Na década de 80 - no auge de nossa juventude - ouvíamos uma música do Legião Urbana cuja a letra era mais ou menos assim: "tenho andado distraído, impaciente e indeciso e ainda estou confuso..." Isso reflete fielmente o que vivemos na atualidade. Estamos numa sociedade apressada, desatenta e incapaz de pensar em profundidade. Acreditamos piamente no mito da multitarefa, que podemos fazer mil coisas ao mesmo tempo e com a arrogância de serem bem executados. Então, estamos redondamente enganados - mentiram descaradamente para nós. Para começar, somos seres específicos, limitados cognitivamente. Dessa forma, tentar fazer duas ou mais coisas ao mesmo tempo só gera nos gera estresse e dor de cabeça. Bem, somos seres lentos, contemplativos e unitarefas. Tudo muda a partir do crescimento das cidades, do desenvolvimento das novas tecnologias e das relações de trabalho. Se antes, estavámos para tartarugas, agora nos obrigam a ser lebres. Passamos a andar e falar mais rápido. Com isso, foi embora o nosso foco e atenção. A medida que a tecnologia evolui somos jogados na corrida dos ratos. Sim, bem vindos a era da distração, em que o aumento da velocidade da leitura em telas, diminui vertiginosamente nossa probalidade de compreendermos textos complexos ou desafiadores, conforme Johann Hari. Ou seja, perdemos a capacidade de pensar. Ficamos mais burros. O uso de tempo de telas (celulares, TVs, computadores pessoais, notebooks, tablets e outros) estão a desgatar nosso foco e atenção. Nesse caso, estamos mais proprensos a falhas e erros. As redes sociais tem contribuído negativamente para a derrubada de nosso QI. A nossa energia está sendo muito mal aplicada, quando ficamos horas frente as telas. Diminuímos nossa capacidade de foco e não conseguimos nos concentrar por inteiro numa tarefa. Os smartsfones, tão comuns em nosso cotidianos, nos tornaram seres distraídos, perdidos no vazio, irritados e desatenciosos. Aquele que se julga capaz de realizar múltiplas tarefas - ou está equivocado - ou mente para si mesmo. Não podemos se comparar às máquinas. Somos humanos limitados, e não supercomputadores dotados de chips e circuitos integrados. Nossa lógica não é binária de o e 1. Nos anos 60, 70 até meados da década de 1980 - tempo na qual ser quer havia celulares, computadores pessoais e muitos menos redes sociais. As pessoas estavam muito mais conectadas com a realidade do mundo real, tinham a capacidade de articular boas conversas, ler livros complexos e assuntos diversos, as crianças e jovens eram mais livres para brincar. Havia nelas mais capacidade de concentração, foco e maior inteligência. Enfim, eram seres humanos menos fragmentados e dispersos, segundo Hari. Era uma sociedade mais devagar e concentrada. Certamente, as horas de sono eram mais longas, fator essencial para a qualidade de foco e atenção. O fato de estamos mais expostos a luz artificial, como a luz do celular e a tela TV, interfere diretamente em nosso sono. Sendo assim uma fonte de "stress" que aumenta consideravelmente nossa distração. A própria alimentação contribuia para uma vida mais saudável. Bem diferente daquela que temos hoje - uma alimentação industrializada com base em corantes, embutidos e conservantes. Extremamamente nesfata à saúde, basta vermos os índices de cancêr, problemas cardíacos, obsidade e doenças mentais. E isso inclui a deterioração de nossa atenção. Até a forma como lemos foi afetada. O excesso de leitura em telas (celulares, notebooks, tablets e PCs) modificou grandemente a maneira como nos comportamos. A leitura em telas impede que possamos focar numa leitura linear, cadenciada no tempo, mais lenta e atenciosa. Ou seja, ler no celular, ou qualquer outro dispositivo eletrônico nos tem gerado uma certa esquizofrenia. Lemos superficialmente, apenas rolamos e pulamos a tela para chegar em partes que nos interessam. Uma aquisção de conhecimento raso e sem qualquer profundidade. Conforme Hari, percebemos uma queda vertiginosa nos índices de leitura de livros físicos e consequentemente uma atrofia de nossa atenção e foco. Ao perder essa habilidade de ler livros físicos de maneira linear, influi incisivamente no modo como as pessoas