domingo, 5 de maio de 2024

A guerra de narrativas

 A linguagem foi o fator primordial para evolução humana, o desenvolvimento do homem se deu através das palavras. O balbuciar primitivo e grunhindos dos neandertais, as primeiras formas rudimentares de comunicação do homem sapiens, além de suas representações pictóricas demonstram a necessidade de sobrevivência em um planeta hostil. Isso faz de nós seres dependentes de uma convivência coletiva, baseada na troca de conhecimentos e informações, mas antes de tudo humanos dotados de uma capacidade inventiva, criativa pautados principalmente na conversação. O falar trata-se de uma caracteristica própria dos homens, e é desse falar, dessa conversação que se descortina toda linguagem com suas palavras, sons, gestos, signos e símbolos.  Por isso, a linguagem assume esse caráter dinâmico e mutável, que no tempo rompe barreiras e então se espraia  no tecido social. Observa-se nela uma certa liquidez, talvez uma necessidade incontrolável de expansão, como ocorre com a fluidez da água. Assim, dizemos: palavras são líquidas e mudam conforme o tempo e o espaço. 

As palavras formam textos,constrõem linguagens e servem de armas para dominação cultural. Permitem assim, as palavras desenvolvam narrativas - ou seja - fatos, histórias e discursos (muitas vezes vazios) na tentativa de apropriação da palavra do outro. Tal apropriação trata-se da dominação via um discurso a qual prevalece o excesso de símbolos, sendo uma exacerbação semiótica em detrimento da semântica - em suma -  do sentido (significado).  Pois é dessa maneira que atua a dominação cultural, ao corroer lentamente por fora e depois ao avançar de forma sorrateira o interior das culturas dominadas. Nem sempre essa dominação foi pacífica - ao contrário - culminou em  guerras com batalhas sangrentas.  

A exemplo, a dominação cultural do outro que se fez por meio da apropriação de símbolos foi visível no período da 2ª guerra mundial, quando a Alemanha toma de assalto as representações pictóricas orientais e subverte seu significado. A suástica - um símbolo religioso dos hinduistas e budistas, cujo siginificado representa a felicidade e sorte -  sob o dominio da Alemanha nazista tornou um sinal de horror, medo, destruição. Construi-se aí uma nova narrativa para o mesmo símbolo, o que era antes um sinal de paz e amor;  na mão outro virou um sinal de guerra e dominação. Trata-se da mais pura subversão do discurso, mote para aniquilar o outro. Esse modelo de narrativas, se assim podemos chamar pelo fato de não encontrar um termo melhor, ao longo do tempo se sofisticou enormente com o avanço das tecnologias midiáticas, principalmente com a TV e depois a internet. 

Pois, a aniquilação do discurso proveniente da proliferação das narrativas abrem precendentes para aquilo que denominaremos aqui de pós-verdade. Em primeiro lugar, a pós-verdade não trata-se de uma mentira, que contada mil vezes torna-se uma verdade, como afirmam os meios políticos. A pós-verdade é um termo genuinamente originado dessa era contemporânea criado para subverter a realidade, que utiliza-se dos meios midiaticos e tecnológicos da redes sociais para disseminação de algo que chamamos de fake news, ou melhor, notícias falsas. A intenção dessas fakes news vai muito além de gerar simples audiência, seu objetivo maior está na cultura do cancelamento ou seja, uma forma de destruir a narrativa do outro. Declarar uma guerra de narrativas com vista para acabar com a reputação do inimigo. 

Muito estranho é ver que o dito inimigo, o outro na verdade não existe é apenas um fantasma. Caso exista, deve ser aniquilado atravès de uma contra-narrativa. Bem, tudo não passa de uma batalha de egos feridos, vaidades e busca pelo poder. O que se deseja é um pensamento unificado, unilateral, sem qualquer polaridade. Já que a polaridade na visão da narrativas quebram o discurso do dominador e impede sua hegemonia de poder. Impelir um discurso sem contraponto, cuja opinião do outro é desconsiderada e não reconhecida fecha-se numa narrativa única e portanto desastrosa. O não ouvir o diferente, em que prevalece o falar e escutar apenas para si mesmo e o seus iguais desqualifica o lugar de fala, sendo que não enxerga o outro. Quando, coloca-se no direito de lugar de fala apenas aquele que detêm o cartão de oprimido recaí-se no identitarismo, na identidade idem - ou seja -  na identidade dos iguais. Fator este que em nada agrega na convivência real entre os diferentes, ficando assim no âmbito da individualidade. Em nada ajuda na cosntrução coletiva. 

As narrativas para que sejam de fato elementos agregadores e de construção de um pensamento coletivo precisam, antes de tudo, estar abertas aos dialógo e transistar por disntintas arenas sociais, políticas, econômicas e culturais. Mais uma vez sobre a guerra de narrativas, não temos com fugir, é uma batalha própia de nossa era contemporânea que tutiliza-se de armas poderosas, talvez mais destrutivas que bombas atômicas por destruírem reputações, devastrarem governos e pessoas. Enfim, nessa guerra nefasta prevalecem as melhores narrativas e vencem aqueles que controlam as massas, dominam os meios de comunicação. Portanto, a necessidade de se jogar o jogo da lingugem, diga-se uma linguagem suja, enviesada e pronta para desarmar qualquer um que ousar tentar tomar-lhe o poder. 

Diante de tudo isso, a tecnologia através de seus mecanismos de Inteligência Artificial (IA) já estão reproduzindo narrativas devidamente empacotadas e embaladas ao gosto do cliente. Grandes plataformas e redes sociais servem um amplo cardápio num discurso pronto e acabado para aqueles que anseiam pelo desejo de um falso poder.  A informação há um bom tempodeixou de ser sinónimo de poder. Agora a grande vedete do poder é a maquinaria e seu uso pelo capitalismo - focado em narrativas, que tem por dentro um discurso ensaiado e dominante - para alienar a sociedade e transformando-a em seres zumbificados, presos numa realidade paralela. Com isso, mídia, governoe grandes corporações travam uma guerra de "doces" narrativas para prender a atenção contínua de seus espctadores, simplórios consumidores da sociedade do espetáculo "debordiano", ou mesmo seres gadificados prontos para o abate. 

Natureza

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