Entende-se por gestão do conhecimento
todo processo de sistematização de trocas de saberes, que permite a produção de
novos conhecimentos. A gestão do conhecimento envolve a assimilação e
acumulação de saberes que possam ser devidamente compartilhados entre as
pessoas. Assim, observa-se que a gestão do conhecimento não é um processo que
reside especificamente no indivíduo, pelo contrário, trata-se de um processo
coletivo, na qual as pessoas interagem entre si com o intuito de socializar
seus saberes e fazeres.
Apesar de ser um conceito recente
nascido do ambiente organizacional, a gestão do conhecimento tem seus
antecedentes nas antigas práticas vindas de diversas culturas, tais como: a oralidade
proveniente dos povos indígenas sul-americanos, que repassavam seus
conhecimentos por meio de estórias contadas e transmitidas de geração a
geração; as técnicas utilizadas nas oficinas dos antigos artesões (forjarias,
cutelarias, ferreiros e outros); e as vinícolas na produção de vinhos na
Europa.
Estes conhecimentos geralmente eram
disseminados entre pequenos grupos dentro de uma tradição muitas vezes
familiar, isso demonstra que o conhecimento só gera valor a partir do momento
que as trocas de saberes são realizadas. Não podemos negar que o conhecimento é
algo pessoal - internalizado, porém sua aquisição depende de ações coletivas, na
qual o conhecimento necessita ser repassado, o que denominamos de socialização
do conhecimento.
A gestão do conhecimento como uma
prática da modernidade, assim como as iniciativas de qualidade total,
reengenharia, modelos organizacionais, criação de sistemas e métodos e qualquer
outro tipo de modelo pós-fordista
provenientes de um capitalismo intelectual só se faz eficaz caso haja
trocas efetivas de saberes, portanto, sem a interação entre os trabalhadores essas
trocas tendem a fracassar.
Enfim, vivemos a era da economia da
informação, numa sociedade dita sociedade do conhecimento, onde o poder do
capital não está mais na produção de mercadorias e no trabalho manual das
oficinas - e nem nas máquinas. Pois, as novas tecnologias de rede exigem que
sejamos produtores-consumidores capazes de operar intelectualmente sistemas de
informação, aplicativos, softwares e plataformas digitais, e dessa forma
contribuímos para o seu desenvolvimento sem qualquer remuneração por isso.
Então, sem percebermos colocamos a
disposição das grandes corporações de tecnologia todo o nosso saber e
conhecimento, que é difundido coletivamente entre as pessoas. Com isso podemos
afirmar que a gestão do conhecimento não se trata apenas de instrumentos vindos
das tecnologias de informação, é muito mais que isso. Ela tem sua efetivação no
grupo de pessoas, em trabalhadores intelectuais dispostos em compartilhar suas
experiências competências, e saberes, do contrário, esses instrumentos de
gestão do conhecimento são inócuos e dispensáveis.
Logo, o processo de gestão de
conhecimento dentro dessa lógica do capital intelectual e financeiro assume um
papel central para extrair suas capacidades, competências e habilidades, ou seja,
uma mais-valia em cima do trabalho moderno - sendo que o conhecimento dos
indivíduos só adquire valor se for combinado a outros conhecimentos. A atual
pandemia nos fez perceber tal fato, cujo desenvolvimento das vacinas para o
vírus do COVID-19 exigiu a combinação de vários conhecimentos por parte dos
cientistas, em que as trocas de saberes anteriores foram preponderantes para
sua fabricação. No entanto, foram as grandes empresas farmacêuticas que se
aproveitaram destes saberes, para colocar no mercado as vacinas e obter grandes
ganhos financeiros.com a valorização de suas ações no mercado.
O nosso mundo contemporâneo não
pertence mais ao velho caudilhismo
ditatorial das repúblicas da América Latina, muito menos do populismo de
direita, ou de esquerda que se igualam aos antigos caudilhos, nem de longe
tolera mais os ditames dos modelos tayloristas-fordistas de um capitalismo
industrial arcaico, na qual os trabalhadores eram apenas engrenagens que
impulsionavam as máquinas e certamente esse mundo não comporta mais a velha
burocracia estatal, em que os serviços públicos sempre emperravam nos trâmites
de documentos e papéis.
Os tempos e movimentos agora são
outros, que exigem de nós um novo olhar para as práticas políticas, onde a
tecnologia, a inovação e a busca contínua por informação e conhecimento
proporciona uma infinidade de possibilidades ao homem. Porém, esses
instrumentos tecnológicos - utilizados de forma errônea nas mãos de um governo
tirano - passam a ser pernicioso, retirando o ser da coletividade e da luta por
um objetivo em comum. Então, novamente caímos nestas antigas formas de governo,
assistindo a volta dos velhos discursos reacionários que pregam um
neoliberalismo torto, insano - que tolhe direitos aos serviços públicos para o
cidadão. Discurso esse, que tudo deve ser privatizado e colocado aos pés do
mercado.
