Como não poderia ser diferente do
resto do planeta, a onda neoliberal atinge o Brasil, no início da década 90,
durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Nesse período
ocorre uma série de privatizações de estatais, principalmente aquelas do setor
de telecomunicações e telefonia. São as forças do capitalismo adentrando
setores da economia que a princípio tem uma grande relevância estratégica para
a o país. Essas privatizações ocorridas durante este governo nos fazem refletir
a respeito da essencialidade dos serviços públicos e quanto eles podem ser
úteis sociedade.
Por outro lado, a iniciativa privada
não faz qualquer reflexão deliberada a respeito da necessidade destes serviços,
já que está imbuída na obtenção do lucro. Até mesmo como foram feitas tais
privatizações, merece profunda investigação. Ao passo que, dessas companhias
estatais de telefonia tiveram seus leilões por preço irrisório e seus
compradores contaram com dinheiro público do BNDES para adquiri-las.
Mais uma vez, o Estado servindo aos
interesses do capital. Com isso, o autor do livro: A lógica do capital -
informação, Marcos Dantas - em uma interessante passagem - nos faz recordar da
necessidade de reavaliarmos as bases do capitalismo produtivo, e, portanto,
coloca o autor nessa citação:
“No final do século XX, o capitalismo moderno completou um grande ciclo
histórico, cujas marcas iniciais datam dos anos da 1ª guerra mundial,
posteriormente denominavam de “fordismo”, definido como uma grande coalização
entre empresas, sindicato, e o Estado para garantir a expansão dos
investimentos dos mercados, dos empregos e da renda. [...] o “fordismo”
apoiava-se numa base técnica específica e em um conjunto de condições sociais,
culturais que o agasalhavam e foram por ele, progressivamente modificados e
transformados (DANTAS, 2002, p.73).
O neoliberalismo, é isso, o novo
liberalismo com aporte do capital intelectual e de suas inovações tecnológicas
que modifica profundamente as relações sociais e transforma completamente o
mundo do trabalho. As mudanças nas relações de trabalho geralmente são
negativas para o trabalhador, que perde sempre direitos.
O setor de comunicações, vital a toda
sociedade, jamais deveria estar aos auspícios de grandes empresas privadas.
Pois, a indústria da informação tem seu habitat natural na formação cultural
dos povos e toda forma de comunicação está engendrada no domínio da linguagem,
por meio dos signos e símbolos. A partir do momento que tais elementos da
linguagem são tomados pela grande indústria do entretenimento e meios de
comunicação sem a participação coletiva, a cultura da linguagem se rende aos
caprichos do capital.
Diante disso, os signos e símbolos
tornam-se uma espécie de mercadoria, que nem sempre irá condizer com a
realidade cultural, seja de uma tribo, de um povo ou nação. Ao entregarmos
nossa linguagem a esses poucos veículos de comunicação, abrimos mão de nossas
raízes culturais e recebemos em troca informações muitas vezes fustigadas de
mentiras e sem valor real. A respeito da importância das comunicações, enquanto
linguagem dotada de signos e símbolos, Dantas traça uma breve definição que:
“Em comunicações, cabe tudo que se refere ao registro, tratamento e
disseminação da informação social. Já o debate sobre as comunicações no Brasil
está pobre, medíocre, limitada a um pequeno, mas interessadíssimo, grupo de
participantes, e reduzido a meia dúzia de lugares-comuns e frase feitas
(DANTAS, 2002, P.95).
A elite brasileira tem forte presença nos meios de
comunicação de massa. Os donos de TVs, jornais e rádios, em parte dominam o
meio político em proveito próprio. Neste mesmo percurso, em relação as
comunicações e o seu interesse em dominar as audiências no país, este mesmo
autor (2002, p.96) faz o seguinte relato e assim diz: “As forças sociais interessadas
em moldar as comunicações brasileiras conforme seus interesses estão de fato
cumprindo o seu papel, e com bastante eficiência. Sem dúvida, a TV aberta é o
principal meio de comunicação dos brasileiros, atinge quase 90% dos lares,
sendo única fonte de informação dos indivíduos. Isso faz da televisão o espelho
de nossa sociedade.
