sábado, 26 de julho de 2025

Foco e atenção no mundo tecnológico: adoecimento do corpo e da alma

Se no momento anterior o nosso foco estava voltado para a imensa dificuldade de concentração causadas pelas distrações cotidianas do mundo contemporâneo, que inclui o excesso de telas. Algo que não havia anteriormente, nos idos dos anos 60, 70, até início dos 90. Atualmente, vivemos chafurdados num mar de mensagens indesejáveis.  A cada segundo somos banhados por propagandas e anúncios daquilo que nem desejamos. Somos bombardeados por diariamente por e-mails, chats, mensagens de WhatsApp, vídeos do TikTok, Youtube e outras redes sociais e outras mídias. Tudo isso afeta diretamente a nossa saúde mental e física. Tornam-nos escravos das telas, assim pagamos um alto preço por isso. Nossos momentos de sossego e lazer já não mais existe, pois, o tempo todo somos interrompidos pelo som das notificações recebidas no celular. A sociedade ficou doente, os casos de stress, Burnout, depressão e síndrome do pânico explodiram nesse pequeno espaço do século XXI. As pessoas estão menos atentas, mais irritadiças e ansiosas, os índices de TDAH, Autismo, Alzheimer são alarmantes. De alguma forma as causas podem estar ligadas ao crescimento do uso das telas e o tempo que ficamos nelas. No mundo do trabalho comprou-se a ideia de que somos seres multitarefas, capazes de realizar cinco, seis ou mais tarefas de forma concomitante. Que grande mentira!! Para realizarmos bem uma atividade, precisamos foco, concentração e atenção. Do contrário, fracassamos ao querer fazer múltiplas num só tempo. Essa conversa de que o cérebro possui uma capacidade multitarefa não passa de uma ilusão, por sinal perigoso. Trata-se de um mito que a nossa era digital reforçou, justamente para nos dar a sensação de maior produtividade. Mas o que ocorre na verdade, é que nosso cérebro não executa várias tarefas ao mesmo tempo; ele alterna rapidamente entre elas. Essa alternância constante, no entanto, tem um custo elevado: a atenção divididaAcontece que ao pular de uma notificação para um e-mail, de um vídeo curto para uma mensagem, o cérebro não tem tempo para se aprofundar em nenhuma atividade, resultando em:

  • Menor retenção de informações: Dificuldade em absorver e lembrar o que foi lido ou visto.
  • Aumento de erros: A pressa em alternar tarefas leva a falhas e descuidos.
  • Redução da produtividade: O tempo gasto na troca de contexto supera o benefício de tentar fazer várias coisas ao mesmo tempo.
  • Esgotamento mental: A constante estimulação e a exigência de atenção fragmentada sobrecarregam o cérebro, levando à fadiga.

O ciclo das redes sociais é altamente viciante e assim foram projetadas. Pois, o sistema de recompensas instantâneas (curtidas, comentários, compartilhamentos) libera dopamina em nosso cérebro, criando um ciclo de busca por mais validação. Essa busca constante por novidade e gratificação imediata treina nosso cérebro para esperar por estímulos rápidos e superficiais, tornando a imersão em tarefas que exigem concentração prolongada cada vez mais desafiadora. Além disso, a comparação social intrínseca às redes pode gerar ansiedade e insatisfação, desviando ainda mais a atenção do que é realmente importante na vida real. A necessidade de estar sempre "conectado" e "atualizado" cria uma síndrome de FOMO (Fear Of Missing Out), ou medo de ficar de fora, que nos prende ainda mais às telas. As consequências no longo prazo podem-se dizer que são nada agradáveis, para não falar nefastas. Os efeitos do excesso de telas e redes sociais no foco e na atenção não são apenas imediatos. Observa-se:

  • Dificuldade de aprendizado: Em crianças e adolescentes, o excesso de tempo de tela pode prejudicar o desenvolvimento de habilidades cognitivas essenciais para o aprendizado, como a atenção sustentada e a memória de trabalho.
  • Problemas de memória: A sobrecarga de informações e a atenção fragmentada podem impactar a capacidade de formar e reter memórias de longo prazo.
  • Impacto na saúde mental: Além da ansiedade e da depressão relacionadas à comparação social, a dependência digital pode levar a problemas de sono, isolamento social e diminuição da autoestima.
  • Prejuízo na vida profissional e acadêmica: A dificuldade de concentração pode afetar o desempenho em estudos e no trabalho, limitando o potencial individual.