No outro extremo, vemos ideologias de
uma esquerda que prega não os princípios da democracia participativa com base
nos conselhos populares, comitês de trabalhadores e na ampla participação das
pessoas, mas vigora a ideia de um governo assistencialista, paternalista, da
qual o Estado é o grande provedor que planeja e decide as ações e os rumos da
nação. Ambas proposições (neoliberalismo e esquerda institucional) são nefastas
ao desenvolvimento, ao trabalho e à produção.
Diz o velho ditado que o trabalho
enobrece o homem, o faz crescer e o liberta, entendemos que não é bem assim.
Somente aqueles se dão ao luxo do tempo livre são capazes de criar, inventar e
talvez conhecer as belezas que o mundo oferece. Digo isso, por que o grande
professor e escritor italiano Domenico De Masi mostra que somente no ócio somos
capazes de sermos criativos e inventivos. Mas neste livro, vou tecer análises
sobre outra obra do Professor De Masi. Em seu livro: Criatividade e grupos
criativos: descobertas e invenções o autor faz relevantes considerações no que
se refere ao mundo da ciência e da tecnologia, e que aqui julgo mais pertinente
ao assunto que iremos delinear. Num primeiro momento o autor traz até nós a
questão da globalização, sendo ela um mecanismo de aceleração e desenvolvimento
da ciência. Permitindo - assim - os processos de colaboração, mas também de
competição entre os cientistas, o que multiplicou descobertas e invenções (DE
MAIS, 2005, p.348).
As fantásticas análises do Professor De
Masi (2005, p.350) sobre a pesquisa científica e tecnológica em todo planeta
decorrem de grandes incentivos financeiros, justamente por serem áreas do
conhecimento que trazem em si enormes progressos materiais e se colocam a
disposição da humanidade. Entretanto, o autor nos revela que a tecnologia da
forma que for utilizada pode ser bastante nociva e gerar efeitos colaterais
como desemprego e até mesmo o aparecimento de certas patologias, principalmente
nas camadas sociais mais alienadas e marginalizadas.
Para De Masi, tais mudanças
tecnológicas nos fornecem informações em tempo real do mundo, porém seu excesso
torna-se extremamente danoso à saúde mental, que afeta diretamente a capacidade
crítica do ser humano (justamente por criar medos e angústias). O excesso de
informações e a disseminação de fake-news cria negativamente nas pessoas a
incapacidade de processar e dominar novas informações, ou seja, estamos
vivenciando a era da desinformação. Ao mesmo tempo em que as TICs encurtam
distâncias, via rede e permite-nos trocar conhecimentos, a sociedade da
informação de acordo com De Masi (2005, p.354) vivenciará novos egoísmos,
solidões, estranhamentos e ampla corrida pelo desempenho, resultado,
competividade e sucesso. A humanidade estará numa infinita dicotomia, bastante
caótica.
A sociedade da informação,
pós-fordista, tem suas estruturas dentro do capitalismo intelectual amparados
pelas tecnologias da informação, na visão de Domenico De Masi essas tecnologias
abrem grandes precedentes para uma democracia tecnológica pautada num mundo
síncrono, por outro lado, uma elite muito pequena utiliza-se dessas tecnologias
para dominar todo o sistema social por meio da mídia, aproveitando-se do
desinteresse de grande parte da população pelas coisas da política. Determina
De Masi (2005, p.368) que as novas tecnologias de informação aliada à redução
dos custos trazem como desvantagem o desemprego e a poluição, porém tem aumento
o Produto Nacional Bruto (PNB) de muitas nações influenciando diretamente na
poluição. O aumento da riqueza de muitos países não foi benéfico para sua
população, o que se vê neles são altos índices de desigualdades e depredação
dos recursos naturais. Portanto, como afirma o próprio De Masi (2005, p.369): o
Produto Interno Bruto (PIB) seja de qualquer nação não significa melhores
índices para medir conhecimento, educação, e ou sabedoria.
Da mesma forma que De Masi aponta
sobre a globalização e suas relações com as tecnologias do mundo contemporâneo,
um outro autor – Marcos Dantas - escreveu em 2002 uma excelente obra: A lógica
do capital-informação. Nela, o autor perfaz o caminho do Neoliberalismo,
durante a privatização do sistema de telefonia e telecomunicações no Brasil, no
governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), que entregou à
iniciativa privada toda rede de telefonia do país por um preço irrisório. Essas
privatizações não trouxeram em nada qualquer benefício para sociedade
brasileira, mas certamente deixaram muitos políticos e empresários bilionários.
Tudo à custa do patrimônio público.
Dantas (2002) coloca para nós, em sua obra, que a revolução tecnológica neste início do século XXI trata-se de uma reprodução eminentemente capitalista, sendo parte da atual economia da informação, a qual grandes corporações apropriam-se dos conhecimentos e saberes produzidos pela ciência e tecnologia.