Talvez
esteja enganado, mas penso que somente uma força de esquerda seria capaz de
mitigar ou mesmo debelar as atuais estruturas neoliberais que está avançado de
maneira rápida e truculenta por quase todo o mundo. Cabe a nós reavaliarmos e
reestruturamos todas as nossas práticas sociais em função de uma esquerda
reflexiva, comprometida com a igualdade e solidariedade. Nessa toada, Dantas
(2002, p.97) deixa bem claro o papel da esquerda, que “implica num profundo
compromisso com a herança racionalista da civilização e o com o projeto de
consumar na realidade social as promessas do iluminismo, que a sociedade
burguesa deixou a meio caminho”. As palavras de Dantas sobre estes ideais
socialistas certamente vieram de empréstimos das obras de Proudhon e Marx, no
intuito de se construir uma sociedade mais justa e equânime.
Por falar em Marx, o avanço capitalista num
primeiro momento atravessa o século XIX e nos idos do século XX teve seus
radares na captação das forças produtivas, na divisão do trabalho, no chão de
fábrica e na distribuição de produtos voltados para um mercado consumidor. Já
em meados dos anos 80, o capital se desloca para a tecnologia e o mercado
financeiro. A tecnologia abre precedentes para o desenvolvimento de sistemas de
informação, que fornece comunicação instantânea síncrona e assíncrona,
modificando principalmente as relações de trabalho.
Não há mais produção dentro de um modelo fordista,
mas sim uma intensa “plataformização” das rotinas, tarefas e atividades
realizadas através dos sistemas de informação, que segundo Dantas (2002, p.98)
“atinge e molda o ser humano de forma inconsciente, conforme os arranjos do
capital. A tecnologia da informação
quebra com toda a antiga lógica da divisão do trabalho, assim passamos do homem
operário, para o homem empreendedor. Dantas (2002, p.98) ainda afirma que
“trata-se de uma visão proveniente dos aparatos tecnológicos criadas pelo
capital”.
Dentro de um Estado democrático, a informação e a
produção do conhecimento deveriam ser direitos inalienáveis, jamais pertenceram
aos propósitos do capital. A inovação tecnológica é uma criação, antes de tudo,
coletiva, realizada com recursos vindos das universidades públicas e dinheiro
da sociedade, pagos através dei impostos.
Os sistemas de informação como parte dessa
inovação tecnológica encaixam-se nos saberes e fazeres vindos da produção
intelectual e acadêmica. A respeito dessa visão tecnológica, Dantas (2002,
p.98) afirma categoricamente que “os sistemas de informação servem a um grande
número de aplicações sociais, não diretamente lucrativas, todavia, num país tão
desigual e injusto, tais sistemas de informação serviriam à educação e saúde
pública, além de ser utilizada nas decisões políticas pelos cidadãos”.
Os sistemas de informações nascem de a necessidade
do homem avançar a comunicação a um patamar mais tecnológico e ao mesmo tempo
disseminar a informação de maneira mais rápida e eficiente. Esses sistemas
reúnem um conjunto de tecnologias informacionais e comunicacionais, seja via
rede ou não, que possibilita as pessoas terem acesso a serviços e produtos de
informação necessários ao seu cabedal de conhecimento. Portanto, devemos
colocar os sistemas de informação dentro do contexto social e não no âmbito do
capital. Nesse ponto ainda, acrescenta Dantas (2002, p.98) que “os responsáveis
políticos e os tecnocratas das comunicações continuam a molda-las
exclusivamente para servir ao capital e ao lucro.
Os espaços de criação e
compartilhamento de informação que funcionam fora dos ambientes de controle
social e hierárquico - impostos pelo capitalismo cognitivo - certamente permite
muito mais acesso ao saber, sendo que os fluxos de produção de conhecimento seriam
mais eficazes. Por isso, o uso de ferramentas tecnológicas de código aberto e
software livre tornaram-se fundamentais para sedimentar estes espaços de
intercâmbio informacional não
O neoliberalismo
herdado do capitalismo cognitivo desmantelou o Estado de bem-estar social e
privatizou grande parte dos serviços sociais, dificultando o acesso aos
serviços mais básicos, no entanto essenciais para vida do cidadão. O fim destes
serviços públicos, conforme Fumagalli (2010, p.320) tem motivado a extensão
destes mesmos serviços por parte de uma gestão comunitária. Por exemplo, as
frentes populares, que forma uma espécie de sociedade alternativa, ou seja, uma
rede informal imbricada na discussão dos problemas sociais, na qual o
neoliberalismo criou.
As forças repressivas
do estado e o controle dos meios de comunicação de certa maneira dificultam a
ação das massas populares lutar e resistir contra o sistema econômico.
Entretanto, para bem da humanidade, ainda há uns poucos que estão no embate
para tentar ao menos furar a densa teia da rede, utilizando-se de uma
comunicação informal e paralela.