Muitos economistas colocam que o
capitalismo é um sistema econômico natural. o que não é verdade, pois a partir do momento que temos
a presença da mão humana na transformação dos recursos da natureza, passa-se a
ter uma artificialidade desses recursos. Eles deixam o seu estado natural bruto
para obter uma forma consumível, tornam-se mercadorias que atendem as leis da
oferta e demanda. Assim, as pessoas pagam um preço para obtê-los.
Este preço varia conforme a oferta e
demanda. A exemplo tomemos a indústria extrativista, que retira da natureza
diversos minerais, madeira, ou mesmo utilizam-se dos recursos hídricos para
gerar energia que movimentam as indústrias, criando mercadorias que atendam as
necessidades e desejos de consumo.
Em suma, o capitalismo apropria-se
dos recursos naturais no intuito de gerar produtos e ofertá-los no mercado. O
consumo torna-se um elemento vital para o desenvolvimento do capitalismo, Do
outro lado, temos os trabalhadores que vendem sua força de trabalho em troca de
uma quantia de dinheiro para gerar estas mercadorias.
Quantia essa denominada salário, que
visa suprir necessidades básicas.
Portanto, Só há valor quando temos trabalho embutido nestes produtos, conforme
Marx havia dito.
Esse é o principio dos estudos de
Marx, que envolve questões ligadas ao capital e trabalho. Dois elementos
geradores da famosa luta de classes colocados nos escritos marxistas. Marx
coloca que os meios de produção dominado pelo detentor do capital ( o capitalista)
precisa produzir mercadorias e lançá-las num mercado para que seja consumida.
Assim o capitalista se apropria dos
recursos naturais (água, madeira, minérios e outros) para moldá-las em
mercadorias que vão até ao consumidor e obviamente feitas pelas mãos de algum
trabalhador assalariado. Lógico, um vendedor, aquele que vende sua força de
trabalho.
Para reforçarmos essa maravilhosa
prática adotada pelo capitalismo, vamos dizer que trata-se de uma forma de
maximizar a produção e para tanto utiliza-se da força de trabalho assalariada,
da qual o lucro provém do tempo extra de trabalho realizado. Portanto, é dai
que se obtém o famigerado mais-valor ou mais-valia na concepção marxista.
Com advento das tecnologias das
máquinas - aqui não distinguiremos se é a vapor ou elétrica - introduzidas no ambiente fabril, o processo
de produção ganhou mais celeridade e consequentemente diminui os custos de
fabricação.
Porém, o trabalhador não foi
recompensado por esta modernidade, ao passo que as horas de trabalho se manteve
as mesmas e com uma produção muito maior, nem mesmo os salários tiveram grandes
oscilações positivas. Cabiam aos trabalhadores recorrem aos sindicatos e declarar
luta ao patrões, através das greves. Essas horas de trabalho não remuneradas,
foi denominada por Marx de mais-valia ou mais-valor, sendo ela o lucro dos
donos dos meios de produção.
Só pra esclarecermos que o fato de
não diferenciarmos aqui as máquinas a vapor ou elétricas, assim como os teares
manuais por exemplo é porque estamos tratando superficialmente de um período
histórico que envolve as primeiras revoluções industriais. Não é nosso intuito
neste artigo descrever os pormenores da história. Mas sim focar na questão
histórico-econômica e a sua passagem pela contemporaneidade fazendo elo entre a
relação oferta-demanda e preços para mostrar víeis do capitalismo na ideia do
recorte natural.
Assim descrevemos o princípio do
capitalismo produtivo, aquele em que há
criação de mercadorias tangíveis produzidas pelas mãos de um
trabalhador.
No entanto, a realidade atual deste
século XXI não está mais calcada no processo produtivo das fábricas, muito
menos no trabalhador. Portanto, o valor deixou de existir, dado que não se tem
mais trabalho embutido pelas mão operarias. O que resta agora é o dinheiro
criando mais dinheiro, por meio da magia dos juros. Com isso a mercadoria não
tem sua expressão no valor, resta apenas o vazio dotado de desejo que nunca se
satisfaz.