ordenam seus pensamentos e se articulam consistentemente no futuro. Talvez, possa explicar a queda das pessoas se desenvolverem criativamente, apresentarem soluções inteligentes para problemas complexos, ou até mesmo tomarem decisões estratégicas. Então, esse mundo atual em que as grandes plataformas tecnológicas criaram artifícios nocivos para atrair nossa atenção e foco. Cujos programadores, webdesigners, desenvolvedores de softwares, engenheiros de sistemas e até psicológos - como mágicos - tentam prender nossa atenção nas telas e assim ficamos o tempo inteiro rolando imagens, fotos, texto e vídeos. O grande truque deles foi desenvolver mecanismos simples, mas que afetam o nosso olhar. Dessa forma, para restabelecermos nossa saúde mental, nosso sono, nossa vida e voltarmos ao centro de nossa atenção precisamos criar dispositivos mentais, justamente para desvencilharmos dessa prisão. Diga-se, prisão imposta pelas grandes plataformas tecnológicas e seus ilusionistas. Talvez, um passo importante estaria num ambiente analógico e sem a presença de qualquer aparelho e gadgets. Assim, permitir a mente fluir, alçar voos longe de desses apetrechos. Podemos ir mais longe, o simples fato de não fazer nada. Quiça, seja um bom caminho. Temos é que dar fim a essa ideia de que a todo momento precisamos ocupar nossa mente, o ter algo para fazer. A direção é oposta. Os pensamentos precisam fluir, devem divagar pelo espaço mental. Sim, é necessário optarmos pela arte do não fazer nada, e daí brotará a criatividade, as soluções e as decisões. Pois, a arte de não fazer nada é tudo e nos servirá como fluído para mitigar nossas distrações. Uma mente constatemente pertubada pelos excessos, principalmente por telas e redes comporta-se de forma desequilibrada e dispersa, cujos pensamentos encontram-se desorganzados e desconexos do real. Acreditem, as grandes plataformas de rede sabem se aproveitar disso. Com seus mecanismos, tais como: rolagem infinita, notificações, mensagens instantâneas, botões de curtir e por aí vai conseguem fisgar (pescar) o usuário, prendendo sua atenção por horas e horas. No longo prazo, isso causa uma depedência nociva. É viciante. Tal modelo adotado por essa gigantes da tecnologia provou-se bastante lucrativa, uma máquina de propagandas e vendas com milhares de anunciantes que brigam pela nossa atenção. Dado que, os algoritmos conseguem traçar perfis específicos e então direcionar produtos e serviços aos usuários. Portanto, o usuário torna-se presa fácil dessa engrenagem, sendo bombardeado por imagens, vídeos e mensagens que muitas vezes nem deseja receber, ouvir ou ver. São os efeitos nocivos da redes sociais e plataformas tecnológicas, que tiram o foco do indivíduo, enquanto seu emocional e totamente destruído. Portanto, a arte de não fazer nada seria um caminho, uma via pela qual poderiamos retomar o controle de nossas emoções e reconstruir o elo perdido de nosso foco e atenção. Que fique claro, bem explícito. É preciso regular o modo com atuam essas grandes plataformas, para isso os governos devem aplicar leis mais rígidas que peçam transparência, maior clareza dos algoritmos, exigir a implantação de fltros sofisticados e menos invasivos e cobrar multas no caso de descumprimento dos protocolos de segurança. O papel do Estado torna-se indispesável no que tange a retomada da capacidade de foco e atenção de seus cidadãos. O aparato estatal deve enxergar que a raiz do problema paira sobre os excessos das grandes plataformas, que visam apenas lucro. Entretanto, torna-se essencial desenvolver políticas de proteção social e econômica - justamente para oferecer às pessoas uma dose de segurança financeira. Talvez, uma espécie de renda básica. Pois, estudos tem provado que a relação segurança financeira e foco estão imbricadas. O "stress" financeiro é uma ameaça direta a nossa atenção. Os projetos de renda básica mostraram-se bastante benéficos ao foco e atenção dos indivíduos. A renda básica provê estabilidade seja no sentido financeiro, seja no âmbito da saúde mental. Qualidade no foco e atenção.
HARI, Johann. Foco roubado: os ladrões de atenção da vida moderna. São Paulo: Vestígio, 2024. 326 p.