A maneira a qual podemos nos desconectar seria reconectarmos com o mundo analógico, voltarmos às origens de um tempo sem tecnologia. No entanto, algo impensável e fortemente radical. Dada às próprias circunstâncias evolutivas da sociedade ao longo dos séculos. Jamais, o capitalismo permitiria tal heresia, cuja característica é a acumulação e viu no avanço tecnológico o caminho para crescer, Talvez, a saída menos complexa para essa reconexão com a vida fora das redes esteja em mitigar os seus efeitos deletérios. Mas, reverter essa tendência exige um esforço consciente. Não se trata de demonizar a tecnologia, mas de aprender a usá-la de forma mais equilibrada e intencional. Algumas estratégias que podem ajudar incluem:

  • Estabelecer limites de tempo: definir horários específicos para o uso de redes sociais e aplicativos, e aderir a eles.
  • Desativar notificações: reduzir as interrupções constantes que roubam a atenção.
  • Praticar o "detox digital": Períodos regulares de desconexão total, seja por algumas horas ou um dia inteiro.
  • Priorizar atividades offline: dedicar mais tempo a hobbies, leitura, exercícios físicos e interações sociais presenciais.
  • Treinar o foco: Exercícios de atenção plena e meditação podem ajudar a fortalecer a capacidade de concentração.
  • Criar ambientes livres de distração: Ao realizar tarefas importantes, procure um local tranquilo e silencioso, longe de aparelhos eletrônicos.

Em um mundo que compete constantemente pela nossa atenção, a capacidade de focar se tornou uma habilidade valiosa. Ao reconhecer os problemas causados pelo excesso de telas e redes sociais, e ao tomar medidas para recuperar nosso foco, podemos não apenas melhorar nossa produtividade, mas também nossa qualidade de vida e bem-estar mental. É hora de desconectar para, de fato, reconectar conosco mesmos e com o mundo real.

 

sábado, 5 de julho de 2025

A Era da distração: como o excesso de telas e Redes Sociais afeta nosso foco e atenção

 

