de pesquisa de opinião, onde se diz “sim” ou “não” para um conjunto de perguntas predeterminadas, ainda acrescenta que o debate não passa de um espetáculo ensaiado. Na tecnocracia capitalista de Roszak, o lucro é peça principal do jogo, ele quem dará o xeque-mate. O lucro é o fator principal, como diz o autor, para ações corruptas.

Nessa sociedade tecnocrata tudo é projetado, maquiado e ornamentado, às vezes sutilmente, para termos a sensação de uma democracia, da qual todos tem o direito de participar e opinar, são livres - mas automatizados – por que há por trás um rigoroso controle social, que na maioria das vezes faz-se visível, porém ignorado pela sociedade.

Esse sentimento que adentra o livro de Roszak, a respeito da tecnocracia, traz em si a mesma sensação em Foucault, quando descreve o biopoder, na qual as instituições do Estado, tais como: escolas, prisões, hospitais psiquiátricos e quarteis servem, por meio da tecnobrurocracia, como instrumento de manipulação e controle social.

Enquanto isso, a iniciativa privada com subvenção do Estado detém a manipulação do mercado para colocar seus produtos (tangíveis ou intangíveis) ao alcance de uma massa de consumidores de classe média, muitas vezes inconscientes e impulsivos. Então, vamos sobrevivendo neste mundo cada vez mais globalizado, cuja direção foi o neoliberalismo e os avanços tecnológicos junto ao conhecimento foram tomados pelo capital.

Agora, torna-se quase impossível de se criar narrativas concretas e factíveis a respeito do comum, da coletividade e da democracia participativa. Sendo, então, impraticável a proposição de novas políticas públicas voltadas para as necessidades sociais. Quiçá um dia, se com a retomada de um novo ideal progressista no âmbito da política e da participação coletiva seremos capazes de reconstruir as antigas estruturas do Estado de bem-estar social, ou caminhar para um socialismo pleno, e com isso aniquilar a lógica perversa da dominação capitalista, geradora de opressão e repressão contra a sociedade. 

Sobre essa questão da repressão, Roszak (1972, p.112) tece relevantes comentários, de como ela influência negativamente a distribuição desigual da escassez na sociedade, onde as classes dominantes privam e exploram aqueles mais carentes, diante de tal fato inicia-se à “lógica da dominação”. Lógica essa, intrínseca do neoliberalismo e fruto da tecnobrurocracia.                

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