Tempos
estranhos, talvez tenebrosos; como não bastasse esse vírus maldito que assolou
o planeta no início de 2020 e levou a milhões de mortes, agora nos deparamos
com a temporada de guerras. Primeiro, a Rússia abre fogo contra a Ucrânia, em
uma deliberada vontade do Putin em dominar territórios e anexá-los ao Estado
Russo. Tudo por interesses escusos e assim, manter-se no poder. Enquanto isso a
morte e a destruição elegem-se como a vedete do momento, que tem escondido
entre suas pernas armas letais.
Bem, nestes
tempos sombrios de guerra - jamais
podemos nos esquecer dos muros, sim eles (os muros) – erguidos para distanciar
o outro, invisibilizá-los, jogá-los a própria sorte. Tais muros, que separam
nações e ao mesmo tempo afastam pessoas, famílias e destroem histórias. Pois é,
as construções de muros segregam a paz e matam os ideais. Por isso coloco tal
narrativa, justamente para mostrar o quanto é nocivo criar abismos, fronteiras
e muros entre os povos. Não querer enxergar o outro, e o mesmo que não ver si
mesmo. Dessa forma, tudo se torna liso,
sem barreiras e sem oposição. Mas, do outro lado, há os esquecidos, que estão
relegados aos muros. Para eles sobra apenas os espinhos, as farpas, as cercas e
os arames. Ali apenas sobrevive-se, não há plenitude na vida.
Digo
isso, porque ao se erguer um muro, as rivalidades se afloram, as contestações
se ampliam e as revoltas torna-se iminentes. Diante dos muros, tudo fica mais
pesado, cansativo e distante, míseros 200 metros transformam-se numa jornada
quilométrica; anos-luz de um simples abraço em quem amamos. E, transportar uma
girafa de um lado para o outro pode ser uma viagem homérica, árdua e
inimaginável.
Na
história do mundo moderno, os líderes e governantes preferiram erguer muros, do
que pontes, justamente por acreditarem na manutenção do seu poder. Porém, seus
tronos sucumbiram miseravelmente. Muros nunca selaram a paz, apenas geraram
mais conflitos e guerras.
Essa
breve narrativa vem num momento bastante oportuno para nos fazer refletir a
respeito do atual conflito Palestina e Israel. Trata-se de uma batalha
histórica, com muitos reveses e percalços políticos. Fato que demandaria longas
horas de estudos e análises para ser explicado didaticamente.
Como
havia dito, esse texto objetiva-se numa narrativa. Portanto, o conflito Palestina
e Israel não é um evento recente, data-se após a 2º guerra mundial, com a
criação do Estado de Israel em 1948. Deixando um rastro - no tempo - de milhares de perdas de vidas, destruição e
elevação dos ódios. Ao longo do tempo, milhões palestinos jogados na faixa de
Gaza, em assentamentos de refugiados, na extrema pobreza (fome, falta de água e
altos índices de desemprego) são forçados a sobreviverem num contínuo corredor
de miséria, isolados por um muro - sim o muro da humilhação, da vergonha –
construído por Israel para apagar o outro da sua visão. O isolamento cria
sérias consequências, como: ódio, rancor, ira por não poder pertencer e viver
plenamente. Sentimentos esses que abrem precedentes para o surgimento de
revolta e protestos, além do aparecimento de grupos radicais como o Hamas,
Hezbollah, entre outros. Grande parte desses não nascem como grupos
terroristas, mas tornam-se terroristas à medida que são cada vez mais alijados
da sociedade ou possuem ideologias extremamente divergentes. Somados a falta de
estrutura social, desemprego e a miséria destes assentamentos os jovens são
cooptados para aliarem-se a estes grupos. É evidente, se não há perspectiva
social e econômica, sobra apenas o terror.
Lógico,
nenhum ser humano normal é conivente com mortes, assassinatos ou atos de
terrorismo. Pois, nenhuma sociedade consegue se desenvolver chafurdada na
barbárie, no terror e na tirania. As ações civilizatórias são construídas
apenas por meio de acordos paz e uma ampla rede de direitos humanos. Todo
terrorismo deve ser visto como uma ação contraria ao propósito de civilidade.
A
ênfase dessa narrativa está no nascedouro das ações terroristas, sendo que suas
práticas se pautam pela negação do outro, pela construção de muros. No caso, o
Estado de Israel foi o fato gerador do Hamas, ao invisibilizar o povo palestino
e confina-los num campo de refugiados, cercados por grandes muros. Ato causador
de descontentamento em grande parte dos Palestinos, que intensificou os grupos
de ódio.
O ataque do Hamas (num ato isolado do grupo) não representa uma ofensiva Palestina, para que se abrisse precedentes a uma guerra. Porém, o líder israelense Netanyahu, cujo poder está ameaçado e sua aprovação pelo povo anda em baixa precisa mostrar sua “força” como primeiro ministro. Netanyahu ao atacar os palestinos; cuja maioria de mortes são de civis; principalmente crianças, idosos e mulheres torna-se um criminoso de guerra. O primeiro ministro foi incapaz de celebrar a paz por apenas compreender a linguagem beligerante de poder. Netanyahu errou e ainda erra por ignorar o feito de seus antecessores Yitzhak Rabin, Shimon Perez que junto ao líder palestino Yasser Arafat foram os porta-vozes da paz.