Na década de 80 - no auge de nossa juventude - ouvíamos uma música do Legião Urbana cuja a letra era mais ou menos assim:  "tenho andado distraído, impaciente e indeciso e ainda estou confuso..." Isso reflete fielmente o que vivemos na atualidade. Estamos numa sociedade apressada, desatenta e incapaz de pensar em profundidade. Acreditamos piamente no mito da multitarefa, que podemos fazer mil coisas ao mesmo tempo e com a arrogância de serem bem executados. Então, estamos redondamente enganados - mentiram descaradamente para nós. Para começar, somos seres específicos, limitados cognitivamente. Dessa forma, tentar fazer duas ou mais coisas ao mesmo tempo só gera nos gera estresse e dor de cabeça. Bem, somos seres lentos, contemplativos e unitarefas. Tudo muda a partir do crescimento das cidades, do desenvolvimento das novas tecnologias e das relações de trabalho. Se antes, estavámos para tartarugas, agora nos obrigam a ser lebres. Passamos a andar e falar mais rápido. Com isso, foi embora o nosso foco e atenção. A medida que a tecnologia evolui somos jogados na corrida dos ratos. Sim, bem vindos a era da distração, em que o aumento da velocidade da leitura em telas, diminui vertiginosamente nossa probalidade de compreendermos textos complexos ou desafiadores, conforme Johann Hari. Ou seja, perdemos a capacidade de pensar. Ficamos mais burros. O uso de tempo de telas (celulares, TVs, computadores pessoais, notebooks, tablets e outros) estão a desgatar nosso foco e atenção. Nesse caso, estamos mais proprensos a falhas e erros. As redes sociais tem contribuído negativamente para a derrubada de nosso QI. A nossa energia está sendo muito mal aplicada, quando ficamos horas frente as telas. Diminuímos nossa capacidade de foco e não conseguimos nos concentrar por inteiro numa tarefa. Os smartsfones, tão comuns em nosso cotidianos, nos tornaram seres distraídos, perdidos no vazio, irritados e desatenciosos. Aquele que se julga capaz de realizar múltiplas tarefas - ou está equivocado - ou mente para si mesmo.  Não podemos se comparar às máquinas. Somos humanos limitados, e não supercomputadores dotados de chips e circuitos integrados. Nossa lógica não é binária de o e 1. Nos anos 60, 70 até meados da década de 1980 - tempo na qual ser quer havia celulares, computadores pessoais e muitos menos redes sociais. As pessoas estavam muito mais conectadas com a realidade do mundo real, tinham a capacidade de articular boas conversas, ler livros complexos e assuntos diversos, as crianças e jovens eram mais livres para brincar. Havia nelas mais capacidade de concentração, foco e maior inteligência. Enfim, eram seres humanos menos fragmentados e dispersos, segundo Hari. Era uma sociedade mais devagar e concentrada. Certamente, as horas de sono eram mais longas, fator essencial para a qualidade de foco e atenção. O fato de estamos mais expostos a luz artificial, como a luz do celular e a tela TV, interfere diretamente em nosso sono. Sendo assim uma fonte de "stress" que aumenta consideravelmente nossa distração. A própria alimentação contribuia para uma vida mais saudável. Bem diferente daquela que temos hoje - uma alimentação industrializada com base em corantes, embutidos e conservantes. Extremamamente nesfata à saúde, basta vermos os índices de cancêr, problemas cardíacos, obsidade e doenças mentais. E isso inclui a deterioração de nossa atenção. Até a forma como lemos foi afetada. O excesso de leitura em telas (celulares, notebooks, tablets e PCs) modificou grandemente a maneira como nos comportamos. A leitura em telas impede que possamos focar numa leitura linear, cadenciada no tempo, mais lenta e atenciosa. Ou seja, ler no celular, ou qualquer outro dispositivo eletrônico nos tem gerado uma certa esquizofrenia. Lemos superficialmente, apenas rolamos e pulamos a tela para chegar em partes que nos interessam. Uma aquisção de conhecimento raso e sem qualquer profundidade. Conforme Hari, percebemos uma queda vertiginosa nos índices de leitura de livros físicos e consequentemente uma atrofia de nossa atenção e foco. Ao perder essa habilidade de ler livros físicos de maneira linear, influi incisivamente no modo como as pessoas ordenam seus pensamentos e se articulam consistentemente no futuro. Talvez, possa explicar a queda das pessoas se desenvolverem criativamente, apresentarem soluções inteligentes para problemas complexos, ou até mesmo tomarem decisões estratégicas. Então, esse mundo atual em que as grandes plataformas tecnológicas criaram artifícios nocivos para atrair nossa atenção e foco. Cujos programadores, webdesigners, desenvolvedores de softwares, engenheiros de sistemas e até psicológos - como mágicos - tentam prender nossa atenção nas telas e assim ficamos o tempo inteiro rolando imagens, fotos, texto e vídeos. O grande truque deles foi desenvolver mecanismos simples, mas que afetam o nosso olhar. Dessa forma, para restabelecermos nossa saúde mental, nosso sono,  nossa vida e voltarmos ao centro de nossa atenção precisamos criar dispositivos mentais, justamente para desvencilharmos dessa prisão. Diga-se, prisão imposta  pelas grandes plataformas tecnológicas e seus ilusionistas. Talvez, um passo importante estaria num ambiente analógico e sem a presença de qualquer aparelho e gadgets. Assim, permitir a mente fluir, alçar voos  longe de desses apetrechos. Podemos ir mais longe, o simples fato de não fazer nada. Quiça, seja um bom caminho. Temos é que dar fim a essa ideia de que a todo momento precisamos ocupar nossa mente, o ter algo para fazer. A direção é oposta. Os pensamentos precisam fluir, devem divagar pelo espaço mental. Sim, é necessário optarmos pela arte do não fazer nada, e daí brotará a criatividade, as soluções e as decisões. Pois, a arte de não fazer nada é tudo e nos servirá como fluído para mitigar nossas distrações. Uma mente constatemente pertubada pelos excessos, principalmente por telas e redes comporta-se de forma desequilibrada e dispersa, cujos pensamentos encontram-se desorganzados e desconexos do real. Acreditem, as grandes plataformas de rede sabem se aproveitar disso. Com seus mecanismos, tais como: rolagem infinita, notificações, mensagens instantâneas, botões de curtir e por aí vai conseguem fisgar (pescar) o usuário, prendendo sua atenção por horas e horas. No longo prazo, isso causa uma depedência nociva. É viciante. Tal modelo adotado por essa gigantes da tecnologia  provou-se bastante lucrativa, uma máquina de propagandas e vendas com milhares de anunciantes que brigam pela nossa atenção. Dado que, os algoritmos conseguem traçar perfis específicos e então direcionar produtos e serviços aos usuários. Portanto, o usuário torna-se presa fácil dessa engrenagem, sendo bombardeado por imagens, vídeos e mensagens que muitas vezes nem deseja receber, ouvir ou ver. São os efeitos nocivos da redes sociais e plataformas tecnológicas, que tiram o foco do indivíduo, enquanto seu emocional e totamente destruído. Portanto, a arte de não fazer nada seria um caminho, uma via pela qual poderiamos retomar o controle de nossas emoções e reconstruir o elo perdido de nosso foco e atenção. Que fique claro, bem explícito. É preciso regular o modo com atuam essas grandes plataformas, para isso os governos  devem aplicar leis mais rígidas que peçam transparência, maior clareza dos algoritmos, exigir a implantação de fltros sofisticados e menos invasivos e cobrar multas no caso de descumprimento dos protocolos de segurança. O papel do Estado torna-se indispesável  no que tange a retomada da capacidade de foco e atenção de seus cidadãos. O aparato estatal deve enxergar que a raiz do problema paira sobre os excessos das grandes plataformas, que visam apenas lucro. Entretanto, torna-se essencial desenvolver políticas  de proteção social e econômica - justamente para oferecer às pessoas uma dose de segurança financeira. Talvez, uma espécie de renda básica. Pois, estudos tem provado que a relação segurança financeira e foco estão imbricadas. O "stress" financeiro é uma ameaça direta a nossa atenção. Os projetos de renda básica mostraram-se bastante benéficos ao foco e atenção dos indivíduos. A renda básica provê estabilidade seja no sentido financeiro, seja no âmbito da saúde mental. Qualidade no foco e atenção. 

HARI, Johann. Foco roubado: os ladrões de atenção da vida moderna. São Paulo: Vestígio, 2024. 326 p.

Natureza

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