Esse capitalismo
cognitivo financeirizado, na qual a produção material deixou de existir, tem
nos arremessado para o interior de um certo racionalismo irracional, em que
tudo dever ser detalhadamente justificado. Até mesmo as coisas mais banais do
cotidiano requerem explicações que sejam minimamente satisfatórias. Com avanço
tecnológico e o advento das redes sociais como parte dos meios de comunicações
a situação tornou-se mais crítica. Pois, nas redes sociais esse dito
racionalismo irracional, obra de um cartesianismo moderno e ilógico, fica muito
mais evidente. Busca-se respostas para questões obvias e visíveis, que em
grande parte encerra-se em si mesma. Mas a discussão em torno do assunto é
levada até as últimas consequências, onde um lado não aceita o não como
resposta final. O tema torna-se hiperbolizado e não se esgota em um simples sim
ou não.
O racionalismo
irracional, próprio deste capitalismo cognitivo, nasce justamente desse tempo
de excesso informacional - um oceano infindável de informações e dados – da
qual os meios de comunicação junto às tecnologias da informação e de redes
sobrecarregam nossas mentes e nos intoxicam, gerando a síndrome do pensamento
rápido. Exige-se soluções imediatas para antigos problemas que são resolvidos
apenas se tivermos a capacidade total de concentração e reflexão. Está posto aí
as contradições vindas desta modernidade severamente doente.
Pois, sobre este
racionalismo irracional podemos dizer, então, trata-se de uma construção
linguística, em que o excesso de racionalidade cartesiana nos faz movimentar
para irracional, ou melhor, o nosso raciocínio para aquilo que é lógico,
simples e evidente exige “porquês” cada vez mais profundo, explicações
minimamente detalhadas, muitas vezes respostas insanas ou mesmo irrespondíveis.
Nesta loucura do capitalismo cognitivo, nem o corpo e muito menos a mente se
satisfaz com a singularidade do não e tudo precisa adentrar no nível da
complexidade. Isso é o que denominamos de racionalismo irracional, não basta
mais um sim ou não, toda reposta deve vir seguida de uma longa e laudatória
explanação.
Com isso, as críticas
tornaram-se mais ferrenhas, onde, por exemplo uma posição política deve ser
detalhadamente explanada ao seu interlocutor (talvez, uma espécie de agente
inquisidor). Hoje, qualquer falta de decisão, ou melhor indecisão é bastante
mal vista pela sociedade, não cabe mais o ar da dúvida. O ficar em cima do muro
virou um crime, dessa forma somos forçados a escolher e explicar nossas
decisões. Então, para tudo que falamos deve-se ter uma reposta pronta, muitas
vezes padronizada. De preferência aquelas que agradem os ouvidos do
interlocutor.
Esse excesso monstruoso
de informações e dados tem nos jogado para dentro desse racionalismo
irracional, fruto de um capitalismo cognitivo vem escancarando a nossa
fragilidade psicológica e o quanto somos carentes de informação reais e
objetivas. Nos apegamos à superficialidade dos fatos, sem ao menos depurá-los e
analisa-los minuciosamente. Isso tem gerado grandes problemas no âmbito da comunicação,
pois temos disseminado com isso uma quantidade gigantesca de notícias falsas
- as famosas fake news.
O racionalismo
irracional também pode atuar nesse ambiente de propagação da informação
descabida, muitas vezes notícias sem qualquer conteúdo e fatos que carecem de
uma averiguação mais detalhada, que mediante as redes sociais e plataformas de
comunicação na internet tiveram sua audiência amplificada, fazendo com que uma
simples imagem, vídeo, entrevista ou nota em um site, blog torna-se uma verdade
absoluta e assim prejudicar a compreensão real dos fatos. Agora muitas dessas
notícias a depender de sua repercussão, ou caráter vexatório acabam
transformando-se em verdadeiros memes.
Contudo, a disseminação
dessas informações falsas atinge diretamente o fazer cientifico e em nada
contribui para a comunicação acadêmica. Para os meios de comunicação
tradicionais, as notícias falsas em redes sociais são bastante prejudiciais,
justamente por gerar confusões e favorecer no descrédito dos fatos e análises reportados
por jornalistas sérios que ocupam os jornais impressos e os meios
radio-televisivos.
Enfim, falar do
racionalismo irracional pode parecer um tanto estranho, algo que parece longe
de modo de pensar as coisas. Mas que recai justamente sobre a nossa
incapacidade de absorver, analisar e reter grandes quantidades de informações,
não pela sua escassez e sim pelo excesso. Fica mais fácil falar que o
racionalismo irracional claramente sobrevoa nos céus da desinformação a da
manipulação dos fatos, principalmente aqueles de cunho científico e político,
que mais interessam ou não a grande parte da sociedade. Só sabemos que a
síndrome do pensamento rápido e a busca frenética por soluções mágicas tem
trazido uma enorme angustia para nós humanos, tornando-nos cada vez mais
doentes. Bem, diversos estudos científicos apontam que os índices de doenças
mentais, principalmente a depressão já são alarmantes em todo planeta. Vivemos,
sem exagero, uma epidemia de doenças causadas pela tecnologias e excesso de
informacional. Isso demonstra o quanto excesso de informação, o tempo que
passamos nas redes sociais e nas plataformas tecnológicas, que deveria ser
apenas uma ferramenta de produtividade, ou lazer pode ser altamente tóxica a
nossa saúde mental e também física. Em suma, podemos dizer que esse tal de
racionalismo irracional de certa forma tem uma forte ligação com o
biocapitalismo de Antonio Negri e bebe da fonte do operaísmo italiano.