Se
no momento anterior o nosso foco estava voltado para a imensa dificuldade de
concentração causadas pelas distrações cotidianas do mundo contemporâneo, que inclui
o excesso de telas. Algo que não havia anteriormente, nos idos dos anos
60, 70, até início dos 90. Atualmente, vivemos chafurdados num mar de mensagens
indesejáveis. A cada segundo somos banhados por propagandas e anúncios
daquilo que nem desejamos. Somos bombardeados por diariamente por e-mails,
chats, mensagens de WhatsApp, vídeos do TikTok, Youtube e outras redes sociais
e outras mídias. Tudo isso afeta diretamente a nossa saúde mental e física.
Tornam-nos escravos das telas, assim pagamos um alto preço por isso. Nossos
momentos de sossego e lazer já não mais existe, pois, o tempo todo somos
interrompidos pelo som das notificações recebidas no celular. A sociedade ficou
doente, os casos de stress, Burnout, depressão e síndrome do pânico explodiram
nesse pequeno espaço do século XXI. As pessoas estão menos atentas, mais
irritadiças e ansiosas, os índices de TDAH, Autismo, Alzheimer são alarmantes.
De alguma forma as causas podem estar ligadas ao crescimento do uso das telas e
o tempo que ficamos nelas. No mundo do trabalho comprou-se a ideia de que somos
seres multitarefas, capazes de realizar cinco, seis ou mais tarefas de forma
concomitante. Que grande mentira!! Para realizarmos bem uma atividade,
precisamos foco, concentração e atenção. Do contrário, fracassamos ao querer
fazer múltiplas num só tempo. Essa conversa de que o cérebro possui uma
capacidade multitarefa não passa de uma ilusão, por sinal perigoso. Trata-se de
um mito que a nossa era digital reforçou, justamente para nos dar a sensação de
maior produtividade. Mas o que ocorre na verdade, é que nosso cérebro não
executa várias tarefas ao mesmo tempo; ele alterna rapidamente entre elas. Essa
alternância constante, no entanto, tem um custo elevado: a atenção
dividida. Acontece que ao pular de uma notificação para um
e-mail, de um vídeo curto para uma mensagem, o cérebro não tem tempo para se
aprofundar em nenhuma atividade, resultando em:
- Menor
retenção de informações: Dificuldade em absorver e lembrar o que foi
lido ou visto.
- Aumento
de erros: A pressa em alternar tarefas leva a falhas e descuidos.
- Redução
da produtividade: O tempo gasto na troca de contexto supera o
benefício de tentar fazer várias coisas ao mesmo tempo.
- Esgotamento
mental: A constante estimulação e a exigência de atenção fragmentada
sobrecarregam o cérebro, levando à fadiga.
O
ciclo das redes sociais é altamente viciante e assim foram projetadas. Pois, o sistema
de recompensas instantâneas (curtidas, comentários, compartilhamentos) libera
dopamina em nosso cérebro, criando um ciclo de busca por mais validação. Essa
busca constante por novidade e gratificação imediata treina nosso cérebro para
esperar por estímulos rápidos e superficiais, tornando a imersão em tarefas que
exigem concentração prolongada cada vez mais desafiadora. Além
disso, a comparação social intrínseca às redes pode gerar ansiedade e
insatisfação, desviando ainda mais a atenção do que é realmente importante na
vida real. A necessidade de estar sempre "conectado" e
"atualizado" cria uma síndrome de FOMO (Fear Of Missing Out), ou
medo de ficar de fora, que nos prende ainda mais às telas. As consequências no
longo prazo podem-se dizer que são nada agradáveis, para não falar
nefastas. Os efeitos do excesso de telas e redes sociais no foco e na
atenção não são apenas imediatos. Observa-se:
- Dificuldade
de aprendizado: Em crianças e adolescentes, o excesso de tempo de
tela pode prejudicar o desenvolvimento de habilidades cognitivas
essenciais para o aprendizado, como a atenção sustentada e a memória de
trabalho.
- Problemas
de memória: A sobrecarga de informações e a atenção fragmentada podem
impactar a capacidade de formar e reter memórias de longo prazo.
- Impacto
na saúde mental: Além da ansiedade e da depressão relacionadas à
comparação social, a dependência digital pode levar a problemas de sono,
isolamento social e diminuição da autoestima.
- Prejuízo
na vida profissional e acadêmica: A dificuldade de concentração pode
afetar o desempenho em estudos e no trabalho, limitando o potencial
individual.
A
maneira a qual podemos nos desconectar seria reconectarmos com o mundo
analógico, voltarmos às origens de um tempo sem tecnologia. No entanto, algo impensável
e fortemente radical. Dada às próprias circunstâncias evolutivas da sociedade
ao longo dos séculos. Jamais, o capitalismo permitiria tal heresia, cuja
característica é a acumulação e viu no avanço tecnológico o caminho para
crescer, Talvez, a saída menos complexa para essa reconexão com a vida fora das
redes esteja em mitigar os seus efeitos deletérios. Mas, reverter essa
tendência exige um esforço consciente. Não se trata de demonizar a tecnologia,
mas de aprender a usá-la de forma mais equilibrada e intencional. Algumas
estratégias que podem ajudar incluem:
- Estabelecer
limites de tempo: definir horários específicos para o uso de redes
sociais e aplicativos, e aderir a eles.
- Desativar
notificações: reduzir as interrupções constantes que roubam a
atenção.
- Praticar
o "detox digital": Períodos regulares de desconexão total,
seja por algumas horas ou um dia inteiro.
- Priorizar
atividades offline: dedicar mais tempo a hobbies, leitura, exercícios
físicos e interações sociais presenciais.
- Treinar
o foco: Exercícios de atenção plena e meditação podem ajudar a
fortalecer a capacidade de concentração.
- Criar
ambientes livres de distração: Ao realizar tarefas importantes,
procure um local tranquilo e silencioso, longe de aparelhos eletrônicos.
Em
um mundo que compete constantemente pela nossa atenção, a capacidade de focar
se tornou uma habilidade valiosa. Ao reconhecer os problemas causados pelo
excesso de telas e redes sociais, e ao tomar medidas para recuperar nosso foco,
podemos não apenas melhorar nossa produtividade, mas também nossa qualidade de
vida e bem-estar mental. É hora de desconectar para, de fato, reconectar
conosco mesmos e com o mundo real.