sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

O capitalismo nunca foi natural

 

Muitos economistas colocam que o capitalismo é um sistema econômico natural. o que não  é verdade, pois a partir do momento que temos a presença da mão humana na transformação dos recursos da natureza, passa-se a ter uma artificialidade desses recursos. Eles deixam o seu estado natural bruto para obter uma forma consumível, tornam-se mercadorias que atendem as leis da oferta e demanda. Assim, as pessoas pagam um preço para obtê-los.

Este preço varia conforme a oferta e demanda. A exemplo tomemos a indústria extrativista, que retira da natureza diversos minerais, madeira, ou mesmo utilizam-se dos recursos hídricos para gerar energia que movimentam as indústrias, criando mercadorias que atendam as necessidades e desejos de consumo.

Em suma, o capitalismo apropria-se dos recursos naturais no intuito de gerar produtos e ofertá-los no mercado. O consumo torna-se um elemento vital para o desenvolvimento do capitalismo, Do outro lado, temos os trabalhadores que vendem sua força de trabalho em troca de uma quantia de dinheiro para gerar estas mercadorias.

Quantia essa denominada salário, que visa suprir  necessidades básicas. Portanto, Só há valor quando temos trabalho embutido nestes produtos, conforme Marx havia dito.

Esse é o principio dos estudos de Marx, que envolve questões ligadas ao capital e trabalho. Dois elementos geradores da famosa luta de classes colocados nos escritos marxistas. Marx coloca que os meios de produção dominado  pelo detentor do capital ( o capitalista) precisa produzir mercadorias e lançá-las num mercado para que seja consumida.

Assim o capitalista se apropria dos recursos naturais (água, madeira, minérios e outros) para moldá-las em mercadorias que vão até ao consumidor e obviamente feitas pelas mãos de algum trabalhador assalariado. Lógico, um vendedor, aquele que vende sua força de trabalho.    

Para reforçarmos essa maravilhosa prática adotada pelo capitalismo, vamos dizer que trata-se de uma forma de maximizar a produção e para tanto utiliza-se da força de trabalho assalariada, da qual o lucro provém do tempo extra de trabalho realizado. Portanto, é dai que se obtém o famigerado mais-valor ou mais-valia na concepção marxista.

Com advento das tecnologias das máquinas - aqui não distinguiremos se é a vapor ou elétrica -  introduzidas no ambiente fabril, o processo de produção ganhou mais celeridade e consequentemente diminui os custos de fabricação.

Porém, o trabalhador não foi recompensado por esta modernidade, ao passo que as horas de trabalho se manteve as mesmas e com uma produção muito maior, nem mesmo os salários tiveram grandes oscilações positivas. Cabiam aos trabalhadores recorrem aos sindicatos e declarar luta ao patrões, através das greves. Essas horas de trabalho não remuneradas, foi denominada por Marx de mais-valia ou mais-valor, sendo ela o lucro dos donos dos meios de produção. 

Só pra esclarecermos que o fato de não diferenciarmos aqui as máquinas a vapor ou elétricas, assim como os teares manuais por exemplo é porque estamos tratando superficialmente de um período histórico que envolve as primeiras revoluções industriais. Não é nosso intuito neste artigo descrever os pormenores da história. Mas sim focar na questão histórico-econômica e a sua passagem pela contemporaneidade fazendo elo entre a relação oferta-demanda e preços para mostrar víeis do capitalismo na ideia do recorte natural.

Assim descrevemos o princípio do capitalismo produtivo, aquele em que há  criação de mercadorias tangíveis produzidas pelas mãos de um trabalhador.

No entanto, a realidade atual deste século XXI não está mais calcada no processo produtivo das fábricas, muito menos no trabalhador. Portanto, o valor deixou de existir, dado que não se tem mais trabalho embutido pelas mão operarias. O que resta agora é o dinheiro criando mais dinheiro, por meio da magia dos juros. Com isso a mercadoria não tem sua expressão no valor, resta apenas o vazio dotado de desejo que nunca se satisfaz.