Isso que vivemos na contemporaneidade
é uma nova forma de capitalismo em crise constante, pautado na financeirização,
no modelo de juros e no endeusamento do mercado financeiro, onde as bolsas de
valores e futuros são os templos que adoram o Deus dinheiro. As trocas são
imagéticas e irreais, apenas números apresentados em tela que na velocidade da
luz passa de uma mão para outra.
Nesse capitalismo o dinheiro
(equivalente universal de trocas) age como um gerador de mais dinheiro,
colocando de lado a relação capital-trabalho. Dessa forma, denominamos o
capitalismo improdutivo ou capitalismo financeiro, da qual se cria produtos a
partir do próprio capital, através de juros, dividendos, derivativos, ações e
títulos.
Essa vertente do capitalismo alija em
grande parte o trabalhador de qualquer tipo de reivindicação e coloca abaixo as
entidades sindicais que protegem e fazem valer as leis trabalhistas. Todos nós
passamos neste novo modelo de capitalismo à condição de investidor e
sobrevivemos da via credor-devedor
perante ao mecanismo de taxa de juros e títulos comprados do governo que
por sua vez financia a própria indústria financeira.
A visão desse capitalismo
ultra-selvagem, gerador de capital fictício (termo utilizado por Marx no livro
- O capital) tem em seu corpo a ideia do
liberalismo elevado num grau máximo, sem as amarras do Estado. Pois nele não cabe a presença do Estado como
interventor, ou mesmo, provedor de políticas publicas. Não sobra qualquer
espaço para a burocracia Weberiana representante dos serviços públicos dotado
de certa qualidade. Tudo agora cabe a iniciativa privada que impõem à população
serviços básicos como água.esgoto, iluminação e até mesmo saúde e educação com
tarifas elevadas.
Enfim, a condição precípua em torno
desse capitalismo totalmente artificial é que tudo passe a pertencer aos
grandes conglomerados e holdings, formados por sociedades anônimas, grupos
empresariais que não geram mercadorias, detém apenas marcas e patentes. Mais
uma vez, é o dinheiro produzindo dinheiro. O famoso neoliberalismo.
Portanto, podemos dizer que as
grandes companhias são apenas marcas, onde investidores aportam seus capitais
em busca de maximizá-los e gerar mais capital, sem produzir se quer um
alfinete. Até mesmo o governo já aderiu a tal modelo, por meio da criação de
títulos públicos para captar empréstimos que pagam juros aos detentores destes
títulos, na verdade credores do Estado. Assim, o governo contrai dívidas com
grandes empresas e investidores, que podem ser fundos de pensões ou mesmo
pessoas físicas.
A financeirização do capitalismo, a
partir do fim do século XX, trouxe em si uma série de complicadores, como a
quebra da relação oferta e demanda, preços e outros, criando mecanismos
artificiais geradores de crises, que colocam em xeque o desenvolvimento de
qualquer nação. Tal fato, alarga ainda mais as desigualdades socais, ao passo
que as políticas públicas não são mais de domínio do Estado.
Nesse caso, o Estado torna-se uma
engrenagem do modelo proposto pelo capital financeiro, deixando de ser o tutor
da sociedade por não mais oferecer serviços públicos essenciais, tais como:
educação, saúde, políticas de moradias, saneamento, energia elétrica subsidiada
e bolsas assistenciais, além de prever direitos a quem necessita. O
Neoliberalismo que se instaurou em quase todo o planeta vem com objetivo de
enterrar os ideais da social-democracia
e suas políticas públicas de bem-estar social. Por fim ao modelo
econômico desenhado pelo Keynesianismo, cujo Estado tem um papel forte nas
decisões para debelar a recessão, a inflação e combater o desemprego.
Tudo tende a ser privatizado e
entregue para as mãos da iniciativa privada, que mais uma vez reforçamos -
oferecem um serviço muita vezes de má-qualidade por um preço vil. Aquele
cidadão que não possui meios para pagá-los fica inteiramente desassistido e
alijado do consumo desses serviços essenciais, antes oferecido e subsidiado
pelo Estado.
O capitalismo em toda sua essência é
uma obra do ser humano, que de fato utiliza-se da natureza para criação de
coisas e assim inserir no mercado para obter nada mais que o lucro. Não importa
se os produtos sejam objetos consumíveis, ou financeiros proveniente do próprio
dinheiro.