Isso que vivemos na contemporaneidade é uma nova forma de capitalismo em crise constante, pautado na financeirização, no modelo de juros e no endeusamento do mercado financeiro, onde as bolsas de valores e futuros são os templos que adoram o Deus dinheiro. As trocas são imagéticas e irreais, apenas números apresentados em tela que na velocidade da luz passa de uma mão para outra.

Nesse capitalismo o dinheiro (equivalente universal de trocas) age como um gerador de mais dinheiro, colocando de lado a relação capital-trabalho. Dessa forma, denominamos o capitalismo improdutivo ou capitalismo financeiro, da qual se cria produtos a partir do próprio capital, através de juros, dividendos, derivativos, ações e títulos.

Essa vertente do capitalismo alija em grande parte o trabalhador de qualquer tipo de reivindicação e coloca abaixo as entidades sindicais que protegem e fazem valer as leis trabalhistas. Todos nós passamos neste novo modelo de capitalismo à condição de investidor e sobrevivemos da via credor-devedor  perante ao mecanismo de taxa de juros e títulos comprados do governo que por sua vez financia a própria indústria financeira.

A visão desse capitalismo ultra-selvagem, gerador de capital fictício (termo utilizado por Marx no livro -  O capital) tem em seu corpo a ideia do liberalismo elevado num grau máximo, sem as amarras do Estado. Pois  nele não cabe a presença do Estado como interventor, ou mesmo, provedor de políticas publicas. Não sobra qualquer espaço para a burocracia Weberiana representante dos serviços públicos dotado de certa qualidade. Tudo agora cabe a iniciativa privada que impõem à população serviços básicos como água.esgoto, iluminação e até mesmo saúde e educação com tarifas elevadas. 

Enfim, a condição precípua em torno desse capitalismo totalmente artificial é que tudo passe a pertencer aos grandes conglomerados e holdings, formados por sociedades anônimas, grupos empresariais que não geram mercadorias, detém apenas marcas e patentes. Mais uma vez, é o dinheiro produzindo dinheiro. O famoso neoliberalismo.

Portanto, podemos dizer que as grandes companhias são apenas marcas, onde investidores aportam seus capitais em busca de maximizá-los e gerar mais capital, sem produzir se quer um alfinete. Até mesmo o governo já aderiu a tal modelo, por meio da criação de títulos públicos para captar empréstimos que pagam juros aos detentores destes títulos, na verdade credores do Estado. Assim, o governo contrai dívidas com grandes empresas e investidores, que podem ser fundos de pensões ou mesmo pessoas físicas.

A financeirização do capitalismo, a partir do fim do século XX, trouxe em si uma série de complicadores, como a quebra da relação oferta e demanda, preços e outros, criando mecanismos artificiais geradores de crises, que colocam em xeque o desenvolvimento de qualquer nação. Tal fato, alarga ainda mais as desigualdades socais, ao passo que as políticas públicas não são mais de domínio do Estado.

Nesse caso, o Estado torna-se uma engrenagem do modelo proposto pelo capital financeiro, deixando de ser o tutor da sociedade por não mais oferecer serviços públicos essenciais, tais como: educação, saúde, políticas de moradias, saneamento, energia elétrica subsidiada e bolsas assistenciais, além de prever direitos a quem necessita. O Neoliberalismo que se instaurou em quase todo o planeta vem com objetivo de enterrar os ideais da social-democracia  e suas políticas públicas de bem-estar social. Por fim ao modelo econômico desenhado pelo Keynesianismo, cujo Estado tem um papel forte nas decisões para debelar a recessão, a inflação e combater o desemprego.

Tudo tende a ser privatizado e entregue para as mãos da iniciativa privada, que mais uma vez reforçamos - oferecem um serviço muita vezes de má-qualidade por um preço vil. Aquele cidadão que não possui meios para pagá-los fica inteiramente desassistido e alijado do consumo desses serviços essenciais, antes oferecido e subsidiado pelo Estado.

O capitalismo em toda sua essência é uma obra do ser humano, que de fato utiliza-se da natureza para criação de coisas e assim inserir no mercado para obter nada mais que o lucro. Não importa se os produtos sejam objetos consumíveis, ou financeiros proveniente do próprio dinheiro. 

Natureza

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